O líder do PP, Alberto Nunez Feijoo, acusou o presidente do governo de “interferir nos trabalhos do Supremo Tribunal” e “violar a independência do poder judicial” por dizer, como disse este fim de semana em entrevista ao jornal EL PAÍS, que o procurador-geral do Estado é “inocente” da acusação de revelar segredos pelos quais está a ser julgado. “Isto nunca aconteceu em 50 anos de democracia”, disse, lembrando que o facto de “o presidente do governo interferir nos assuntos do Supremo Tribunal é um sintoma da falta de qualidade e de ética democrática. Estão acabados e tudo o que podem fazer é lutar diante dos juízes e torpedear as comunidades autónomas”, afirmou.
Além disso, a Associação de Procuradores (AF), que tem maioria nesta disputa, publicou esta segunda-feira um comunicado no qual lamenta as declarações do presidente do Governo, Pedro Sánchez, na sua entrevista ao jornal EL PAÍS, na qual defendeu a inocência do procurador-geral do Estado Álvaro García Ortiz, que está na bancada do Supremo Tribunal sob a acusação de um alegado crime de fuga de segredos.
“A Associação de Procuradores pretende mostrar que as instituições constitucionais devem agir de forma neutra e, portanto, lamenta que o Primeiro-Ministro El País tenha interferido numa função judicial que pertence exclusivamente ao Supremo Tribunal, que deve realizar uma avaliação conscienciosa das provas e depoimentos encontrados nos autos, bem como aqueles realizados durante o processo oral”, afirmaram os procuradores num comunicado.
Assim, acreditam que as palavras de Sánchez visam deslegitimar os tribunais e pressionar juízes e procuradores: “As tentativas de usurpar estas funções não são consistentes com os princípios constitucionais que regem o Estado de direito e pretendem apenas pressionar e deslegitimar os tribunais”, observam. A declaração termina com um alerta de que tanto as instituições como aqueles que as dirigem “devem respeitar-se” e “respeitar os cidadãos perante os quais são responsáveis”.
“Acredito na justiça e acredito que a verdade acabará por prevalecer nestes dois casos. E num caso que agora ocupa as primeiras páginas e o debate esta semana, nomeadamente o julgamento do Procurador-Geral do Estado, porque o governo continua a acreditar na sua inocência, e ainda mais depois de tudo o que viu”, disse Sánchez ao EL PAÍS numa entrevista publicada este domingo.
O julgamento do Procurador-Geral no Supremo Tribunal Federal está a meio caminho. Três das seis reuniões agendadas já aconteceram. Durante estes primeiros três dias, metade das 40 testemunhas citadas prestaram depoimento. Segundo alguns deles, o conteúdo do e-mail, no qual o advogado de Alberto González Amador, sócio da presidente de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, admitia a prática de dois crimes fiscais, já era do conhecimento de vários jornalistas antes mesmo de ser recebido pelo Procurador-Geral, pelo que não foram encontradas provas fiáveis de que tenha sido Álvaro García Ortiz quem o vazou.
As três audiências restantes (próximas terça, quarta e quinta-feira) contarão com depoimentos importantes, incluindo uma alegação investigada pelo procurador-geral marcada para a penúltima audiência. Antes disso, aparecerão mais 20 testemunhas, entre elas o jornalista da Cadena SER que foi o primeiro a fornecer informações sobre o e-mail de 2 de fevereiro, que é um vazamento que está sendo investigado pelo Supremo.