MADRID, 15 de novembro (EUROPE PRESS) –
Neste domingo, os equatorianos irão às urnas para votar num referendo e sondagem popular liderado pelo presidente Daniel Noboa, com o qual procura mudar a estrutura política e constitucional do país latino-americano no interesse de instrumentos de governação mais eficazes, e que inclui o regresso de bases militares estrangeiras ao território, num contexto de insegurança que faz do Equador o país mais violento da região.
Os eleitores – há quase 14 milhões de pessoas nos cadernos eleitorais em 24 províncias onde o voto é obrigatório: maiores de 18 anos e menores de 65 anos – encontrarão quatro perguntas na cédula (três referendos e uma votação popular). Se as propostas forem aprovadas desta forma, as decisões tornam-se vinculativas e vinculativas para o Estado.
A campanha “Sim” é liderada pelo partido governista Acção Democrática Nacional (ADN) do Presidente do país, Daniel Noboa, enquanto a Revolução Civil do Correista (RC), a principal força de oposição, e a Confederação dos Povos Indígenas do Equador (Conaie), juntamente com organizações da sociedade civil e sindicatos, rejeitam estas propostas.
Embora o presidente tenha se mostrado “otimista” quanto ao possível resultado do processo eleitoral, o Correismo denuncia o gasto de milhões de dólares de Noboa num apelo que ele chama de “distração”, sem fornecer soluções. Argumentou ainda que a actual Constituição “garante” e “cria” o Estado de direito que protege as minorias e afirma que o governo pretende privatizar a educação e os cuidados de saúde.
Esta votação ocorre no contexto de uma escalada de violência sem precedentes no Equador, associada ao desenvolvimento do tráfico de drogas e de gangues criminosas. Após a declaração de conflito armado interno e o subsequente estado de emergência em grande parte da área, a designação de grupos criminosos como grupos terroristas não foi suficiente para reduzir as taxas de homicídio.
As operações conjuntas do exército e da polícia no centro da repressão tiveram apenas um sucesso passageiro em 2024, mas o aumento dos assassinatos significa que 2025 foi o ano mais violento da sua história, afectando civis presos entre facções violentas que disputavam o controlo territorial.
BASES MILITARES
A primeira pergunta, assinalada com a Caixa A, pergunta: “Concorda com a revogação da proibição do estabelecimento de bases militares estrangeiras ou instalações estrangeiras para fins militares, e da transferência de bases militares nacionais para forças militares ou de segurança estrangeiras, alterando a Constituição em parte, conforme previsto no Apêndice à pergunta?”
Este anexo afirma que embora “a principal responsabilidade do Estado seja garantir aos seus habitantes o direito a uma cultura de paz, à segurança integral e a viver numa sociedade democrática livre de corrupção”, a situação de segurança “exige a adopção de diferentes estratégias contra diversas formas de crime organizado”.
Envolve o estacionamento de tropas estrangeiras em solo equatoriano com o propósito declarado de combater o crime, mas os opositores da medida dizem que ameaça a soberania do país, promove interesses estrangeiros e não aborda as causas estruturais da violência. Em particular, o governo equatoriano pretende estabelecer duas bases no seu território norte-americano: em Manta e Salinas (oeste), embora também tenha confirmado negociações com o Brasil sobre cooperação em segurança.
Na verdade, a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, visitou o país latino-americano nas últimas semanas e percorreu ambos os lugares com Noboa. Quanto a Manta, abrigou uma base militar dos EUA, posto operacional avançado do Comando Sul, durante dez anos, de 1999 a 2009, quando as autoridades equatorianas assumiram o controle total das instalações militares localizadas na costa do Pacífico.
As bases militares estrangeiras foram proibidas por lei em 2008, sob o mandato de Rafael Correa, mas o Equador ressurgiu agora como um dos principais aliados de Washington na região. Os especialistas observam que a presença dos EUA na altura, relacionada com denúncias de violações dos direitos humanos, não conduziu a resultados decisivos em termos de apreensões de drogas.
ÁREA POLÍTICA: FINANCIAMENTO E REDUÇÃO DE MEMBROS DA ASSEMBLEIA
A segunda questão pergunta: “Concorda com a abolição da obrigação do Estado de afectar recursos do orçamento geral do Estado a organizações políticas que reformam parcialmente a Constituição de acordo com o anexo à questão?”, indicando que deveriam ser financiadas por contribuições dos seus membros e simpatizantes.
A terceira questão pergunta se o eleitor concorda “com a redução do número de membros da assembleia e com a sua eleição de acordo com os seguintes critérios: dez membros da assembleia nacional, um membro da assembleia eleito por cada província, um membro adicional da assembleia provincial por cada 400.000 habitantes de acordo com o último censo nacional”.
Na prática, a remoção do financiamento durante períodos não eleitorais afectará principalmente os partidos mais pequenos que dependem destes recursos para permanecerem activos fora desses períodos de tempo, promovendo assim um espectro político mais pequeno; Entretanto, a redução do número de membros da assembleia concentrará o poder político e limitará a pluralidade de votos no poder legislativo.
REESCREVER A CONSTITUIÇÃO?
A última e quarta pergunta diz: “Você concorda com a convocação e nomeação de uma Assembleia Constituinte, cujos representantes sejam eleitos pelo povo equatoriano (…) para preparar uma nova Constituição da República, que só entrará em vigor se for posteriormente aprovada pelos equatorianos em referendo?”
A convocação da Assembleia Constituinte é o primeiro passo para reescrever a Constituição de 2008. Caso a maioria dos equatorianos vote a favor, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) deverá organizar uma recondução nas assembleias de voto para que os próprios eleitores escolham as pessoas que serão responsáveis pela redação da nova Constituição. Assim que o novo texto for redigido, os cidadãos terão de votar uma terceira vez, desta vez para decidir se aprovam a proposta.
Se o resultado for positivo, será percebido como um incentivo à liderança de Noboa, por isso é entendido como um referendo. Na verdade, a tentativa de revogar algumas das políticas herdadas de Correa, como a proibição de tropas estrangeiras ou a actual Carta Magna, também pode ser entendida como uma sondagem de opinião pública sobre o ex-presidente.
Esta nomeação eleitoral é o décimo quinto processo de democracia direta a nível nacional desde 1978: oito presidentes recorreram a estes mecanismos. O ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) foi o presidente que mais fez ligações, com quatro. Desta vez, esta é a segunda consulta que Noboa convoca desde que chegou ao poder: em Abril de 2024, fez onze perguntas sobre segurança e reformas institucionais, às quais recebeu uma resposta “sim” em nove.