Nos últimos anos, tem havido um debate oculto na sociedade e no seio das Forças de Segurança do Estado e do Corpo de Segurança do Estado sobre a relação entre certas tipologias de crimes e a proporção de cidadãos estrangeiros neles envolvidos.
Um tabu causado pela sombra do racismo ou da xenofobia fez com que nem o Ministério do Interior nem as forças policiais regionais identificadas nos seus relatórios anuais sobre crimes informassem as origens das pessoas que cometem crimes em Espanha.
Esta regra não escrita foi quebrada esta semana. Na quarta-feira, Ertzaintza, seguindo as instruções do Conselheiro de Segurança Bingen Zupiria (PNV), publicou o primeiro relatório estatístico que revela a origem geográfica das pessoas que cometem crimes no País Basco.
Esses dados foram incluídos no balanço da criminalidade referente aos nove meses de 2025.
O relatório surge num momento em que a percepção dos cidadãos sobre a insegurança no País Basco aumentou e é uma questão importante, com cidades como Bilbao já a listando como uma questão prioritária.
Várias posições PNV, como Inigo Ansolao presidente do órgão executivo territorial do partido em Biscaia, apoiou a iniciativa de publicar este tipo de dados, chamando-os de “apropriados”.
A novidade mais significativa é que o relatório indica que 64% das 5.230 pessoas detidas em 2025 eram estrangeiras, em comparação com 36% dos espanhóis.
Em termos absolutos, nos primeiros nove meses deste ano, a polícia basca deteve 3.358 cidadãos de origem estrangeira por crimes.
Nos crimes contra a liberdade sexual, Ertzaintza contabilizou 172 detidos por agressão sexual durante o ano, dos quais 117 eram estrangeiros (49 do Magrebe e 47 da América Latina) e 55 espanhóis.
Na seção de homicídios, 23 estrangeiros representaram 60% do total de presos.
Furtos e roubos também indicam uma presença significativa de estrangeiros. Ertzaintza prendeu 414 pessoas por roubos entre janeiro e setembro, das quais 341 eram estrangeiras, em comparação com 73 espanhóis. Na mesma tipologia, foram inquiridas 5.645 pessoas (2.718 espanhóis e 2.927 estrangeiros).
No total, foram detidas 460 pessoas (317 estrangeiros e 145 espanhóis) e investigadas 917 pessoas (470 estrangeiros e 447 espanhóis) em assaltos violentos – assaltos a casas, empresas ou lojas.
Por origem, a maioria dos nascidos no estrangeiro são do Magreb (251 detidos e 344 sob investigação), seguidos pelos hispânicos.
Em relação ao roubo com violência e intimidação, um dos crimes mais alarmantes, foram registradas 437 prisões em Erzeinz. Destes, 358 são estrangeiros e 79 são espanhóis. 74% são estrangeiros.
Neste capítulo, a maior fonte estrangeira é novamente o Magrebe (293 detidos e 230 investigados), seguido pela América Latina (35 detidos e 47 investigados).
Debate policial
A divulgação desses dados causou polêmica.
A Confederação Espanhola de Polícia (CEP) apoia a nova política de informação e considera-a parte da transparência que a administração deve garantir: “Os dados limpos descrevem simplesmente outra parte do perfil do criminoso”, observa o sindicato.
Acrescentam que a divulgação de informações sobre cidadania não viola direitos como imagem ou privacidade e mantém a presunção de inocência.
“As estatísticas criminais têm uma componente puramente técnica. O facto de cada detenção reportada incluir a nacionalidade do alegado autor do crime não criminaliza ninguém. especialmente quando o governo afirma e defende a falta de causalidade entre ambos os elementos“, acrescentam.
A Upol também aplaude o relatório e considera-o uma conquista nas áreas da transparência, “maturidade institucional” e responsabilização se for compilado com rigor, contexto e respeito pelos direitos fundamentais. “Dados são conhecimento, e conhecimento leva a melhores decisões públicas”, afirma o sindicato.
“Qualquer publicação de dados de segurança deve ser complementada por análises comparativas, contexto social e critérios técnicos claros para garantir que a informação é útil para a sociedade e evita interpretações erradas”, alerta a organização.
A União tem opinião semelhante. Profissional Ertzaintza (SiPE): “Ocultar esta realidade atrás de categorias vagas não contribui nem para a prevenção do crime nem para o debate honesto. “Tudo aponta para uma tentativa de encobrir números que mostram problemas estruturais há anos.”
Relatórios internos
Nos seus discursos públicos, o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, sempre partilhou a relação entre imigração e crime.
” “Os dados oficiais mostram que, num contexto de aumento constante do número de imigrantes nos últimos anos, a taxa de criminalidade comum tem apresentado uma tendência decrescente”, disse esta quarta-feira ao Congresso.
No entanto, como publicou o jornal EL ESPAÑOL, cinco relatórios do Departamento de Segurança Nacional (DSN) elaborados nos últimos seis anos alertam que os processos de imigração em massa podem dar origem a crimes e problemas de segurança.
Estes documentos, baseados em dados do Ministério do Interior, dos Negócios Estrangeiros, da CNI e de outras organizações, destacam a possibilidade de que estruturas ou dinâmicas criminosas importadas da origem sejam replicadas nos países receptores sem criminalizar a migração.
A ligação entre imigração e crime também foi destacada na chamada Estratégia Nacional de Segurança Marítima 2024. Neste relatório alertou sobre a possibilidade de uso por atores estatais ou não estatais”ondas incontroláveis de imigração ilegal“como uma ferramenta dentro de estratégias híbridas,
O objectivo: criar uma vulnerabilidade estratégica em Espanha, referindo-se claramente a Marrocos, que utiliza a imigração como elemento de pressão sobre o nosso país.