dezembro 24, 2025
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Jantar de Natal com os avós, almoço em casa do tio, jantar de Ano Novo em casa com toda a família e petiscos diversos até chegar ao Roscón dos Três Reis Magos… e uma espécie de “open bar” para todos e ainda mais para os mais pequenos. Um cenário semelhante que também se repete em todas as famílias.

O Natal é uma época de encontros, mesas comunitárias e emoções vivas. Mas também tende a se tornar um suporte em que a rotina, os limites e o autocuidado ficam suspensos, um coquetel que muitas vezes termina em ansiedade, culpa e propósito eterno “Começo em janeiro”.

Sonia Lucena, psiconutricionista especializada em saúde e bem-estar holístico, fala sobre como aproveitar as férias sem excessos ou castigos e, principalmente, sobre o exemplo que damos às crianças e adolescentes.

No Natal, tudo parece justificado pela mesma ideia: “quem se importa, é Natal”. Por que essa ideia está tão arraigada em nossas famílias?

Sonya: Porque durante muitos anos consideramos o Natal uma exceção absoluta. Não como um momento especial do dia a dia, mas como um espaço sem regras. O problema é que quando abandonamos completamente o autocuidado, não comemoramos mais, mas simplesmente nos desconectamos do corpo.

Essa desconexão é algo que acaba cobrando seu preço mais tarde?

Exatamente. Quando deixamos de ouvir sinais de fome, saciedade, cansaço ou necessidade de movimento, o corpo reage da melhor maneira possível. Depois vem o sentimento de culpa e a vontade de recuperar o tempo perdido em janeiro, como se a saúde estivesse começando do zero.

Você falou anteriormente sobre a mensagem que as crianças recebem. Estamos realmente conscientes do exemplo que damos?

Muito pouco. Crianças e adolescentes observam como falamos sobre nosso corpo, como nos relacionamos com a comida e como nos tratamos após os excessos. Se nos ouvirem dizer: “Fui longe demais, farei dieta em janeiro”, aprendem que merecemos o castigo de fazer dieta depois de comer demais e que esse é um comportamento apropriado.

Muitas famílias têm medo de voltar das férias com alguns quilos a mais. O medo é justificado?

Em parte sim, mas não pelas características nutricionais. O problema não é o jantar especial, são as semanas de lanches constantes, uma agenda caótica sem exercícios e sem descanso suficiente. Quando mantemos um mínimo de estrutura, o corpo costuma se adaptar melhor do que pensamos.

Como você pode manter essa estrutura sem cair na rigidez?

Compreender que autocuidado não significa controlar-se. Trata-se de manter hábitos básicos: comer com atenção, movimentar-se diariamente, é um ótimo momento para compartilhar o tempo com a família fazendo caminhadas juntos, dormindo o suficiente, por exemplo, e respeitando o tempo corporal. A flexibilidade é compatível com a cautela.

A ansiedade costuma aparecer nessas datas. Por que comemos pior quando estamos mais nervosos ou saciados?

Porque a comida se torna um caminho rápido para o alívio emocional, uma “liberação” de dopamina. Reuniões familiares, obrigações sociais, expectativas, encontros com familiares com quem talvez não nos demos muito bem, ou estar longe de entes queridos… tudo isso cria tensão. Se não diminuirmos o ritmo, acabaremos comendo rápido, sem gostar ou perceber que estamos saciados.

O que as famílias podem fazer para reduzir a ansiedade do Natal?

Tire toda a sua atenção da comida. O Natal não é celebrado apenas à mesa. Caminhar, brincar, conversar ou apenas estar junto também é importante. Quando diversificamos os nossos prazeres, a comida deixa de ser o único refúgio emocional. Deveríamos pensar que o Natal não era originalmente um momento de comer descontrolado, mas sim um momento de reflexão e união, para que possamos potencializar esses benefícios em relação ao comer por comer ou ao beber por beber sem consciência.

O pensamento “começo em janeiro” volta sempre. Por que é tão prejudicial, especialmente para os adolescentes?

Porque mostra que cuidar do corpo é algo que se discute e se adia. Os adolescentes desenvolvem sua identidade e autoestima. Se virem adultos vivendo com excessos e restrições, normalizam atitudes desagradáveis ​​em relação ao corpo.

Então, você não precisa começar nada em janeiro?

Não, a menos que parássemos de cuidar de nós mesmos em dezembro. A saúde não entende datas simbólicas. Ele entende de consistência, continuidade e pequenas decisões tomadas ao longo do tempo, como você vai parar de tomar banho ou escovar os dentes no dia de Natal? Se você não negligencia a higiene pessoal, não deve negligenciar a dieta ou a higiene do sono. Uma coisa é abrir exceção em determinados dias, como véspera de Natal ou Réveillon, mas outra coisa é quando começa o Natal, nossas vidas se transformam em um caos anárquico sem nenhum cuidado.

Muitos pais têm dificuldade em estabelecer limites no Natal por medo de “estragar a magia”.

E, no entanto, naturalmente, estabelecer limites para os seus filhos também é uma forma de cuidar. As palavras “Sinto-me bem como estou” ou “Não preciso mais disso” não destroem o feriado, mas o humanizam. Ensine a seus filhos que ouvir uns aos outros é normal e não estranho. A magia é aproveitar cada momento que passamos juntos sem a necessidade de álcool em excesso ou junk food.

Por fim, que mensagem você gostaria que as famílias levassem neste período de festas?

Que comemorar não significa ficar sobrecarregado, que cuidar de si não significa se punir. E este Natal pode ser um momento para fortalecer uma relação saudável com a comida, o corpo e a paz, em vez de destruí-la.

Referência