dezembro 2, 2025
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“Junte-se a mim qualquer dia: vá comprar pão, vá à farmácia, devolva um livro à biblioteca. O que pode dar errado? A lei está do meu lado, certo? Com ​​este convite direto e extremamente simples, José Raúl Pérez Corderoda ASEM Castela-La Mancha quebrou o silêncio da sala plenária do Convento de San Gil de Toledo, sede das Cortes de Castela-Mancha. O que se seguiu foi uma história crua da realidade cotidiana: meios-fios impossíveis, calçadas bloqueadas por luzes de rua, canteiros de obras sem rotas alternativas, portas que não podiam ser abertas, um elevador quebrado durante semanas, uma vaga de estacionamento ocupada por alguém que não deveria. E a dura conclusão: “Qualquer dia para qualquer pessoa com deficiência é assim. “Vivemos num regime difícil.”

Durante as comemorações, foi realizada uma plenária social de Chermi por ocasião do Dia Internacional e Europeu das Pessoas com Deficiência, mas o que ressoou na Câmara não foram batalhas políticas e discursos solenes, mas sim vidas. Vidas que todas as manhãs encontram barreiras que a lei proíbe, mas que a realidade suporta. Vidas que exigem empatia, vontade política e acessibilidade que não ficam no papel.

Nas Cortes de Castela-La Mancha esta segunda-feira falaram de direitos humanos, de não retroceder, da necessidade urgente de uma nova Lei de Acessibilidade. Mas, o mais importante, foi ouvido. Isabel, Beatriz, Luis, Alberto, Alfonso, Francisco, Rocío, Abigail, Maria… e um emocionado Marcelino, que reconheceu o peso simbólico de poder falar “de cima”, a partir de uma plataforma inacessível durante tantos anos: “Isso nos aproxima de sermos pessoas normais”.

A sessão plenária, cujo lema foi “Acessibilidade universal como direito fundamental à inclusão”, reuniu representantes de todos os grupos parlamentares – PSOE, PP e Vox – e foi oradora direta do movimento social das pessoas com deficiência em Castela-La Mancha.

O presidente das Cortes, Pablo Bellido, abriu a reunião declarando que esta sessão plenária pública existia. “tornar visível, dar voz e aprender.” Lembrou os progressos alcançados desde 2019 (facilitação da leitura das leis, renovação do plenário, circuitos magnéticos, adaptação de elevadores, intérpretes de língua gestual), mas admitiu que “ainda há trabalho a fazer”.

Entre as medidas que anunciou estão a legendagem de todas as sessões plenárias para que os surdos que não assinam os documentos também possam acompanhar as atividades parlamentares, e uma maquete tipológica do edifício San Gil em colaboração com o grupo ONCE para que os cegos possam ver e usufruir da sede do parlamento.

Foto de família após a sessão plenária

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Ao longo do evento, as pessoas com deficiência expuseram barreiras que afetam a sua autonomia e participação na sociedade: a incapacidade de compreender o seu médico se não houver suporte de comunicação, falta de legendas no cinema, semáforos cuja cor não conseguem identificar, passeios cheios de obstáculos, transportes inacessíveis, dificuldades de acesso ao trabalho, obras que cortam percursos curtos sem percursos alternativos, ou elevadores públicos que “não funcionam há semanas”. Cada intervenção acrescentou uma peça ao mesmo puzzle: a questão da acessibilidade universal permanece por resolver.

A presidente da Cermi Castilla-La Mancha, Cristina Gómez Palomo, transmitiu uma das mensagens mais duras e aplaudidas: “Não vamos permitir que direitos que custam sangue, suor e lágrimas sejam diluídos como açúcar no café. Não basta que estejam na lei. “Temos que protegê-los todos os dias”. Apelou também a uma Europa com uma “alma mais social” e pediu a Castela-La Mancha que “puxasse o carro” para garantir que a futura Lei da Acessibilidade seja ambiciosa, exigente e vinculativa.

Lei pioneira em desenvolvimento

Comissário de Acessibilidade José Luis Escudero, argumentou que a nova lei regional deveria garantir a igualdade de oportunidades “independentemente de a pessoa viver num ambiente rural ou urbano”, com ou sem restrições temporárias ou permanentes. No mesmo espírito o CEO da Disability Francisco Armenta, b.resumiu a filosofia que norteia o trabalho do Poder Executivo: “Acessibilidade é a condição que permite que outros direitos se tornem realidade”.

Cermi Castilla-La Mancha lembrou que a acessibilidade universal deve deixar de ser uma “promessa diferida” e tornar-se um compromisso de recursos administráveis. E pediu que os fundos europeus condicionem a sua disponibilização ao estrito respeito pelos direitos das pessoas com deficiência.

O evento faz parte do manifesto do Estado de Cermi “40 anos de Espanha na União Europeia: sem a dimensão social não há Europa”. A plenária social deu uma lição clara: enquanto uma pessoa não consegue abrir a porta da biblioteca da cidade, ou vagueia pela estrada porque a calçada está intransitável, ou depende de alguém que a serve da janela porque o seu passo está no caminho, a igualdade é irrealista. A história de José Raul é um passeio pela sua cidade, Puebla de Montalbán, que termina com uma cadeira descarregada, um espaço excessivamente ocupado e um carro que não chega à biblioteca não é um caso isolado: é a experiência diária de milhares de pessoas. Hoje, pelo menos, isso foi ouvido na sede onde as leis são aprovadas.