O sistema de contratos da Adifa (Administrador de Infraestrutura Ferroviária) apresenta falhas estruturais que contribuem para a existência de irregularidades nos contratos governamentais.
É o que afirma o relatório da Câmara de Contas relativo ao período 2018-2021, altura em que chefiou a estrutura. Isabel Pardo de Vera e quando José Luís Abalos Ele era o Ministro dos Transportes.
Pardo de Vera, que deixou o cargo de secretário de Estado dos Transportes da Adif, está acusado no Tribunal Nacional de cinco crimes: peculato, suborno, tráfico de influência, conduta evasiva e organização criminosa.
Segundo as investigações da UCO, Pardo de Vera facilitou o pagamento de dois pagamentos ilegais à Adif no valor de mais de 70 milhões de euros, e fê-lo seguindo instruções José Luís Abalos através Koldo Garcia.
A primeira foi atribuída à Acciona no valor de 71,6 milhões de euros para “a implementação do projeto de integração ferroviária em Sant Feliu de Llobregat (Barcelona)”. A proposta foi a nona mais barata, mas ganhou o prêmio.
Outro trabalho foi conquistado pela LIC, Pepe Ruztambém o arguido que recebeu o contrato de obras emergenciais na linha 750 Gijon-Sans Crespo Pravia da rede métrica por 592.053 euros.
Além disso, os agentes encontraram na casa de Pardo de Vera um documento que indicava a compra de cinco milhões de máscaras pela Adif, operação ligada ao Conspiração de Koldo.
O relatório das Contas conclui agora que as especificações contratuais da Adif, pelo menos nesta fase, não garantem a transparência e o controlo efectivo dos processos de contratação, nomeadamente devido à falta de motivação e rastreabilidade das avaliações técnicas.
A autoridade de supervisão explica que na maioria dos dossiês analisados “são incluídos mais aspectos a avaliar do que os previstos no caderno de encargos” e “na avaliação do conteúdo das propostas (…) são utilizados termos com conteúdo semelhante para atribuir uma classificação diferente, o que acaba por desmotivar a atribuição de classificações”.
Ou seja, por um lado, as especificações contratuais não permitem que os licitantes saibam antecipadamente quais aspectos específicos serão avaliados ou quanto peso cada um terá no orçamento final, uma vez que não são ponderados.
Por outro lado, o Tribunal de Contas critica o facto de a empresa ferroviária recorrer habitualmente a critérios técnicos sujeitos a juízo de valor, que Em muitos casos, representam até 57% da pontuação global.o que enfraquece o princípio da transparência.
Além disso, o supervisor destaca a falta de motivação nas avaliações técnicas, que na maioria dos processos analisados se limitam à avaliação final sem explicação ou justificação de como esta foi obtida, o que viola os princípios da transparência e da igualdade de tratamento.
O “não respeito” destes dois princípios de “transparência e igualdade de tratamento”, como explica o Tribunal, “torna difícil estabelecer a margem de apreciação (…) a favor do facto de que em alguns casos arbitrariedade na classificação e que a proposta finalmente selecionada não é a “mais rentável”.
O tribunal garante que isto constitui uma “violação” tanto da Lei dos Contratos do Sector Público como da regulamentação europeia devido à falta de transparência na atribuição de pontuações e à falta de garantias de igualdade de tratamento para todos os proponentes.
Assim, a autoridade de controlo chega à conclusão de que este modelo de caderno de encargos “não permite excluir” a presença de violações nos contratos governamentais.
Denúncias no Canal Ético
Com efeito, foram feitas duas reclamações aos canais de ética da ferrovia em 2022, afetando dois dossiers contratuais de 2021 relativos ao Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência (RTRP).
Alertaram para a possível manipulação das avaliações técnicas e interferências pouco transparentes na avaliação das propostas.
A coerência do conteúdo das propostas e das pontuações atribuídas também foi questionada, e constatou-se que algumas formulações praticamente idênticas nos relatórios técnicos resultaram em pontuações diferentes dependendo dos proponentes.
Neste sentido, alertaram que os resultados de alguns contratos foram “orientado” antes de concluir os processos de avaliação e premiação.
Assim, o Tribunal assegura que o próprio desenho do sistema de contratação não lhe permite verificar com clareza se os fatos relatados no “canal ético” ocorreram ou não.
Embora reconheça que Adif agiu em relação às duas denúncias apresentadas, explica que suas ações “faltaram do rigor que seria exigido”.
“É necessário constatar o descuido com que se confirma a regularidade e a legalidade dos procedimentos de tomada de decisão, apesar das lacunas do caderno de encargos, das irregularidades nos relatórios de avaliação, bem como da desmotivação nos pareceres periciais”, explica.
Nas suas conclusões, o órgão de fiscalização insistiu que a Adif deve reforçar a transparência e a rastreabilidade para garantir a integridade na gestão dos fundos públicos.
O relatório do Tribunal de Contas tem agora maior relevância devido ao momento da sua chegada: os tribunais e a Unidade Central de Operações da Guarda Civil estão a investigar uma alegada conspiração da comissão envolvendo a falsificação de prémios de serviço comunitário.