dezembro 24, 2025
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Marcar uma consulta para se registar em Madrid tornou-se uma tarefa impossível para muitos cidadãos. Para alguns, o ritual é o mesmo todos os dias: visitar repetidamente o site da Câmara Municipal e atualizar a página sem sucesso em busca de um espaço disponível. O resultado que a pesquisa costuma retornar é sempre o mesmo: “Não foi encontrado espaço livre para o procedimento selecionado”. Felizmente, a única opção que resta é concordar, quase por desespero, com uma reunião em uma área remota e em um horário incompatível com o horário de trabalho. O que deveria ser um procedimento simples na prática transforma-se num labirinto burocrático que afeta completamente o acesso a direitos básicos como saúde, educação ou assistência social.

Blanca, uma jovem de 26 anos, mudou-se em maio e teve que iniciar o processo burocrático habitual. Esta não é a primeira vez que se inscreve em Madrid: já o fez há dois anos e depois tudo correu rápido e sem incidentes. Porém, desta vez a história foi completamente diferente. “Estou tentando desde maio, mas não há espaço”, explica a este jornal. Quando o sistema oferece essa opção, as opções ficam quase inviáveis: “De repente ela marca uma consulta para você no Usuário na quarta-feira, às onze da manhã. Você não pode escolher nada e eu tenho que trabalhar. Além disso, chegar lá significa perder a manhã inteira”.

A falta de alternativas levou Blanca a tentar outros caminhos. Ele compareceu sem hora marcada à prefeitura de Sancinarro, onde seu companheiro conseguiu se inscrever no mesmo dia. No entanto, ela não teve essa oportunidade. “Fui porque precisava atualizar meu prontuário. Tenho asma e não tinha como comprar os remédios que tomo diariamente”, conta. A resposta foi contundente: eles não podiam fazer nada sem hora marcada. Mesmo ligando para 010 não encontrei solução. “Disseram-me que não havia agendamento e que tentava ligar em determinados dias e horários, mas também não funcionou”, diz ele.

A situação agravou-se quando recebeu uma notificação da Câmara Municipal informando-o de que outra pessoa se tinha registado na sua antiga casa e que por isso deveria resolver a sua situação o mais rapidamente possível para evitar problemas com o recenseamento eleitoral. “É uma responsabilidade, mas eles não dão as ferramentas para fazer isso”, diz ele. Blanca também não poderia recorrer à opção de confiar o procedimento a um familiar: seus pais trabalham e não têm tempo para sair pela manhã. “O mais desagradável é chegar aos centros e vê-los quase vazios. Não percebo porque é que não se pode pegar num número e esperar ou gerir neste momento”, lamenta.

Alba, ainda na casa dos vinte anos, teve uma experiência semelhante, embora finalmente tenha conseguido inscrever-se há alguns meses. O processo foi relativamente simples, mas lento, disse ele. “Marcamos consulta para o mês que vem. Se tiver alguma emergência isso é quase impossível”, explica. Como em outros casos, o escritório designado não era o mais próximo de sua residência.

A bagunça burocrática não terminou no registro. Depois de recebê-lo, ele teve que lidar com uma séria confusão com a troca de médico. Ele ligou, mas não atenderam, foi encaminhado de um centro médico para outro e sentiu, como explica, como se estivesse “constantemente andando sem solução”. “No final, fiquei no centro e fiz isso, mas nada foi decidido por mim por telefone”, lembra ele.

Outras pessoas tiveram mais sucesso, como Lydia, que se inscreveu depois de sair do Alcorcón. Ele só teve que esperar um mês. “Marquei uma consulta para 19 de fevereiro e recebi uma consulta para 18 de março. Essa foi a primeira coisa que conseguimos”, diz ele. Embora não tenha precisado trocar de médico, ele confirma que o tempo de espera foi longo, mesmo depois de aceitar a primeira opção oferecida pelo sistema. “Entendo que é uma questão de sorte”, diz ele.

Namoro de negócios

Esta experiência pessoal coincide com o debate político que foi retomado esta semana na Câmara Municipal de Madrid. A representante do Tesouro dos Socialistas, Enma López, comparou a situação a uma militante, garantindo que o registo na cidade se tornou uma verdadeira “missão impossível”. López denunciou ainda a existência de um “mercado ilegal” de namoro, com anúncios nas redes sociais e plataformas de compra e venda que oferecem o procedimento por valores entre 50 e 300 euros. “Este é um processo que aproveita as pessoas mais vulneráveis ​​da população, aquelas que mal podem esperar para mandar os filhos para a escola ou obter ajuda”, criticou.

Como explicou um representante dos socialistas, tem crescido um mercado ilegal de pessoas que vendem reuniões nas redes sociais ou em páginas publicitárias deste procedimento. Para evitar esta e outras violações, o governo municipal comprometeu-se a reforçar os controlos através de “verificações documentais mais rigorosas, verificações cruzadas para detectar duplicações, integração com bases de dados externas como o INE ou o cadastro, e limitar o registo em massa de habitações, a menos que haja provas em contrário”, como detalhou a Delegada de Economia, Inovação e Finanças Engracia Hidalgo na passada terça-feira.

Muitos dos cidadãos que recorrem a este novo mercado fraudulento são estrangeiros que necessitam de provar que residem na capital para obterem autorizações de residência e de trabalho. O desespero leva-os, em muitos casos, a oferecer mais de 100 euros por um documento que comprove a sua inscrição na cidade. Segundo um representante dos socialistas, algumas pessoas que se dedicam a este negócio estão a registar-se em massa: “Há instalações onde vivem mais de 70 pessoas”.

Para o governo municipal, a porta-voz do Tesouro, Engracia Hidalgo, disse que a Câmara Municipal trabalha desde 2019 num plano de modernização do registo, focado na digitalização de procedimentos, no reforço das ferramentas pessoais e tecnológicas e no combate à fraude. Conforme especificado, em 2025 foram emitidos 2,3 milhões de certificados, mais de um milhão com assinatura digital, e processados ​​mais de 18 mil pedidos eletrónicos. “Cada procedimento online libera tempo para melhorar os cuidados pessoais”, disse ele.

Hidalgo também desenvolveu medidas para reforçar os controlos documentais e prevenir o registo irregular em massa, em coordenação com outras administrações e a polícia. Um discurso que não convence a oposição, que aponta que o orçamento destinado à gestão técnica do registo pouco aumenta, e propõe ampliar o quadro de funcionários dos gabinetes da função pública para travar a falta de nomeações e os negócios ilegais.




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