dezembro 3, 2025
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O espelho no qual somos obrigados a olhar-nos, e que espera a minha geração depois da viagem de trabalho, revela o triste facto de seis em cada dez espanhóis com mais de cinquenta anos não terem poupanças suficientes para se reformarem. As razões são tão distribuídas quanto as cicatrizes que a vida deixou nestes corpos e nestas mentes: salários cronicamente baixos, cadeias de crises, insegurança laboral, interrupções nos cuidados que penalizam sobretudo as mulheres (“enfim, se a creche custa tanto quanto lhe pagam de salário, é melhor deixar de trabalhar”), habitação insaciável que consome rendimentos e promessas implícitas. A ideia de que se você trabalhar honestamente, o país lhe devolverá parte do que você deu.

Não creio que neste caso a frase de que quem não planejou uma vida sempre no limite terá algum papel. Ninguém aqui, quase ninguém, vivia acima de suas posses. E aqueles que fizeram isso não enfrentarão tais problemas em suas poupanças.

A questão da reforma – que deveria ser um lugar de descanso, reparação e liberdade – tornou-se um campo de batalha demográfico, económico e político.. Geracional também. Embora o debate público sobre pensões oscile entre o fatalismo e a tecnocracia, e debata fórmulas, idades e rácios, evitamos abordar o que realmente está em jogo: a dignidade da velhice.

Seis em cada dez espanhóis com mais de cinquenta anos não têm poupanças suficientes para se aposentar

A notícia também revela um tabu nacional sempre irritante: a vulnerabilidade dos idosos. Se quisermos viver no futuro, A conversa não pode ser apenas sobre o tamanho das pensõesmas no tipo de vida que garantimos até que sejam alcançados. Se reconhecermos que a reforma é um luxo, reconhecemos que a dignidade também é um luxo. E os abutres, além da carniça, nunca estão longe do dinheiro…