novembro 15, 2025
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Rafael Zornosa sai. Com efeito, o mandato do Bispo de Cádiz e Ceuta foi prorrogado por um ano e meio depois de ter completado 75 anos, em 31 de julho de 2024, e ter apresentado a sua renúncia obrigatória à Santa Sé. Uma renúncia que não foi aceite na altura, para desgosto de grande parte dos responsáveis ​​da Igreja espanhola, especialmente depois de se saber que o Vaticano tinha ordenado uma investigação canónica antes de decidir iniciar um processo contra o prelado, na sequência de uma denúncia de maus-tratos por parte de uma vítima de acontecimentos ocorridos há três décadas, quando Zornoza era reitor do Seminário de Getafe.

“Não é a mesma coisa que sejam feitas acusações contra um bispo emérito e contra um prelado praticante”, observam vários prelados ao elDiario.es. Os especialistas da Canon dizem que “não explicam” por que não foram tomadas medidas cautelares contra Zornoza quatro meses depois de a denúncia ter sido recebida pelo Dicastério para a Doutrina da Fé. Parece que as coisas podem mudar nas próximas semanas. Segundo apurou o jornal, a substituição do bispo de Cádiz e Ceuta poderá acontecer num futuro próximo. Ainda antes do Natal está prevista a chegada do novo núncio à Espanha, Piero Pioppo. As mentiras da Igreja falam do bispo Guadix Francisco Jesús Orozco como substituto do prelado condenado.

Seja como for, segundo os especialistas, quaisquer medidas tomadas após a divulgação do escândalo são “tarde demais”. E assim que Roma recebeu a denúncia (a vítima não confiava em nenhum dos órgãos que governavam as dioceses nem na própria conferência episcopal), foi activado um procedimento que deveria ter levado o Arcebispo de Sevilha (sendo a Diocese de Cádiz sufragânea de Sevilha) a iniciar uma investigação. No entanto, José Angel Sais Meneses desistiu do caso e depois transferiu o caso para o Tribunal de la Rota. A Espanha é o único país onde existe um tribunal deste tipo, que depende da nunciatura. É este tribunal que terá agora de aceitar os depoimentos das vítimas e decidir se há motivos para abrir um processo canónico contra o prelado, o primeiro bispo espanhol a ser formalmente acusado de abuso sexual de menores. Além disso, cabe à Rota implementar precauções assim que o assunto se tornar público.

Por enquanto, em vez disso, há silêncio tanto do Vaticano como da diocese de Cádiz, que se limitou a qualificar as alegações como “muito graves e falsas” e dizer que Sornosa está “suspendendo temporariamente o seu programa para apurar os factos e tratar o cancro agressivo que está a contrair”. Uma doença da qual ninguém sabia nada até o El País publicar a denúncia de abusos.

O que diz a Conferência dos Bispos? Oficialmente, silêncio e “respeito” aos procedimentos. Na tarde de segunda-feira, o presidente da CEE, Luis Arguello, considerou a denúncia contra Sornosa “credível”, embora tenha solicitado que fosse respeitada a presunção de inocência dos acusados. “O facto de a Santa Sé ter iniciado uma investigação dá credibilidade à acusação”, sublinhou o Arcebispo de Valladolid, que pediu para “aproximar-se da dor de uma possível vítima e da dor de um bispo que poderia ser falsamente acusado”. Argüello apontou a possibilidade de Roma aceitar em breve a sua renúncia: “As possibilidades são grandes, mas não depende de mim ou da Conferência”.

Por sua vez, o vice-presidente do episcopado, José Cobo, manifestou terça-feira a sua “confiança” de que o Tribunal de la Rota “tomará uma decisão com a celeridade que a investigação exige”. Cobo assegurou que o facto de o Vaticano ter decidido investigar Zornoza pelo alegado crime de abuso sexual de um menor quando era sacerdote em Getafe na década de 1990 é porque “deve haver credibilidade” e está convencido de que a investigação será “muito abrangente e muito eficaz”.

Que crimes Zornoza pode enfrentar? Além do alegado abuso sexual, a denúncia também alega o abuso do sacramento da confissão, bem como um exemplo claro de “abuso espiritual”, que elDiario.es anunciou que o Papa quer punir como crime no Código de Direito Canônico. Punições que podem levar à perda do estatuto sacerdotal e até, nos casos mais extremos, à excomunhão.

Novo sistema de compensação de vítimas

No meio deste novo escândalo, o Ministro Presidencial Félix Bolaños, durante uma reunião que manteve com 22 representantes de associações de vítimas de pedofilia clerical, prometeu na terça-feira às associações de vítimas de pedofilia clerical criar um sistema misto Igreja-Estado com a participação das vítimas e reparações reembolsadas pela Igreja.

A reunião, que ambos os lados descrevem como “produtiva e credível”, ocorre depois de o governo e a Igreja terem iniciado negociações para encontrar respostas para um sistema abrangente de reparações. Durante a reunião, foi explicada às vítimas a proposta, que cumpre as recomendações do Provedor de Justiça, que terá um papel decisivo no procedimento, tendo a palavra final. Isto é: um sistema misto Igreja-Estado, em que é a Igreja quem paga as reparações, em que as vítimas participam com voz e voz, e em que o Estado é o garante do cumprimento.

Durante a reunião, o Ministro Bolaños reafirmou o compromisso do governo com os sobreviventes da pedofilia de “continuar o diálogo com a Igreja Católica”, a fim de “alcançar acordos que atendam às suas demandas históricas” e mantê-los informados sobre qualquer progresso que esteja sendo feito. Por sua vez, as vítimas (22 pessoas no total) exigiram do Ministro uma resposta oficial urgente e final para os sobreviventes. “O governo continua empenhado. O plano de Priva continua a falhar”, disseram alguns. “Nós, as vítimas, não podemos mais tolerar isto”, sublinharam.

Todas as informações no site www.religiondigital.org.