Em questão de duas horas, os manifestantes da chamada marcha da Geração Z derrubaram as enormes cercas metálicas que protegiam o Palácio Nacional. Vídeos que circulam online mostram jovens encapuzados atirando objetos contra policiais e atingindo-os com canos, paus e escudos improvisados. O policial ferido teve que ser resgatado por médicos voluntários enquanto um grupo de manifestantes o perseguia, gritando: “Agarre-o, ele é policial!” Por seu lado, o governo da capital lançou uma “investigação exaustiva” sobre o uso excessivo da força por parte de agentes uniformizados, bem como sobre os ataques a jornalistas. A marcha, que atraiu cerca de 17 mil pessoas ao centro da Cidade do México no sábado, deixou 120 feridos, 100 dos quais eram policiais. Embora a maioria tenha recebido alta no mesmo dia, cinco agentes permanecem internados, informou esta segunda-feira a Secretaria de Segurança Civil (SSC). Todos estão estáveis e fora de perigo.
Os diagnósticos incluem uma maçã do rosto quebrada, um dedo quebrado, uma mandíbula quebrada, uma tíbia e fíbula fraturadas e vários hematomas no corpo e no abdômen que causaram inflamação e pressão nos pulmões. O governo metropolitano esclareceu que as despesas médicas serão cobertas pelo seguro SSC e terão acesso a apoio jurídico e psicológico. A primeira-ministra Clara Brugada disse na segunda-feira que nunca ordenou a repressão do protesto e insistiu que a operação de 800 agentes que escoltaram os manifestantes cumpriu os protocolos de segurança. “Não havia balas de borracha, nem bastões, nem canhões de água, nem outros instrumentos”, disse ele. “Jamais darei ordem para reprimir qualquer expressão ou manifestação pública, digo isso categoricamente.” Explicou ainda que a polícia só dispunha de equipamentos básicos como joelheiras, capacetes e extintores.
Apesar disso, os confrontos ocorridos quando a marcha chegou ao Zócalo causaram alarme. O ministro da Segurança, Pablo Vázquez, disse que foram analisadas imagens e vídeos da operação e que foram identificados 18 “incidentes que potencialmente representam violações do protocolo policial”, incluindo uso excessivo de força e ataques a jornalistas. Sete policiais foram suspensos enquanto a investigação continua.
Por seu lado, a procuradora Berta Maria Alcalde explicou que 29 pessoas foram presentes ao Ministério da Justiça – todos adultos, com exceção de um adolescente – por participarem em ataques a agentes da polícia, roubos e danos materiais, que são considerados crimes civis. Destes, 18 podem enfrentar acusações mais graves de vários crimes, tais como tentativa de homicídio, resistência a cidadãos, roubo e vários graus de lesões corporais. A audiência dos oito detidos acontecerá nesta segunda-feira, no tribunal do Reclusorio Norte, na prefeitura de Gustavo A. Madero. “Foram aplicados protocolos para garantir os direitos dos detidos. Todos passaram por exame médico, tiveram contato com seus familiares e contam com advogado de defesa credenciado”, disse o promotor. Paralelamente, 77 agentes policiais relataram ter agredido os seus agressores e quatro manifestantes apresentaram queixas de ataques cometidos por agentes policiais. O governo metropolitano afirma que irá monitorar todos os casos “até que a polícia esteja em plena saúde” e a violência relatada em ambas as frentes seja esclarecida.
Face ao apelo para uma nova marcha esta quinta-feira no âmbito da celebração da Revolução, tanto o Presidente como o chefe do Governo insistiram que o desfile decorreria normalmente. “Quem convoca uma manifestação pacífica está cometendo um erro… Se quiserem influenciar esta cidade, terão que mudar a sua estratégia”, disse Brugada na terça-feira. Falando no Palácio Nacional, Claudia Sheinbaum condenou a violência registada durante a marcha e repetiu que não considera o movimento genuíno: “Muitos adultos, poucos jovens”, disse ela numa conferência matinal.