novembro 17, 2025
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O governo equatoriano de direita de Daniel Noboa sofreu um grande revés político neste domingo em um referendo e uma votação popular que rejeitou a reforma da atual constituição do país sul-americano e convocou uma assembleia constituinte para redigir uma nova Carta Magna.

Segundo dados oficiais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador, a opção “Não” dominou quatro perguntas feitas aos equatorianos, três das quais relacionadas ao referendo e uma à votação popular. No seu relatório final no dia da votação, a Presidente da CNE, Diana Atamaint, disse que os resultados cuidadosamente estudados mostraram uma “tendência perceptível” em todas as questões.

O próprio Noboa admitiu a derrota depois das 21h. Este domingo, hora local, através de uma publicação nas redes sociais “O nosso compromisso continua o mesmo; está a intensificar-se. Continuaremos a lutar incansavelmente pelo país que vocês merecem com as ferramentas que temos”, acrescentou na mesma mensagem.

Três questões do referendo levantaram questões sobre a possibilidade de levantar a proibição de bases militares estrangeiras em território equatoriano, eliminar o financiamento público aos partidos políticos e reduzir o número de membros da assembleia nacional (legisladores). A consulta questionou a necessidade de convocar uma assembleia constituinte para redigir uma nova constituição que substitua a atual aprovada durante o governo do esquerdista Rafael Correa (2007-2017).

Com uma votação superior a 90%, no final da noite deste domingo a rejeição das propostas de Noboa ultrapassava os 60% na questão das bases militares estrangeiras e nas consultas sobre a criação de uma nova assembleia constituinte; enquanto em matéria de financiamento dos partidos políticos e de redução do número de membros da assembleia (de 151 para 73 deputados) ascendeu a mais de 50%.

Mais de 13,9 milhões de equatorianos tinham direito de voto. Cerca de 82% destes eleitores exerceram o seu direito de voto, disse o presidente da CNE. No Equador, o voto é obrigatório para maiores de 18 anos e menores de 65 anos.

Bases militares e a nova constituição

A vitória da resposta “não” nas quatro questões é interpretada como uma desaprovação da liderança de Noboa, indo além da opinião dos equatorianos sobre as quatro questões levantadas no referendo e na votação popular.

Questionado sobre isso, Gonzalo Ortiz, cientista político de um jornal equatoriano Primeiras frutasdisse que o presidente cometeu erros estratégicos no processo eleitoral que deveriam forçá-lo a mudar a direção de suas políticas. “Noboa precisa refletir e se dedicar à gestão real em vez de focar nas redes sociais e no TikTok, que não está funcionando para ele”, disse em entrevista ao meio digital.

Na mesma linha, o sociólogo Simon Paciano reconheceu que Noboa arriscou grande parte do seu capital político ao apresentar dois dos seus projetos mais pessoais ao povo equatoriano: abrir o Equador à presença permanente das forças militares dos EUA e redigir uma constituição para substituir a aprovada em 2008. segurança e proteção da assembleia”, disse Paciano, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flaxo), com sede no Equador, à CNN.

O Equador enfrenta uma crise de segurança e violência criminal em grande escala, em resposta à qual Noboa utiliza estratégias repressivas, que, no entanto, considera insuficientes devido às restrições impostas pela Constituição. Tendo governado o país desde 2023, o jovem governante de 37 anos foi reeleito em 2025 para servir como presidente até 2029, período durante o qual propôs mudanças estruturais que exigiam reformas constitucionais.

Além de combater a insegurança, Noboa quer reestruturar as instituições equatorianas para torná-las mais amigáveis ​​ao capital estrangeiro e propícias à criação de empregos.

O presidente chegou forte no dia das eleições, para as quais pesquisas anteriores previam uma vitória “Sim” em pelo menos três das quatro perguntas feitas. A mais polêmica delas foi uma pergunta que perguntava aos equatorianos se eles concordavam em revogar o Artigo 5 da Constituição, que proíbe o estabelecimento de bases militares estrangeiras.

A crença de Noboa na aprovação da proposta foi tanta que ele foi visitado por secretários de estado e de segurança interna dos EUA para promover esforços para estabelecer guarnições militares em Washington em cidades como Manta e Salinas, na costa do Pacífico equatoriano.

Os EUA já estacionaram tropas militares nas Ilhas Galápagos durante a Segunda Guerra Mundial e também na cidade costeira de Manta entre 1999 e 2009. No entanto, a constituição de Correa previa a expulsão de forças estrangeiras.

Não foi à toa que o ex-presidente comemorou apaixonadamente os resultados do referendo e da votação nacional. “A Constituição de Montecristi foi ratificada após 17 anos. Pela primeira vez na história do Equador, a maioria dos cidadãos votou duas vezes a favor da constituição”, escreveu Correa na sua conta X quando os resultados foram conhecidos. “Um grande triunfo para todo o povo. Foi uma campanha completamente civil e sem recursos”, publicou numa outra mensagem na mesma rede social.

A derrota oficial nas eleições populares completou o fracasso da estratégia do governo Noboa, já que, segundo os especialistas, a elaboração de uma nova constituição serviria para incorporar reformas constitucionais, mesmo que fosse rejeitada em referendo.

Vários analistas concordaram que a recusa da maioria às questões era de natureza plebiscitária, indicando a insatisfação da maioria equatoriana com o rumo que o governo Noboa estava tomando. A possibilidade de reabertura às forças armadas dos EUA levantou a questão da soberania territorial do Equador no contexto das discussões em que os EUA estão a aumentar a sua presença nas Caraíbas.

O professor Paciano lembrou que neste domingo foi realizada a décima quinta votação popular na história política do Equador. De todos eles, em nove, os eleitores responderam “sim” ou “não” a todas as perguntas feitas, o que na sua opinião significa que, além de estarem divididos por pontos, os equatorianos votaram em bloco para aprovar ou desaprovar quem fez as perguntas, ou seja, o atual governante, que neste caso foi Daniel Noboa.