novembro 19, 2025
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Jaime de los Santos, historiador, escritor e político, acaba de publicar seu último livro, O Evangelho segundo Caravaggio, no qual nos conduz à vida de um gênio com rigor e paixão, declarando sua luz sem esconder as sombras. Aproveitamos para conversar com ele sobre pecados mortais

-Eu te perdôo seu pecado mortal.

– Raiva. Não importa quanto controle você tenha ao longo dos anos, às vezes o temperamento explosivo pode se transformar em raiva e você precisa controlá-lo. Agora estou trabalhando duro para manter a situação sob controle.

– Pecado controlado não é pecado.

-Estou trabalhando duro nisso.

-Então você não deveria ser preguiçoso.

-Eu não. E eu não tenho gula de jeito nenhum. E a luxúria desapareceu há muitos anos.

-Você não está pecando comigo de jeito nenhum. Isso seria arrogância?

– De jeito nenhum. E olha, eu pareço assim, como se estivesse um pouco acima do peso, mas não sou nada disso.

-Você não está nem um pouco ciumento?

-Nenhum. E não ganancioso. Venho de uma família de classe média, mas tínhamos cinco irmãos, o que tornava nossa família de classe média baixa porque muitos de nós tínhamos que pagar escola, roupas e alimentação. E tendo recebido uma educação semelhante à que nossos pais nos deram, éramos muito felizes, mas às vezes parecia-nos que éramos muito limitados em questões materiais. Não há tempo para ser preguiçoso, ciumento ou ganancioso.

-Podemos ter que atualizar a lista neste momento.

-Talvez sim. Imagino mentir, o que para mim é um dos pecados mais terríveis. Este deve ser o oitavo pecado capital.

-Eu também sinto que ele não é mentiroso de jeito nenhum.

-Nós, pessoas furiosas, não podemos ser mentirosos. Não funciona para nós.

-Ou seja, isso não se deve à gentileza, mas sim à incapacidade.

-Não sei se estou bem ou não, mas sei que quero estar. Se você me perguntasse o que quero ser quando crescer, eu responderia: “Quero ser bom”. Em primeiro lugar.

-Vamos fazer uma coisa: você acrescenta mentiras e eu tiro a gula.

-Vamos, eu concordo. A gula não deve ser considerada pecado.

-E se continuarmos atualizando… qualquer coisa relacionada às redes sociais?

– Outro dia, numa missa em Almudena, o Arcebispo de Madrid falou precisamente sobre isto e disse que não é contra as redes, de forma alguma, mas sim contra a mentira. A mesma coisa acontece comigo.

– Não se trata da ferramenta, mas sim do uso.

-Eu penso que sim. A interligação a que estamos tão expostos hoje ajudou-nos de tantas maneiras que não podemos criminalizar esta ferramenta, mas sim colocar-lhe flanges. Olha, esta é provavelmente uma das minhas palavras favoritas: frênulo.

-Então?

-Estamos num momento em que passamos de tudo que é significativo para o nada. E, de fato, é no cinza que residem todas as possibilidades. É por isso que você precisa reprimir e estabelecer limites.

-Que as paixões humanas não se transformam em pecados.

-Na verdade, nossas principais virtudes podem se tornar nossos principais pecados se ficarem fora de controle. Essa energia, que você tem em abundância, deve ser contida, caso contrário ficará fora de controle. E se é ela quem te domina, e não o contrário, você está perdido. Mas ei, viva a paixão.