dezembro 3, 2025
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A família de Alejandro Carranza, um pescador identificado pelo presidente Gustavo Petro como um dos civis mortos nos ataques dos EUA a navios suspeitos de tráfico de drogas no Caribe, apresentou uma queixa formal contra Washington à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Notícias, reportagens da mídia britânica Guardião e confirmada pelo EL PAÍS, representa a primeira reclamação contra uma organização internacional no âmbito da campanha militar lançada por ordem de Donald Trump em setembro e na qual já morreram mais de 80 pessoas.

O documento da petição, a que este jornal teve acesso, contou com o apoio de Daniel Kovalik, advogado de direitos humanos e representante do Presidente Peter em vários assuntos internacionais. No pedido, ele explica brevemente os acontecimentos em que afirma que Carranza morreu: “Em 15 de setembro de 2025, o Exército dos Estados Unidos explodiu o barco de Alejandro Andres Carranza Medina na costa da Colômbia, no qual ele navegava pelo Mar do Caribe. O homem foi trabalhar e não voltou para casa.

A denúncia nomeia especificamente o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, como “responsável por ordenar o bombardeio de navios como o de Alejandro Carranza Medina e matar todos os seus ocupantes”. Segundo a imprensa norte-americana, Hegseth deu ordem para “matar todas” as tripulações dos navios suspeitos, mesmo que a sua alegada ligação com traficantes de droga não tenha sido confirmada. O documento também afirma que Trump “endossou a conduta da secretária Hegseth”.

“Ao cometer esta morte extrajudicial, os Estados Unidos violaram a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem”, afirma a petição, assinada pela esposa de Carranza, Caterina Hernandez Bernal. A família acusa os Estados Unidos de violarem os direitos à vida, à igualdade perante a lei, ao reconhecimento da personalidade jurídica, ao julgamento justo e ao devido processo. Segundo o documento, o assassinato tem uma testemunha: é o líder da associação de pescadores de Santa Marta, que optou por manter seu nome em segredo devido a “ameaças de paramilitares”.

No final de Outubro, Peter disse que o segundo ataque de Washington a um navio nas Caraíbas (15 de Setembro) teve como alvo um pescador colombiano e “acredita-se” que ocorreu em águas nacionais. O presidente colombiano disse então que o homem que identificou como Carranza, de 42 anos, não tinha nada a ver com o tráfico de drogas. Trump, por sua vez, observou que durante essa operação foram mortos três “narcoterroristas venezuelanos” que supostamente “transportavam drogas ilegais para os Estados Unidos”.

A ONU e várias organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, classificaram os atentados contra navios suspeitos de tráfico de drogas como “assassinatos extrajudiciais”. O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, disse que as ações “violaram o direito internacional”. A campanha militar, apelidada de “Lança do Sul”, começou com ataques a navios no Mar das Caraíbas, que mais tarde se espalharam pelo Oceano Pacífico, a rota mais comum do tráfico de droga da América do Sul para a América do Norte. Mais de 80 pessoas morreram e apenas dois sobreviventes foram identificados: um colombiano e um equatoriano que navegavam no suposto submarino de tráfico de drogas quando este foi atacado em 18 de outubro.

A CIDH, com sede em Washington, é um órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA) e tem como função promover e proteger os direitos humanos no continente. Se a organização descobrir que um dos seus 35 Estados-membros é responsável por violações dos direitos humanos, publica um relatório que pode incluir tudo, desde recomendações e reparações até sanções contra os responsáveis ​​e pressão para mudanças legislativas. Se não houver solução amigável, os casos poderão ser remetidos à Corte Interamericana de Direitos Humanos, cujas decisões são vinculativas. Os EUA são um dos países fundadores da OEA.