dezembro 29, 2025
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No outono, quando Remco Evenepoel e Juan Ayuso ganharam as principais manchetes do ciclismo profissional com mudanças de equipe – um assinando com a Red Bull-Bora, outro com o Lidl-Trek – o pelotão feminino testemunhou algo único. A alemã Canyon-Sram, equipa com a qual a polaca Kasia Niewiadoma venceu uma das etapas mais imprevisíveis da história do Tour de France em 2024, juntou à sua subsidiária a alemã Sophie Alisch, que aos 24 anos usará pela primeira vez um colete de competição depois de uma carreira impecável no boxe, onde deixou um recorde de dez vitórias nas suas dez lutas como profissional.

“Sei que muita gente ficará surpreendida com esta mudança, na verdade compreendo, mas é uma decisão que venho pensando há muito tempo”, explica Alish ao EL PAÍS desde a sua residência em Maiorca, onde se estabeleceu há três verões. “Minha cabeça deu um clique enquanto me preparava para minha última luta, em novembro de 2024. Fiquei mais de um ano e meio sem lutar até chegar nesse ponto. Estava apenas treinando e me preparando na sombra. E para alguém como eu, que vive para competir e para competir, que quer demonstrar constantemente pelo que trabalha e o que aprende todos os dias, lidar com essa falta de atividade foi muito difícil.”

Tanto que a motivação que antes o fazia calçar as luvas acabou acabando. “O que eu fazia já não me satisfazia”, admite o berlinense. “O fogo interior que o boxe acendeu em mim se apagou. Já não sentia aquela centelha, aquela felicidade.” Um histórico profissional impecável, sem uma única derrota no ringue, não trouxe nenhum benefício. A lacuna era intransponível. “Eu precisava de algo novo, um desafio que pudesse me inspirar novamente. Um capítulo do boxe acabou para sempre”, finaliza.

No entanto, as ideias não tardaram a surgir. “Há anos ando de bicicleta para trabalhar a resistência, aspecto fundamental para o sucesso nas minhas lutas”, admite. Além disso, quando surgiram as primeiras dúvidas na sua cabeça, ainda não tinha tomado uma decisão, teve uma ideia: porque não fazer um teste de stress e assim testar as reais opções para construir um futuro sobre a bicicleta. “Quando terminei, me disseram que para me dedicar ao boxe eu havia registrado números incríveis”, lembra, sorrindo. “Eles me disseram que se eu trabalhasse duro poderia construir algo ainda melhor, mas minha formação genética era encorajadora.”

Assim, antes mesmo de completar 24 anos, Alish decidiu dar o segundo passo em sua ainda curta carreira esportiva. “Antes de me dedicar ao boxe, já tinha representado a seleção alemã de tênis em vários torneios infantis”, diz ela, apesar de tudo estar convencida de que o ciclismo seria o último esporte ao qual dedicaria seus esforços incansáveis. “Acho que não me enganei. Quando subi na bicicleta, ainda como boxeador, senti uma felicidade difícil de vivenciar em qualquer outro aspecto da minha vida. Foi difícil para mim admitir, até ainda tenho um pouco de resistência, mas tenho que ser sincero: pedalar me deixou mais feliz do que calçar luvas. Por isso sei que essa mudança é permanente. Serei ciclista até o dia em que deixar o esporte profissional.”

No entanto, o percurso será longo, começando por uma adaptação rigorosa a um desporto cujas exigências físicas são muito diferentes das que conheceu até agora. “O boxe é um desporto muito exigente, mas do ponto de vista metabólico baseia-se na actividade anaeróbica. Por outro lado, o ciclismo é principalmente aeróbico”, explica Sebastian Rösler, um treinador e distribuidor alemão em quem Alish e o seu círculo confiam plenamente. “Nosso primeiro grande objetivo é melhorar a oxidação da gordura e desenvolver o motor físico da Sophie, ou seja, seu VO2max (a quantidade máxima de oxigênio que o corpo pode usar por minuto em alta intensidade), para que ela possa lidar com a carga de treinamento exigida pelo físico de um ciclista profissional.”

Assim, acostumado a pesar cerca de 57 quilos na pesagem pré-luta, o berlinense agora terá que parar nos 55 quilos sem perder um pingo de força. “Perder muito peso nesse período de transição vai afetar meu desempenho e não quero me sentir fraca, muito pelo contrário”, alerta. “É muito cedo para dizer que tipo de ciclista Sophie será”, acrescenta Rösler, “mas a sua experiência no ringue permite-me vê-la como uma grande ciclista no pelotão. Depois, quando ela adquirir um pouco mais de experiência, penso que ela pode tornar-se uma grande piloto. velocista

Tudo com um propósito muito claro. “Quero competir nas Olimpíadas de Los Angeles em 2028”, diz aquele que já é ciclista de fato da Canyon-Sram, equipe WorldTour com sede em Leipzig. “No momento estou tomando as medidas certas. Também tenho uma mente muito aberta sobre o que o futuro reserva. Quero vestir uma regata e tentar de tudo até descobrir no que sou realmente boa”, diz ela. “Até agora, minha principal virtude como atleta sempre foi a capacidade de sofrer. Sofrer, sofrer e sofrer, sem perder um pingo de concentração… Algo me diz que essa capacidade não me prejudicará no futuro.”

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