novembro 20, 2025
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Ele Cacique Raoni Metuktire, principal e mais reconhecida autoridade da população indígena do Brasil e uma das mais famosas do mundo, é surpreendida pela 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece na cidade de Belém, a primeira na Amazônia, falando para um pequeno público de 60 pessoas e não a convite do Brasil, mas do governo do Panamá, que Ele deu a ele um lugar na Zona Azul centro de decisão de eventos.

O erro do governo brasileiro ficou claro quando o presidente da COP30 e os mais emblemáticos ministros do Meio Ambiente convidaram Raoni para uma reunião privada uma hora antes do evento para registrar que Raoni estava com eles na Zona Azul. O nativo mais respeitado do Brasil é conhecido por suas amizades famosas, como a amizade com o cantor britânico. Picadae pelo fato de ter sido recebido por autoridades de todo o mundo. Em outubro Raoni foi recebido em Londres Rei Carlose deu uma entrevista ao Financial Times.

O protesto simbólico do lendário Raoni chamou a atenção porque há alguns anos, em janeiro de 2023, ele foi convidado a subir a rampa presidencial do Palácio do Planalto de braço dado com o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no dia de sua posse, o que contrasta com a falta de atenção no evento, que o governo brasileiro apontou como a COP com a maior presença indígena da história.

“Os líderes comunitários do cacique Raoni nos procuraram em busca de apoio para podermos sediar o evento aqui na Zona Azul KC. E eu, como chefe da delegação panamenha, e também como vice-presidente da COP, consegui criar este espaço porque acreditamos que as vozes dos povos indígenas precisam ser ouvidas aqui”, explicou à ABC. Juan Carlos Monterrey Gómezum representante da Organização Panamenha para Mudanças Climáticas que solicitou o credenciamento de 30 pessoas da delegação Raoni que não tinham acesso à Zona Azul.

Falta de diálogo

A decepção foi palpável na equipe do líder Mebengokre, também conhecido como Kayapó, natural do estado anfitrião da COP30. “Estamos decepcionados com a falta de diálogo conosco. Era para ser um grande evento do Raoni aqui na COP, com a participação da maior liderança indígena. “Eu deveria fazer um discurso de abertura ou de encerramento, mas nada está planejado”, explicou. Mayalu Kokometi Waura Tshukarramaecoordenador executivo do Instituto Raoni, que também reclamou que não havia espaço na Zona Azul dedicado aos povos indígenas do Brasil.

Aos 93 anos, o cacique tem sido franco em suas críticas, culpando o presidente Lula pela promessa que fez antes do gesto simbólico de acompanhá-lo à sua posse de que “iria demarcar todas as terras (indígenas)”, disse ele em entrevistas recentes, situação que incomodou o governo.

No espaço cedido, o líder Kayapó falou diretamente sobre os desafios que enfrentam: “Quero compartilhar com todas as autoridades presentes que é preciso proteger a selva em prol da verdade”. Ele também questionou se o dinheiro dos fundos climáticos não estava chegando às suas comunidades: “Há muito tempo que sei que muitas autoridades, muitos chefes de estado mandam dinheiro aqui para os povos indígenas, em nome dos povos indígenas, em nome das terras indígenas, mas não chega até nós”, condenou Raoni.

“Há muito tempo que sei que muitas autoridades, muitos chefes de estado mandam dinheiro para cá, para os povos indígenas, em nome dos povos indígenas, em nome das terras indígenas, mas não chega até nós.”

Raoni Metuktire

Líder dos Povos Indígenas do Brasil

Ativista brasileiro Paloma Costa, que ajudou a encontrar as instalações criticou a situação. “Foi um desrespeito o cacique Raoni não estar na abertura”, comentou, embora reconhecesse as dificuldades da ministra do Índio, Sonia Guajajara. “Ela (Sonia Guajajara) lutou muito para que houvesse lugar para os povos indígenas aqui na COP, mas acho que a decisão não é só do ministro. Acho que é uma decisão presidencial”, comentou.

Em resposta à falta de espaço oficial para o líder, o presidente da COP30 enviou nota assinada pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) afirmando que “não teve conhecimento desta informação e não recebeu nenhuma comunicação oficial do Instituto (Raoni) com as críticas citadas”. No entanto, o ministro Guajajara acompanhou Raoni em algumas reuniões na Zona Azul, inclusive com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse a nota.

Crítica calma

O MPI afirmou ter “excelente coordenação para garantir que seja a maior e melhor COP inclusiva dos indígenas” e que credenciou 360 indígenas na Zona Azul, 12% dos cadastrados segundo os próprios Povos Indígenas. Diante das críticas, a ministra Guajajara postou em seu Instagram um vídeo em que é vista com Raoni em reunião, chamando-o de “nossa maior autoridade” e ressaltando diversas vezes que se encontrou com ele na “zona azul”.

Na tentativa de acalmar as críticas sobre a falta de progresso no programa de demarcação de terras indígenas, o governo brasileiro anunciou esta segunda-feira a demarcação de dez territórios, incluindo a região de Tupinamba de Olivença, na Bahia, uma promessa governamental de longa data.

O anúncio, que foi bem recebido pelos povos indígenas, aumentou para 26 o número de demarcações do terceiro mandato de Lula, enquanto o Acordo dos Povos Indígenas (APIB) afirma que há mais de uma centena de territórios que já podem ser assinados pelo presidente. Com um pequeno e pacífico protesto, o antigo líder Kayapó conseguiu mais uma nova demarcação e vitória para a população indígena brasileira na Amazônia.