“Alburqueque Robles Juan Gabriel, Ochoa Suquilanda Luis Alfonso, Soto Inostrosa Luis Jordi, Sánchez Alava Victor Manuel…” gritou um policial em frente aos portões do centro penitenciário de Machala, cidade costeira do sul do Equador que foi transformada em cemitério. Cada nome pertencia a um dos 27 presos mortos na tarde de domingo, 9 de novembro, em novo massacre no presídio. “Gomez Romero Abel Eduardo…” o agente continuou a ler até que o grito comovente da mulher o interrompeu.
“Deixe-me ouvir!” – Ele exigiu, gritando os nomes de seus parentes em meio à confusão. Um policial leu 27 nomes, correspondentes aos de presos mortos na prisão, que se somaram aos cinco mortos horas antes, na madrugada de domingo, num tiroteio entre presos que também deixou cerca de trinta feridos.
A morte de 27 pessoas está cercada de muitas incógnitas e de silêncio governamental. Os corpos não apresentavam perturbações ou sinais de violência. “Entre eles cometeram asfixia, o que levou à morte imediata por suspensão”, limitou a mensagem a um boletim confuso o Serviço Nacional de Serviços Integrados às Pessoas Privadas de Liberdade, SNAI, responsável pelas prisões. Os presos foram encontrados enforcados nas celas de segurança mínima, média e máxima por volta das seis horas da tarde.
O Ministro do Interior atribuiu o massacre às acções dos grupos criminosos Los Lobos e Sao Box, que alegadamente tentaram recuperar o controlo da prisão. Até agosto do ano passado, o presídio estava sob guarda militar há 19 meses. Em Janeiro de 2024, o Presidente Daniel Noboa assinou um decreto sobre conflitos armados internos, que transferiu o controlo do sistema penitenciário para as Forças Armadas. De acordo com o Observatório de Conflitos do Equador, só a prisão litorânea de Guayaquil foi responsável por 395 mortes de encarcerados entre janeiro e agosto de 2025. Isso representa 81% do total de vítimas dos 15 massacres prisionais ocorridos entre 2021 e 2024.
Embora esta notícia tenha chocado o país, o governo começou a transferir prisioneiros para um novo complexo penitenciário construído na província de Santa Elena, oficialmente denominado Prisão Encuentro. Os traslados foram realizados por via aérea e mediante reserva prévia.
A prisão foi concebida por Noboa como parte de seu projeto de construção de uma prisão no estilo do Centro de Detenção Terrorista (Sekot) que Nayib Bukele construiu em El Salvador, após abandonar sua proposta de campanha para criar prisões flutuantes no Oceano Pacífico. O centro penitenciário possui cinco pavilhões com capacidade para 800 pessoas. O Serviço Integrado de Atendimento Prisional, SNAI, declarou confidencial toda a informação relativa à construção de um novo estabelecimento prisional de segurança máxima. O processo de premiação nem sequer passou por uma competição entre diversas empresas concorrentes para construir o empreendimento.
O governo também não confirmou se a prisão estará totalmente concluída ou quando ficará totalmente operacional. Faltam poucos dias para os equatorianos regressarem às urnas no domingo, 16 de novembro, para votar numa votação popular e num referendo convocados por Noboa, uma nomeação que o presidente pretende levantar a proibição de bases militares estrangeiras e criar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova constituição.