As luzes de advertência de Vinícius Junior estão piscando?
Além da sua recente demonstração de irritabilidade no Real Madrid, há razões para o receio, expresso pelo importante jornalista brasileiro Marcelo Barreto, de que a estrela esteja a ficar presa numa espiral de “neymarização”?
O técnico brasileiro Carlo Ancelotti não está nervoso. “A vida pessoal dele é sua”, disse o ex-técnico do Real Madrid ao convocar a convocação para os próximos amistosos contra Senegal e Tunísia.
“Não sou pai dele. Não sou irmão dele. Só quero ser seu treinador.”
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O facto de Ancelotti cumprir essa função com a selecção nacional não é apreciado por todos. Na semana passada, a CBF, órgão regulador do Brasil, organizou um evento para treinadores locais, do qual Ancelotti participou. E a sua presença não contribuiu em nada para suavizar o tom de descontentamento da velha guarda. O ex-goleiro e técnico do Brasil Émerson Leão deixou isso claro.
“Sempre disse que não gosto de treinadores estrangeiros no meu país”, disse ele. “E eu não mudei de ideia.”
Mas Ancelotti manteve-se calmo. Os comentários públicos apenas aumentaram sua popularidade no Brasil, impulsionados pelos esforços que ele faz para falar português e pelo respeito cuidadoso que ele presta ao futebol nacional de clubes.
Ele também sabe que, principalmente na seleção brasileira, atua em um negócio voltado para resultados. O sucesso é vencer a Copa do Mundo do próximo ano, e o fracasso é outra coisa; daí a importância do relacionamento contínuo com Vinicius. Sobre o recente incidente no Real Madrid, Ancelotti revelou que conversou com o jogador.
“Vinícius me contou o que achava, que ele havia cometido um erro, e parece que pediu desculpas”, disse. “Então acho que o assunto está resolvido.”
E este incidente específico no Real Madrid não pareceria, à primeira vista, inteiramente relevante para o contexto brasileiro. Porque certamente tem a ver com Kylian Mbappé.
Depois que o Real Madrid perdeu Karim Benzema, Ancelotti respondeu trabalhando duro com Vinicius para atacar o espaço na grande área. O jogador disse que esta foi a melhor temporada da sua carreira, na qual se desenvolveu muito. E pela segunda vez ajudou o Real a conquistar o título da UEFA Champions League.
Aí entra Mbappé. Apesar de todo o conhecimento de Ancelotti, equilibrar a equipa revelou-se mais difícil. E como o recém-chegado também gosta de se deslocar para a esquerda, não foi fácil acomodar Mbappé e Vinícius. Com o regime de Xabi Alonso parecendo colocar Mbappé acima de Vinicius na hierarquia do clube, as sementes do descontentamento foram plantadas.
Obviamente Mbappé não vai jogar pelo Brasil. A mesma batalha de ego não se reproduzirá no actual balneário de Ancelotti. Mesmo assim, o astuto e antigo técnico do Brasil identificou um problema potencial.
Antes das datas FIFA do mês passado, Ancelotti fez uma declaração fascinante. “Todos temos de pensar num objectivo claro”, disse ele, “que é vencer o Campeonato do Mundo e não ser eleito o melhor jogador do mundo”.
Parece haver poucas dúvidas de que isso foi dirigido contra Vinícius. O extremo não reagiu bem ao terminar atrás de Rodri na votação da Bola de Ouro do ano passado, e as consequências prejudicaram a seleção brasileira, então treinada por Dorival Junior.
Custou ao time dois pontos na partida contra a Venezuela. O Brasil ganhou um pênalti e Raphinha havia marcado duas vezes de pênalti na partida anterior e foi o cobrador natural. Mas Dorival iniciou uma campanha em que Vinicius foi vítima de uma injustiça. Um gol fortaleceria a situação, então Vinicius se adiantou e desperdiçou o pênalti. A partida terminou empatada em 1–1.
Ancelotti não cairá nesta armadilha. Ele quer um grupo que persiga a glória coletiva e não a individual, e isso impõe um certo fardo de sacrifício aos seus jogadores de frente. O italiano montará sua equipe em busca de tirar o melhor de Vinícius.
Antes de assumir, Vinícius costumava jogar pela esquerda. Era muito previsível. Quando recebeu a bola, a defesa adversária o esperava. Assim como na temporada de glória no Real Madrid, Ancelotti quer que Vinicius ande por aí, encontrando pequenos espaços mais próximos do gol do adversário. Isso às vezes envolvia o uso de quatro atacantes, com Gabriel Martinelli ou Rodrygo frequentemente usados fora de Vinícius no flanco esquerdo.
O problema óbvio aqui é que o meio-campo carece de cobertura, pois é insuficiente, com apenas Bruno Guimarães e o veterano Casemiro no centro. Existe o perigo inerente de cair na armadilha do último jogo de Dorival Junior no comando, uma derrota desastrosa por 4 a 1 para a Argentina, onde o time se viu sem equilíbrio com quatro atacantes.
Para que o sistema funcione, os jogadores da frente devem estar dispostos a correr atrás e ajudar o meio-campo. Essa nem sempre foi a melhor parte do jogo de Vinicius. Na última Copa do Mundo, ele foi eliminado no início das fatídicas quartas-de-final contra a Croácia, precisamente porque sua pressão e trabalho com a bola foram insuficientes contra um adversário tão hábil na manipulação da posse de bola.
A cutucada suave de Ancelotti claramente funcionou. Imediatamente após o técnico deixar claro que não tinha tempo para caçadores de glória individuais, Vinicius e companhia tiveram um excelente desempenho, encerrando a longa invencibilidade da Coreia do Sul com uma vitória retumbante por 5 a 0.
“Foi um jogo de equipa completo”, disse Ancelotti depois. “Jogamos bem com e sem bola e o esforço foi muito bom.”
Vinícius trabalhou bem, gostou do ataque e foi recompensado com o gol final da derrota.
No entanto, as dúvidas ainda persistiam, especialmente alguns dias depois, quando o Brasil deixou escapar uma vantagem de dois gols e sucumbiu à derrota por 3 a 2 para o Japão. É verdade que Ancelotti fez uma defesa reserva, mas em tese a equipe deveria ter sido mais sólida, com Matheus Cunha no banco e Lucas Paquetá como terceiro homem no meio-campo.
Será que o Brasil realmente conseguirá se manter na frente como um quarteto no calor extremo da Copa do Mundo do ano que vem? É uma pergunta justa.
Durante a Copa América do ano passado, houve uma tendência clara para três jogadores no meio-campo. Há muitas exigências impostas a Casemiro? Uma reminiscência do meio-campista do Manchester United foi a estreia de Ancelotti como técnico do Brasil. Deu estrutura à equipa e deu liberdade ao Guimarães para mostrar algo mais próximo da sua melhor forma.
Mas Casemiro completa 34 anos em fevereiro e tem tendência a pegar cartas. Ele perdeu as quartas de final da Copa do Mundo de 2018 contra a Bélgica devido a suspensão, e no próximo ano essas partidas serão oito anos mais velhas.
O Brasil saiu das datas da FIFA do mês passado sem nenhum substituto claro para Casemiro à vista. Desde então, encontraram um, lembrando Fabinho, ex-meio-campista do Liverpool, que está na Arábia Saudita há dois anos e meio. Inspiração ou desespero? Os próximos dias certamente darão algumas provas, pois se ele não jogar contra o Senegal no sábado, Fabinho certamente verá alguma ação contra a Tunísia na terça-feira seguinte.
Ancelotti, Vinícius, Casemiro, Éder Militão e Rodrygo – mais parece um reencontro do Real Madrid naquele balneário do Brasil. Poderá tudo correr com o mesmo sucesso de quando Don Carlo era o mestre mascador de pastilhas elásticas do Bernabéu?