novembro 17, 2025
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O presidente equatoriano, Daniel Noboa, sofreu neste domingo seu primeiro revés em seus dois anos de mandato. O líder conservador apelou a 13,9 milhões de equatorianos para irem às urnas numa consulta que visava, em última análise, uma reforma profunda da Constituição, e a resposta foi surpreendente devido à sua força. Os equatorianos rejeitaram três questões do referendo – que procuravam alterar a Constituição para acomodar bases militares estrangeiras, acabar com o financiamento público dos partidos ou reduzir o número de membros da assembleia – e foram ainda mais firmes na votação popular, que deu carta branca a Noboa para reescrever o novo texto da Constituição, a questão mais decisiva. “Consultamos os equatorianos e eles se manifestaram. Respeitamos a vontade do povo”, sugeriu o presidente em sua conta X após saber dos resultados. Suas futuras ações são incertas.

Os cidadãos ficaram exaustos com estas vozes, a terceira em apenas um ano. E o sétimo em apenas dois. Chegou o dia em que milhares de soldados saíram às ruas, aos bairros e às assembleias de voto. A sombra dos ataques explosivos que abalaram o país nas últimas semanas ficou bem evidente e a enorme operação de segurança transformou as votações numa nova demonstração de poder estatal. Mais de 118 mil policiais e militares foram destacados para vigiar as urnas.

Por volta das 22:00. o resultado foi quase definitivo. Ele não ganhou todas as ofertas. Questão sobre bases militares – 60,6%. A oposição ao fim do financiamento partidário com dinheiro público atingiu 58% e a oposição à redução do número de membros da assembleia atingiu 53,4%. A última e mais importante questão de Noboa, que abriu o processo de fundação, recebeu rejeição máxima com 61,6% de votos contra.

“Este resultado deixa o governo demasiado indiferente. Isto não é de todo o que se esperava.” Segundo Luis Carlos Córdoba, pesquisador do Observatório de Conflitos do Equador, o resultado do referendo expõe um executivo que perdeu o pulso do país e chegou a consultas sem uma direção clara. O analista argumenta que o presidente iniciou um tenso debate político sem detalhar seus objetivos, alimentando a desconfiança dos cidadãos: “Essa ambiguidade foi agravada quando o presidente propôs a convocação de uma Assembleia Constituinte sem detalhar o que pretendia fazer com esse poder emergencial”, afirma. “Quando você não sabe a quem está dando esse poder e o que eles farão com ele.”

Uma das suposições dos analistas é que Noboa cometeu um erro ao ler o testamento do povo. Nas últimas semanas, houve uma manifestação nas ruas a favor da rejeição do referendo que não se via há muitos anos. “Este despertar é uma resposta à viragem autoritária de Noboa, que gerou uma enorme resistência social”, analisa Cordova. E entre os mais mobilizados destacaram-se os indígenas, que constituem quase 8% da população. “Isso não é motivo para comemorar, mas devemos ter tranquilidade sabendo que esta vitória pertence ao povo comum”, disse o líder indígena Leônidas Iza. “Estamos aqui para trabalhar para 18 milhões de cidadãos e para aqueles que não votam em nós, porque aqui devemos deixar o ódio e trabalhar com amor por este país”, disse Luisa Gonzalez, ex-candidata presidencial pela Revolución Ciudadana, o partido do ex-presidente Rafael Correa, autor do último texto constitucional em 2008.

Reescrever a Constituição quase se tornou uma forma de fazer política. Desde 1830, o Equador teve 20 textos constitucionais. Cada presidente tentou criar uma nova Carta Magna que lhe fosse adequada, e o ciclo repete-se com surpreendente regularidade: cada constituição equatoriana durou em média pouco mais de nove anos. A convocação de uma assembleia constituinte não é algo excepcional para um país, mas antes parte de uma prática histórica que os governos têm utilizado para reorganizar o conselho político a seu favor. No caso de Noboa, isto falhou.

O círculo de Noboa evitou interpretar os resultados como um fracasso. “Muitos políticos vão querer assumir a responsabilidade pelo resultado, mas as pessoas falaram. E este governo distingue-se pelo facto de falar diretamente com o povo, sem intermediários”, disse o deputado Andrés Gushmer, do partido Ação Democrática Nacional, o partido de Noboa. “Continuaremos a procurar meios legais para garantir a paz, a segurança e a prosperidade a todos os equatorianos”, acrescentou, seguindo os mesmos princípios do seu chefe.

De qualquer forma, a derrota ainda é significativa porque Noboa mantém uma popularidade constante acima dos 50% e mantém boas relações com o Conselho Eleitoral, o que raramente incomoda o Executivo. Ainda assim, os 13 dias de campanha foram atribulados. O presidente distribuiu ajuda social, apresentou diariamente criminosos capturados, tentou cobrir-se com gestos autoritários e até recebeu a visita da secretária de Segurança dos EUA, Kristi Noem, uma encenação concebida para mostrar o apoio internacional. Tudo isso não foi suficiente para atingir seu objetivo.

Ao meio-dia, Caroline Avila, como muitos analistas do país, não acreditava que fosse possível que o “não” prevalecesse nas quatro questões da consulta. Depois de verificar os resultados com surpresa, Ávila interpreta a “profunda desconfiança na voz presidencial”, que foi causada pela “má gestão e comunicação” do próprio presidente e da sua comitiva durante a campanha eleitoral. O analista disse que Noboa acumulou decisões contraditórias, mensagens confusas e um estilo de liderança que minou a sua credibilidade.

Após a consulta, surgiu uma nova questão que assombra os equatorianos: o que esperar de amanhã? “Deixe o governo governar”, diz o pesquisador Luis Carlos Cordova. “Porque nos últimos dois anos ele vive de uma simulação democrática, representando uma multidão mostrar Meios de comunicação social, mas sem governação baseada em políticas públicas, mesmo em questões de segurança.”