novembro 15, 2025
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Esta sexta-feira marca o quinquagésimo aniversário dos Acordos Tripartidos de Madrid, ao abrigo dos quais a Espanha entregou o território do Sahara Ocidental a Marrocos e à Mauritânia em 1975. A ONU nunca reconheceu a validade destes acordos e ainda acredita que O Saara é um território que aguarda a descolonização e a Espanha é a autoridade administrativa sobre este território. Todas as resoluções das Nações Unidas afirmam o direito do povo saharaui à autodeterminação e à independência.

Em 1991, graças à ofensiva da Frente Polisário, Marrocos concordou com um acordo de cessar-fogo. A ONU criou uma missão (Minurso) para preparar um referendo sobre a autodeterminação, que nunca aconteceu. E em Novembro de 2020, o conflito armado recomeçou, embora Marrocos tenha mantido silêncio sobre o assunto.

A recente resolução 2797 (2025) do Conselho de Segurança prorroga a missão da Minurso por mais um ano, até 31 de Outubro de 2026, mas marca uma mudança de enfoque: a resolução insta as partes a retomarem as negociações com base na proposta de autonomia proposta por Marrocos, com o objectivo de alcançar uma solução política final e mutuamente aceitável que preveja a autodeterminação do povo do Sahara Ocidental através do referido referendo de autodeterminação.

Não é por acaso que, no mesmo ano de 2025, a Comissão Europeia manifestou a sua disponibilidade para negociar um novo acordo de pesca com Marrocos, apesar de o próprio Tribunal de Justiça da União Europeia ter anulado acordos anteriores sobre a aplicação no território e nas águas do Sahara Ocidental sem o consentimento do povo saharaui. Os interesses económicos no território não se limitam à pesca. O Sahara Ocidental possui as maiores reservas mundiais de fosfatos de alta qualidade (essenciais para a indústria agroalimentar global). Marrocos está a promover projetos de energia solar e eólica no Sahara com o apoio de empresas europeias. O Sahara Ocidental é um elemento-chave do corredor energético Magrebe-Europa. Também foram identificados depósitos de metais de terras raras, lítio e outros minerais estratégicos.

Paradoxalmente, um dos principais problemas do povo saharaui é que o seu território é rico em recursos naturais e ao mesmo tempo tem um elevado valor geoestratégico. Se não fosse esse o caso, o conflito teria sido resolvido por um referendo sobre a autodeterminação planeado pelas Nações Unidas para 1992.

Damião Lopez Lopez. Cañada Rosal (Sevilha)

Presunções

Desde segunda-feira circula informação sobre uma denúncia canônica apresentada contra o bispo de Cádiz por supostos abusos de menores há 35 anos. Isto me lembra muito o que aconteceu com George Pell na Austrália em 2017, um caso que terminou em absolvição.

Isidoro Kobo. Cádis