dezembro 28, 2025
navidad-caracas-U62830426462COG-1024x512@diario_abc.jpg

Cristina Márquez (nome fictício), 65 anos, mora com os três netos em Mesquita, município de Bocono, no estado andino de Trujillo. Ele mostra à ABC sua fina sacola de mercado, na qual levou alguns ingredientes para preparar cerca de dez hallaks, prato típico de Natal. Os venezuelanos embrulham-no em folhas de bananeira para as férias de Natal.

Desta vez o orçamento não foi suficiente para comprar azeitonas, passas e alcaparras. “Tudo ficou mais caro, a carne bovina e suína estão muito caras, então só comprei frango. E meus filhos só me mandaram US$ 200 de dezembro para cobrir todas as despesas. E isso não chega com a inflação que temos”, diz Marques.

Sua mesa ficará meio vazia devido às magras hallacas e à ausência de seus filhos que emigraram para o Equador. Convidou a sua vizinha Carmela para o jantar de Natal, com quem fala sobre o progresso do destacamento militar do governo de Donald Trump nas Caraíbas e como o regime de Nicolás Maduro está a lidar com a crise. Mas “o que mais nos preocupa é o agravamento da economia, o regresso da hiperinflação de 2018, quando subiu para 130.000%, e a escassez de gasolina”.

O bloqueio petrolífero ditado por Trump começa a afetar os venezuelanos que vivem na província. Nas estradas internas é preciso ficar em longas filas por várias horas para comprar combustível. Poucos moradores de Caracas se aventuraram no interior nesta época de Natal por medo de ficar sem gasolina.

As ruas de Bocono, famosa pelo seu café fino e pelo jardim da Venezuela, estão cheias de pessoas que entram nas lojas e saem de mãos vazias. Ricardo, 45 anos, um comerciante espalhafatoso que não quis dar o seu apelido ao ABC, explica a crise desta forma: “Fechei o meu negócio de frutas e legumes há um mês porque se vende muito pouco, os venezuelanos não têm poder de compra e o governo está a sufocar-nos com impostos”.

O sindicato empresarial alertou que 55% da estrutura de custos vai para impostos, 25% para salários de funcionários e o restante para transportes e outras despesas.

Trump e Maduro

“Este Natal parece triste e solitário. Em Caracas não se sente tão deprimido como aqui no interior do país. As mesas estão vazias e o que se fala em sussurros é uma questão política. “Trump e Maduro nos deixaram loucos e paralisados”, diz ele.

Ricardo É um comerciante da oposição que avisa: “Se não houver uma mudança de regime em breve e Maduro continuar, vou emigrar para Itália. Já tenho a minha mala e os documentos prontos para partir. Não posso esperar mais pelo que vai acontecer, não sabemos quando nem como”.

Referência