novembro 28, 2025
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Na Colômbia, as crianças não estão seguras na escola. Desde 2017, os ataques a ambientes escolares ocorrem, em média, a cada quatro dias. O número, recolhido pelas autoridades de justiça transicional e o mais elevado de toda a América Latina, alerta que as crianças e os adolescentes são obrigados a educar-se entre ameaças, tiroteios e o risco oculto de recrutamento. Tudo isto está a acontecer num em cada quatro municípios do país, que assinou a Declaração sobre Escolas Seguras de 2022, um compromisso político global para proteger as crianças e os seus ambientes escolares dos conflitos armados.

A recente morte de pelo menos sete menores num ataque à bomba contra membros dos dissidentes desaparecidos das FARC em Guaviara chamou mais uma vez a atenção para a vulnerabilidade dos menores na Colômbia, o que, especialmente nas zonas rurais, demonstra o fracasso do Estado em garantir o seu direito à educação, protegendo o seu espaço educativo. Um vídeo compilado pelo Conselho Norueguês para Refugiados (CNR), que mostra várias crianças em uniformes escolares sentadas em fila enquanto a sua respiração difícil se mistura com o som de rajadas de vento ao fundo, demonstra que o recrutamento forçado é apenas um aspecto da situação e que a investigação demonstrou que a prática está intimamente ligada à violência em ambientes educativos.

O que as imagens mostram no nordeste do país repete-se em toda a Colômbia e é um dos mais de 50 incidentes violentos registados pela CRN este ano, com a organização humanitária a registar um aumento de 65% no número de vítimas em comparação com o mesmo período de 2024. O número coloca a Colômbia em quarto lugar a nível mundial e em primeiro no Hemisfério Ocidental, com 363 ataques entre 2022 e 2023. Palestina (1.055), Ucrânia (745) e República Democrática do Congo (448). Um em cada quatro municípios do país sofreu um incidente deste tipo.

No entanto, os ataques à educação vão além da violência armada aberta; As ONGs descobriram que as organizações criminosas também procuram usar classes e classes para influenciar a população. “Vários grupos armados não estatais assumem funções de fornecimento de bens públicos, especialmente no domínio da educação (…) Esta prática não se limita à infraestrutura: inclui também a imposição de conteúdos pedagógicos e instruções de ensino para fins de doutrinação”, explica o relatório do Mecanismo de Monitorização de Riscos da Jurisdição Especial de Paz, um tribunal acordado entre o Estado e as FARC em 2016 para encerrar os casos mais graves dos crimes mais graves. representantes do conflito armado.

Segundo os pesquisadores, os professores tornaram-se alvos porque em muitas regiões assumem liderança social local. Este significado parece inconveniente para organizações criminosas que buscam controle social. Segundo o documento, a Colômbia é o segundo país com maior número de crimes contra professores, com 388 ataques desde que o Acordo de Paz foi assinado há oito anos. As principais formas de agressão são ameaças de morte e assassinatos seletivos, tornando o ensino uma profissão arriscada.

Esforço insuficiente

No papel, o Estado colombiano tomou uma série de medidas para evitar esta violência. A implementação da Declaração sobre Escolas Seguras, liderada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, tem progredido lentamente, devido em parte a uma rotação constante de funcionários.

Daniel Vega Pinzón, funcionário do Departamento de Direitos Humanos e DIH do Ministério das Relações Exteriores, defende os avanços alcançados. “A declaração é chocante em termos de reativação institucional. Foi desenvolvido um plano de ação para 2023 e embora tenha sido um pouco difícil de formular no início, no Itamaraty assumimos a liderança. Desde maio consolidamos a tabela de acompanhamento, e já existem cinco mesas temáticas que trabalham com muitos ministérios”, explica. Destaca etapas importantes, como a incorporação das medidas da Declaração em algumas diretrizes do Departamento de Defesa.

Mas isso, segundo organizações especializadas, não é suficiente. “Pelo menos 1.500 instituições estão em alto risco. Aos poucos conseguimos focar nelas em 12 municípios, mas isso não é suficiente dado o aumento de grupos armados ilegais e ataques”, detalha Felipe Cortes, diretor de advocacy da ONG Save The Children. A ONG pediu ao governo que desenvolvesse uma metodologia de monitorização nacional e alocasse recursos para prevenir e responder aos ataques. Paralelamente, sublinham a necessidade de considerar outros aspectos: reparação e reconstrução. Da mesma forma, Cortés destaca que a impunidade deve acabar. “Juntamente com outras entidades, estamos a participar numa iniciativa legislativa para criar um crime relacionado com ataques a escolas, o que permitirá uma investigação muito mais precisa e detalhada”, afirma.