Diretor ABC, Juliano Quirosreflectido numa conferência realizada em Badajoz sobre o momento atual que vive a profissão jornalísticamarcado por novas tecnologias e, sobretudo, por um delicado cenário político cada vez mais polarizado e radicalizado. … O relatório, intitulado “Ameaças ao Jornalismo: Notícias Falsas, Inteligência Artificial, Censura e Polarização”, foi organizado pela Academia Médica da Extremadura e pelo Ilustre Colégio Oficial de Médicos da Província de Badajoz.
Quiros iniciou as suas reflexões abordando os fundamentos do jornalismo, que “trata-se de contar o que alguém não quer saber”, porque todo o resto, defende, é “propaganda”: “Quando os jornais estão cheios de coisas que não apresentam risco, não é jornalismo, ou na melhor das hipóteses, é jornalismo marginal”. Como ele argumentou, a base da profissão reside precisamente em “poder irritante” e mantendo “atração natural” profissões como ferramenta de controle e supervisão daqueles que estão no poder.
Foi com este espírito que o diretor do ABC argumentou que em muitos casos a desinformação vem de “várias fontes de poder”geralmente políticos que administram muitos recursos e orçamentos. Ele acredita que esta não é apenas uma ferramenta da imprensa, é uma ferramenta “contra a imprensa”. Para ilustrar isto, deu o exemplo do que aconteceu no ano passado em Valência com a tragédia de Dana: “A grande maioria dos boatos não chegou à mídia”.
Aliás, neste sentido, Quiros também alertou para a crescente polarização social e política, que, segundo ele, “apoia ‘notícias falsas’ e populismo”e ao mesmo tempo “deslegitima a imprensa”. Apesar de décadas de trabalho na comunicação social, o diretor do ABC acredita que quem está no controlo está agora a exercer mais pressão sobre a comunicação social: “As autoridades perseguem cada vez mais a imprensa”.
Ao longo da sua conferência sublinhou a necessidade de os meios de comunicação social não sucumbirem à pressão política cada vez maior: “A imprensa cometeu erros e continuará a cometê-los, mas sempre foram os erros de um jornalista excessivamente complacente são mais graves do que a de um jornalista excessivamente crítico.
Ataque de inteligência artificial
O diretor da ABC admitiu que o advento da Internet “mudou a vida de todos”. Também aos meios de comunicação social, que, sublinhou, “continuam a dominar o espaço de informação na Internet”. O trabalho, explicou ele, mudou “irreparavelmente”. jornais “tiveram que se adaptar” num contexto em que qualquer pessoa “com um telemóvel pode denunciar ou fingir que denuncia”.
No entanto, ele acredita que um dos maiores desafios dos meios de comunicação social, no meio do turbilhão de conteúdos e desinformação, não é tanto dizer às pessoas o que elas não sabem, como no passado, mas sim “dizer às pessoas se o que eles já sabem é verdade ou não” Um jornalista, argumenta ele, deve sempre duvidar. Hoje mais do que nunca. Ele se lembrou de uma frase que ilustrou isso perfeitamente: “Se sua mãe diz que te ama, prove”.
Sobre o rápido desenvolvimento da inteligência artificial, Quiros argumenta que isso não levará ao fim dos empregos: “Um bom trabalho não faz com que isso desapareça.”. Ele acredita que seu surgimento não é apenas prejudicial, mas também uma “virada de jogo” e, portanto, “permitirá que a mídia faça algo diferente”.