novembro 16, 2025
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A decisão que os equatorianos tomam hoje num referendo convocado pelo presidente Daniel Noboa está a fazer com que a região espere impacientemente. Uma das quatro questões levantadas diz respeito ao regresso de bases militares estrangeiras ao país. Se aprovado, isso significará a mudança para Geopolítica da América do Sul por ser um ponto estratégico da costa do Pacífico.

Em termos de política interna, chama-se maior atenção a autorização da criação de uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova constituição que substitua a actual aprovada em 2008 no governo de Rafael Correa.

Duas outras questões envolvem a remoção do financiamento para os partidos políticos do orçamento do Estado e a redução do número de deputados de 151 para 73. As duas questões são vistas pelos observadores como “questões abrangentes” para atrair o apoio popular num país que rejeita os partidos políticos e odeia os deputados. Apesar disso, ambos os partidos têm sido criticados por alguns analistas que temem danos à representação democrática.

Daniel Noboa aposta que os 13,9 milhões de equatorianos chamados às urnas responderão “sim” a quatro perguntas, mas ficou claro que o foco da campanha do governo estava na Assembleia Constituinte e na localização de bases militares estrangeiras. O executivo afirma que, se aprovado, fornecerá as ferramentas necessárias para governar este país assolado pela violência desenfreada do crime organizado transnacional ligado ao tráfico de drogas.

Quanto à criação da Assembleia Constituinte, justificou-se pela necessidade de alterar a Carta Magna existente, que é considerada um obstáculo ao investimento estrangeiro, que proíbe o trabalho a tempo parcial e contém fracas garantias contra o crime. O governo de Noboa planeia desenvolver uma nova estrutura política e económica e “reconstruir o Estado equatoriano”. A referida reunião será composta por 80 deputados membros e terá a duração de 180 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 60 dias, para desenvolver um novo texto da Constituição, que será submetido a referendo para aprovação. Pesquisas de opinião divulgadas na semana passada projetavam que um voto “sim” receberia o apoio da maioria.

Quanto à devolução das bases militares, os cidadãos devem manifestar-se pela revogação do artigo 5º da Constituição, que proíbe o estabelecimento de bases militares estrangeiras em território equatoriano. Este artigo foi introduzido na Carta Magna promovida por Rafael Correa (2007–2017). Após aceitação em 2008 e porque o acordo com os Estados Unidos não foi renovado, esse país deixou a base de Manta em 2009. A partir daqui, sob o controle dos militares equatorianos, foram coordenadas as operações de combate ao narcotráfico.

Local de pesquisa

Para os Estados Unidos, o que o povo equatoriano decide hoje é importante num momento de alta tensão na região devido ao envio da Marinha para o Caribe na sua ofensiva contra o narcotráfico. Isto é evidenciado pela presença no Equador da Secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, que visitou o país duas vezes em apenas três meses. Em sua segunda visita na semana passada, ele visitou duas instalações militares (Manta e Salinas) com o Presidente Noboa para encontrar a melhor localização para bases militares onde seu país operaria em conjunto com o Equador.

Para o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubiovisitou o país no dia 4 de setembro, o Equador é um “ponto estratégico” para o combate a crimes como o “narcoterrorismo” e a pesca ilegal. O anúncio foi feito em Quito após uma reunião com o presidente Noboa.

A proximidade política entre Quito e Washington é clara e é conhecida a importância da decisão de domingo no Equador. Na tarde de quinta-feira, 13 de novembro, no final da campanha, a Casa Branca anunciou que o Presidente Donald Trump e seu colega equatoriano Daniel Noboa“Chegaram a um acordo-quadro sobre tarifas recíprocas de 15%, o que pressiona o Equador.” Fontes entrevistadas disseram que a medida é um passo preliminar para reduzir ou eliminar as sobretaxas tarifárias impostas em abril passado sobre alguns produtos exportados para os Estados Unidos.

Campanha atípica

O referendo e a campanha eleitoral popular foram atípicos não só porque foram os mais curtos desde o regresso à democracia em 1979 durando apenas 13 dias mas também porque o maior antagonista do governo Movimento Correista da Revolução Civil, que se opõe frontalmente à criação de bases militares, não mostrou força para empurrar um “Não” à Assembleia Constituinte, por isso ficou nas mãos dos sindicatos, das organizações sociais e do movimento indígena, que vêem na Assembleia Constituinte uma oportunidade para o seu líder regressar à política activa.

Parte do debate pré-eleitoral entre os especialistas foi precisamente o facto de Rafael CorrêaA Assembleia Constituinte poderá ser o único e último recurso que tentará regressar ao país depois de esgotadas todas as vias legais para anular a condenação por suborno agravado que hoje o tornou foragido da justiça, podendo apenas procurar um “acordo” com o movimento oficial da ADN, como consta do Estatuto Daniel Noboa enviado ao Tribunal Constitucional para aprovar a convocatória de eleições, indica que serão necessários dois terços dos 80 membros da assembleia constituinte para aprovar os textos da Constituição, o que exigirá negociações com outra força política que se espera tenha uma representação importante.