dezembro 28, 2025
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O concerto de Jacuna na Puerta del Sol, no dia 22 de dezembro, no qual Alberto Nunez Feijoo e Isabel Díaz Ayuso dançam na primeira fila como dois adolescentes intoxicados por uma fé renovada, é um exemplo perfeito do que Dorothea Sölle chamou de “Cristofascismo”. Sölle, teóloga luterana, pacifista, feminista e poetisa, inventou este neologismo para descrever a aliança entre o fundamentalismo cristão e o poder político e económico. O “cristofascismo” despolitiza a mensagem cristã para encorajar a obediência em massa, deslegitimar o protesto civil e marginalizar as minorias. Esta manobra representa uma perversão obscena do ideal igualitário de Jesus de Nazaré, que usou a famosa metáfora do camelo e do fundo da agulha para denunciar a opressão sofrida pelo povo trabalhador judeu sob o jugo de Roma e do seu principal facilitador, o Sinédrio.

Ao que tudo indica, Hakuna é um inócuo grupo pop cristão fundado em 2013 pelo ex-padre do Opus Dei José Pedro Manglano. As origens deste grupo musical só podem inspirar descrença, pois o Opus Dei, como testemunham inúmeros antigos numeradores, supranumerários, adidos ou numeradores auxiliares, sempre funcionou como uma seita, caracterizada pelo secretismo e pela hipocrisia. O Minuto Heroico, fantástica minissérie documental de Monica Terribas Sala, mostra como “a obra” explorou, manipulou, maltratou e roubou milhares de pessoas sob o pretexto de que apenas as ajudava a seguir o caminho da santidade. Quase ninguém ignora as ligações de José María Escriva de Balaguer à ditadura do general Franco. “São Josemaria” alimentou o conceito tridentino do catolicismo com frases como “Bem-aventurada a dor, amado é a dor, santo é a dor, glorificado é a dor”, palavras que ele sussurrou aos moribundos, explicando-lhes que o seu sofrimento era um tesouro espiritual, pois os aproximava do martírio de Jesus na cruz.

Referência