Leire Diez disse que não se reconheceu nas gravações fornecidas pelo promotor Stampa. Abalos disse ainda que não se reconheceu nas gravações de “Carlota se rola que te cagas”. Estamos a falar de negar provas que não sejam apenas … fazem com gravações, mas com o que seus olhos veem. Mas nestes casos de entrega, lembro-me sempre do polícia reformado Pedro Milgo no julgamento pelo homicídio de Isabel Carrasco. Que não foi ele. Mostraram para ele uma gravação dele ligando para o 112. Ele contou como aconteceu o crime e descreveu a mulher que atirou. Sua esposa teve que vir confirmar isso. Ela disse “momentiko”, uma palavra que seu marido usa regularmente.
Ao acertar esse prego, a defesa da mãe e da filha o acusou de perjúrio. O promotor lembrou que é normal alguém não se reconhecer na gravação. Eu me ouço, e não é que não me reconheça, mas estou me perguntando quem é essa pessoa com uma voz tão terrível. E mais uma vez concordo com Eduardo Sancho no documentário “Faces da Notícia”. Sancho, que introduziu os primeiros programas de notícias em 1957, disse: “Agora entra qualquer um. Realmente me enoja, como telespectador e como profissional, ouvir vozes. “Alguns deveriam ser excluídos da profissão.”
A voz, embora objetiva, também é percepção. Assim como a própria imagem. Eu me vejo no espelho do elevador de maneira diferente (melhor) do que nas fotos ou na TV. Isso acontece comigo com os quilos e com a idade, assim como com Leire com a voz. Eu não me reconheço. A idade é irreversível, mas a obesidade não. Novos medicamentos para perder peso convencem o cérebro de que comer não é divertido, de acordo com pesquisas. Vou continuar gordo, não quero abrir mão desse prazer. Tanto os quilogramas quanto os anos fazem você se perguntar como chegou aqui. Pareço Dolly Parton quando a senhora do programa de TV perguntou quanto tempo demorou para conseguir seu famoso penteado. “Não sei, nunca estive presente.” Uma coisa é usar peruca e outra é negar que você não é você.