Na minha opinião, o Paqui é um lanche fundamental da turma da Peugeot. Nem para um papel intelectual importante, nem para uma função logística, nem mesmo simplesmente instrumental; por um trabalho simbólico imperdoável e importante: as matilhas são costumes nacionais selvagens, folclore tradicional, … simbolismo etnográfico. Esta farsa carecia da marca espanhola e merecia ser representada na caneta da comédia. Entre tantas Jéssicas e tantas Cláudias, tantos Andreas e tantas Nicoles, precisava de um Paki de traços fortes (Amparo ou Maricarmen também me serviriam, mas Paki seria melhor), de ancas largas, que todos os vendedores do El Corte Inglés conhecem.
La Paki – cabeleireiro uma vez por semana (corte e marcação), café com leite e muffin (sem bolo, sem muffin) a meio da manhã num bar normal, jantar num bom restaurante à sexta, sábado a sábado, as melhores ofertas no centro comercial, cheiro a guisado no patamar. Área luxuosa. “Carlota vai ficar louca com isso”, diz Abalos, mas tenho certeza que Paki está esperando por seu companheiro, e isso não pode ser pago com dinheiro (mas um visto gold nunca é demais). Você já sabe que está chegando pelo som do elevador. Seu pulso para com o som suave de uma chave na fechadura. É por isso que ninguém a supera na proteção do que é dela. O mesmo é exigido pela DPR, aguardicivilada, que confisca o computador da editora que, sem suspeitar de nada, tenta falar com ela, uma versão muito livre e de autor de puxar o cabelo e coçar a cara, a briga de menina de uma vida, porque é minha e eu nem olho para ela. Paki não tem com o que se preocupar, ela tem impulso ibérico. E se precisar dar uma festa (lanchonete) para comemorar a inauguração de um novo apartamento, você dá e não respira miséria. Muita gente (que tem inveja, digam-lhe amanhã) e que come e bebe como se uma avó galega cozinhasse. Visite o primeiro andar do El Corte Inglés até a carta tremer, até o seu nome ser chamado, até ser bajulada como se Serrano fosse Rodeo Drive e Cerdan o seu Richard Gere. E a cabeleireira deve voltar para casa naquele dia e fazer a maquiagem (por dinheiro?). Que senhora, Packie, que ícone. Uma bolsa tão grande, um broche de casaco, esse verniz, esses pratos, uma toalha de mesa de oleado, esses croquetes preparados. “Ariatna”, claro, cheira a perfume francês, mas “Paki” é água de lavanda em um recipiente reutilizável de litro.
Gosto da Paki, não sei se disse isso, porque ela humaniza tudo em seu caminho (imagino como ela quer rir, mas seus olhos estão escuros de tanto sofrimento) nesse retrato sombrio da época que estão nos deixando. Nem precisa de uma viagem a Marrocos ou de um emprego na Adif, está satisfeito com a sua pensão de invalidez e com a conta no El Corte Inglés. Que ícone, Paki, que dístico tem.