Histórias sobre como aqueles de nós que já estávamos nesses lugares sobreviveram à morte de Franco, há meio século, aparecem todas juntas. Uma espécie de catarse coletiva, em que há pouca anedota. Se você consegue ver, você pinta um retrato da Espanha daquela época, dos seus medos e esperanças, um povo que não merecia nem um ataque à sua democracia nem 40 anos de ditadura. E isso explica em grande parte hoje.
Todos nos lembramos de onde estávamos e do que fizemos. Há alguns meses, meu marido na época foi nomeado diretor do centro de TVET do País Basco, localizado em Bilbao. Alguns dias, um telefonema antecipado equivalia à morte. Ataque ETA, onde, quantos morreram, quem eram eles?. Na madrugada do dia 20 de novembro, às 5 horas, acho que houve outro. “Franco está morto, ligue o rádio” (na época a TV não transmitia à noite). Ele foi o diretor do centro, a voz de muitos outros tempos. Este foi diferente. A agonia do ditador acabou. Reunia-nos todos os dias, no final da jornada de trabalho, no café Lepanto, em Bilbao, com jornalistas mais velhos, conservadores e alguns jovens. Se a condição do paciente melhorasse, eles eram convidados, mas se a condição do paciente piorasse, eles eram orientados a pagar eles próprios. E no fundo, apesar de tudo, existe uma profícua troca de informações e experiências profissionais.