“Temos as regras fitossanitárias mais rigorosas do mundo, mas as regras mais rigorosas só são válidas se tivermos controlo suficiente.” Durante uma reunião com jornalistas espanhóis no dia 4 de Novembro, o Comissário Europeu para a Agricultura Christoph Hansenusou esses termos para definir … preocupação, que, segundo ele, existe no seio da Comissão Europeia relativamente ao controlo de qualidade das importações de produtos agroalimentares de países terceiros, que é realizado nas alfândegas europeias.
Caso houvesse alguma dúvida de que a mensagem foi dirigida aos Estados-membros, dado que é a União Europeia quem estabelece as regras e as respetivas forças policiais nacionais que as aplicam, Hansen acrescentou estar ciente de que “em alguns portos” os controlos não são realizados com o zelo suficiente. “E falo diplomaticamente”, disse ele.
O paradoxo desta bofetada na cara dos Estados é que provém da Comissão, que está no centro dos protestos dos agricultores comunitários contra as suas políticas de comércio livre – através de cortes tarifários ou isenções fiscais – e a concorrência desleal que isso acarreta para eles. Embora a UE já seja uma das economias mais abertas do mundo, com mais de 40 acordos assinados com mais de 70 paísesO chefe do executivo, presidido por Ursula von der Leyen, deixou claro que a sua estratégia passa por continuar a abrir espaço comercial. Há um pacto com os países do bloco Mercosul, que pretende ratificar nos próximos meses, ou um acordo promissor com a Índia.
“Temos as regulamentações fitossanitárias mais rígidas do mundo, mas elas são inúteis se não houver controle”
Christoph Hansen
Comissário Europeu para a Agricultura
O facto é que todas as negociações com terceiros conduzidas por Bruxelas têm sido tortuosas, e o melhor exemplo disso é o controverso caso do Mercosul, uma vez que foram necessários vinte anos de discussões – com várias negociações em Bruxelas – antes que ambos os lados conseguissem chegar a um acordo sobre o texto. E ainda não foi ratificado pelas capitais, o que promete ser difícil devido à oposição francesa. Foi para tentar obter uma resposta positiva de Paris que a Comissão acrescentou uma alteração de última hora à redacção para garantir que as disposições de salvaguarda – bloqueando as importações se os preços caíssem na Europa – seriam activadas rapidamente. O objectivo é evitar que se repita o que aconteceu, por exemplo, com o mecanismo de defesa previsto no pacto Camboja-Birmânia ser tão lento e pesado que não conseguiu evitar a invasão do arroz que, como já explicou o ABC, afundou o sector em Espanha.
É por isso A Comissão vangloria-se de que o acordo com o MERCOSUL é qualitativamente superior aos acordos já assinados, uma vez que contêm muitas disposições, artigos e anexos para proteger os agricultores europeus. Contudo, qual é o sentido de introduzir tais normas punitivas se as autoridades nacionais não as aplicam nos portos?
O Comissário Hansen não mencionou nenhum país específico, mas a verdade é que os fabricantes em Espanha já se queixam há algum tempo. Um exemplo paradoxal é o acordo euro-mediterrânico com Marrocos, que estipula que Rabat pode exportar 285 mil toneladas de tomate por ano com isenção de direitos para a Europa, mas apenas se custarem mais de 46 cêntimos por quilograma. Como este jornal já explicou, instituições solventes como a Federação Espanhola de Associações de Produtores de Produtos Hortícolas garantem que estas quotas não são respeitadas, e a prova disso é que em muitos mercados espanhóis o tomate marroquino é vendido por menos de 46 cêntimos o quilo. Segundo a organização agrícola COAG, nos últimos cinco anos Marrocos deixou de pagar 71,7 milhões de euros Tesouros europeus por esta fraude.
Ele diz que precisamos fazer mais monitoramento e alguns portos não, e “estou sendo diplomático”.
Christoph Hansen
Comissário Europeu para a Agricultura
Uma outra face deste problema é a importação de produtos ilegais na Europa, quer pela forma como são produzidos, quer pelas substâncias que contêm. Numa recente carta aberta, o Presidente Asaja: Pedro Barato, Como exemplo, citou a beterraba sacarina proveniente da Ucrânia, que contém neonicotinóides proibidos na UE, ou a carne bovina argentina, que não deveria ser fornecida à Europa se fosse produzida a partir de hormônios de crescimentoNo entanto, recorde-se que as autoridades aduaneiras europeias fiscalizam apenas 0,0082% dos envios que passam pelos seus portos (dados da Comissão), o que, segundo Asay, explica a falta de controlo.
Novas alfândegas para centralizar a ação policial da UE
Em declarações aos jornalistas espanhóis, Hansen mencionou especificamente o caso das importações de carne bovina: “Temos que ser mais eficientes”, disse ele. E em relação ao tomate marroquino, garantiu que Já recebi reclamações em vários países. Seja como for, o que está claro é que Bruxelas quer uma maior supervisão das suas fronteiras, talvez porque isso possa ajudar a aliviar o desconforto rural com as suas políticas comerciais.
Como parte desta estratégia, está a ser implementado um projecto para criar a Autoridade Aduaneira da UE, um órgão que centralizará a gestão da inspecção fronteiriça, incluindo a criação plataforma colaborativa que será usado pela polícia em todos os países para trocar informações. No entanto, há quem em Bruxelas acredite que é necessário ir mais longe e criar um órgão que monitorize especificamente o cumprimento dos acordos comerciais em termos de quantidade e qualidade das importações. A eurodeputada do PP Carmen Crespo, defensora da medida, chama-a de “Escritório Europeu de Importações”.