O Supremo Tribunal de Madrid ordenou à comunidade, presidida por Isabel Díaz Ayuso, que fornecesse registos de inspeções realizadas pela polícia local em lares de idosos da região durante a Covid. São mais de 200 relatos em primeira mão dos piores dias da pandemia, de março a agosto de 2020, quando milhares de moradores morreram por falta de atendimento hospitalar. Os acontecimentos estão sendo investigados por diversos tribunais.
Para além da tragédia delineada nos documentos, a decisão do reitor representa um incentivo à transparência governamental. Este princípio essencial da democracia, exigido pela regulamentação governamental em 2013, foi desenvolvido pela Comunidade de Madrid numa lei aprovada pela assembleia regional em 2019, quatro meses antes de Ayuso se tornar presidente e substituir o seu colega de partido Angel Garrido. Tendo alcançado a maioria absoluta durante o seu segundo mandato, a líder popular introduziu uma reforma através da qual ligou o Conselho de Transparência ao governo regional, que desde então nomeou o seu presidente e membro único. Até então, era um órgão independente da Assembleia, onde as formações acordavam os nomes dos seus três então membros.
Foi o Conselho, antes da reforma, que obrigou o executivo regional a fornecer relatórios de fiscalização a um antigo deputado socialista, que os solicitou à administração, que não os quis fornecer. O Poder Executivo recorreu da decisão do órgão de transparência na Justiça. Num engano inexplicável, se não numa determinação de legalizar a vida política, e apesar das tentativas de impedir a publicação de documentos nos tribunais, o governo de Ayuso afirma agora que permitirá o acesso aos mesmos durante algum tempo, mantendo ao mesmo tempo abertos os processos judiciais. Mas a transparência não é um presente dos governantes, mas um direito dos cidadãos. E a Câmara Contencioso-Administrativa do Tribunal de Madrid foi rigorosa ao eliminar nas manobras de decisão com a ajuda das quais a administração tentava fugir à aplicação da lei. E faz isso rejeitando argumentos evasivos como o de que a documentação do caso é muito volumosa ou de que existe o dever de anonimizar os documentos.
Somente a transparência garante o controle sobre as ações dos governantes. A expansão dos seus mecanismos fortalece a democracia. Por outro lado, negar a independência dos seus órgãos de garantia – tornando-os dependentes dos próprios governos que deveriam controlar – mina os fundamentos do sistema. A frase do abade é um lembrete que não deve ser desnecessário para nenhum governante.