dezembro 4, 2025
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Há alimentos que fazem sucesso pelo sabor e outros pela versatilidade. E há também o surimi, aquela coisa rosa e branca que aparece em saladas, sushi e palitos de mar, disfarçado de caranguejo ou lagosta, mas na verdade não sendo um deles. Há muito mais na sua história Mais antigo e complexo do que parece: seu aspecto industrial esconde uma antiga tecnologia de preservação, uma composição interessante em termos de proteínas e uma forte dose de polêmica nutricional.

A origem do surimi remonta ao Japão no século XII. Pescadores da costa do Japão descobriram que, ao moer a carne do peixe fresco e enxaguá-la repetidamente em água fria, podem preservar a sua proteína por mais tempo. Essa pasta branca e neutra era usada para fazer bolinhos de peixe ou bolos chamados kamaboko, prato tradicional que ainda faz parte da culinária japonesa.

Esta técnica difundiu-se ao longo do tempo e foi adotada pela indústria alimentar ocidental no final do século XX. Na Espanha, os chamados “palitos de caranguejo” ou “petiscos do mar” tornaram-se populares na década de 90, coincidindo com o aumento da popularidade do sushi e das saladas preparadas. O preço acessível e o sabor suave fizeram do surimi um alimento básico do dia a dia em muitos lares.

O que é realmente surimi?

Apesar da aparência, o surimi não contém carne de caranguejo. É uma pasta feita principalmente a partir de proteínas de peixes brancos como escamudo, pescada ou bacalhau, à qual são adicionados outros ingredientes para dar textura e sabor.

O processo industrial segue um esquema semelhante ao original japonês: a carne é separada do peixe, lavada diversas vezes para retirar gordura, sangue e odor, e obtém-se uma massa rica em proteínas. Esta base é misturada com amido, clara de ovo, óleo vegetal, sal, sorbitol ou açúcar (como conservante) e sabores naturais ou artificiais de frutos do mar. Em seguida, é cozido e colorido para imitar a carne de caranguejo.

O resultado é um produto estável, saboroso e de baixo custo, que combina proteínas marinhas com baixo teor de gordura, mas com um grau de processamento que o diferencia do peixe fresco.

Composição nutricional

Cada 100 gramas de surimi contém entre 90 e 120 calorias, o que o torna um alimento relativamente leve. Seu conteúdo de proteína é de cerca de 10 a 12 gramas por porção, o que é uma quantidade moderada em comparação com o peixe natural (que normalmente tem o dobro da quantidade).

Surimi tem pouca gordura (cerca de 1%) e a maior parte são ácidos graxos insaturados. Também contém pequenas quantidades de minerais como fósforo, potássio e selênio, além de algum cálcio e magnésio. No entanto, o seu perfil nutricional depende muito da marca e do tipo de suplementos utilizados.

Um dos aspectos mais importantes é o teor de sódio, que devido aos processos de conservação pode ultrapassar 500 mg por 100 gramas. Por isso, os nutricionistas recomendam moderar seu consumo para pessoas com hipertensão ou retenção de líquidos.

Comparado ao peixe fresco, o surimi perde alguns de seus nutrientes originais durante a lavagem e o processamento: a quantidade de vitaminas B, ômega-3 e minerais tende a diminuir. Em troca, ganha digestibilidade e prazo de validade.

Vantagens e Limitações

Do ponto de vista prático, o surimi tem vantagens óbvias. É uma fonte de proteína marinha de fácil digestão, económica e disponível durante todo o ano. O seu sabor neutro permite que seja adicionado a saladas, omeletes, sopas ou sushi sem dominar os restantes ingredientes.

Além disso, por ser proveniente de peixes magros de carne branca, fornece proteínas de boa qualidade com poucas calorias. Em dietas de baixas calorias ou para pessoas que têm dificuldade em mastigar ou digerir peixe, pode ser útil.

No entanto, também tem limitações. Por se tratar de um alimento ultraprocessado, o consumo regular não deve substituir o peixe fresco. O excesso de aditivos, amido e sódio afastam-no de uma dieta mediterrânea saudável. Os especialistas aconselham incluí-lo de vez em quando em uma dieta variada.

Do ponto de vista ambiental, a utilização de subprodutos da pesca – resíduos não destinados ao mercado directo – pode ser considerada uma forma de utilização sustentável. No entanto, este benefício depende da origem do peixe e da gestão da pesca.

O mito dos caranguejos

A popularidade do Surimi traz alguma confusão. Muitos consumidores ainda acreditam que os palitos de caranguejo contêm, na verdade, carne de caranguejo. Embora alguns produtos contenham uma pequena porcentagem de extrato ou aromatizante de caranguejo, a maior parte do sabor vem dos temperos e aromas.

Essa combinação de marketing e tradição culinária deu origem ao apelido de “falso caranguejo”, conceito que a indústria abraçou e hoje faz parte de sua identidade. Paradoxalmente, o que começou como uma imitação estabeleceu-se como uma categoria por direito próprio: o surimi já não precisa de justificar a sua autenticidade, mas sim a sua qualidade.

A comunidade científica valoriza o surimi como fonte concentrada de proteína funcional. Na biotecnologia alimentar, sua estrutura é estudada como modelo de gelificação e sua capacidade de preservar proteínas musculares de peixes. Mas do ponto de vista nutricional, o consenso é claro: é um alimento saudável, mas não essencial, e deve ser consumido num contexto equilibrado.

Nos últimos anos, algumas marcas reformularam os seus produtos, reduzindo o sódio e os aditivos e aumentando o teor de peixe. Também tem havido um interesse crescente em versões “limpas” com ingredientes mais naturais, sem açúcar ou sabores artificiais.

Comida que reflete seu tempo

O Surimi não é o vilão nem o herói da comida, mas sim um espelho da nossa relação com a alimentação moderna: prática, processada, global e por vezes sem origem. Representa a tensão entre tradição e indústria, entre conveniência e autenticidade.

Talvez seja por isso que o surimi ocupa um lugar controverso na era da alimentação consciente: ele continua popular por seu sabor e preço acessível, mas mais consumidores querem saber o que está por trás daquela cor rosa choque inspirada em frutos do mar.

Num mundo onde a informação viaja mais rápido que a moda, o verdadeiro desafio do surimi não será parecer um caranguejo, mas demonstrar que pode ser um produto de marisco honesto, equilibrado e sustentável.