A mineradora global BHP Group foi considerada responsável pelo colapso mortal de uma barragem brasileira em 2015, numa decisão histórica que poderá abrir caminho a um pagamento multimilionário.
O tribunal superior de Londres decidiu na sexta-feira que a BHP foi responsável pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, há 10 anos, que causou o pior desastre ambiental do país.
O colapso libertou toneladas de resíduos tóxicos num grande rio, matando 19 pessoas e devastando aldeias a jusante. A juíza Finola O'Farrell disse que a BHP, com sede na Austrália e também listada na Bolsa de Valores de Londres, foi responsável pelo colapso, apesar de não ser proprietária da barragem na época.
Numa decisão de mais de 200 páginas, ele escreveu que o risco de rompimento da barragem “era previsível” e que havia “sinais óbvios de contração e rejeitos saturados e numerosos incidentes de vazamentos e rachaduras”. Ele acrescentou que “o colapso poderia ter sido evitado”.
A decisão aproxima cerca de 600 mil brasileiros de obter uma compensação de cerca de £ 36 bilhões pelo desastre. A decisão de sexta-feira abordou apenas a responsabilidade legal pelo desastre, enquanto uma segunda fase do julgamento determinará os danos.
A BHP afirmou em comunicado que pretende recorrer da decisão e continuará a defender a ação do grupo britânico.
A mineradora anglo-australiana possui 50% da Samarco, empresa brasileira que opera a mina de minério de ferro onde a barragem de rejeitos rompeu em 5 de novembro de 2015, liberando resíduos de mineração suficientes para encher 13 mil piscinas olímpicas no rio Doce, no sudeste do Brasil.
A lama da barragem destruída destruiu a vila de Bento Rodrigues, no estado de Minas Gerais, e danificou gravemente outras cidades. O desastre também matou 14 toneladas de peixes de água doce e danificou 600 quilômetros (370 milhas) do rio Doce, segundo um estudo da Universidade de Ulster, no Reino Unido. O rio, que os indígenas Krenak adoram como divindade, ainda não se recuperou.
O julgamento, que começou em outubro do ano passado, foi instaurado na Grã-Bretanha porque uma das duas principais entidades legais da BHP estava sediada em Londres na época. Tudo começou poucos dias antes de o governo federal do Brasil chegar a um acordo multimilionário com empresas de mineração.
Pelo acordo, a Samarco, que também é parcialmente controlada pela mineradora brasileira Vale, concordou em pagar 132 bilhões de reais (23 bilhões de dólares) ao longo de 20 anos. Os pagamentos destinavam-se a compensar danos humanos, ambientais e infra-estruturais.
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A BHP disse que a ação legal no Reino Unido era desnecessária porque duplicava questões abrangidas por processos judiciais no Brasil.
A Associated Press contribuiu para este relatório.