A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) alertou a Comissão Europeia para os perigos que o sector enfrenta, observando que apesar de milhares de milhões de euros de investimento por parte da indústria e … com mais de 300 modelos eletrificados em oferta, as metas de emissões de CO2 estabelecidas para 2030 e 2035 já não são realistas.
Num artigo de opinião, Sigrid de Vries, CEO da ACEA, destaca a aposta do setor na eletrificação como motor da mobilidade futura, mas critica a falta de sincronização do ecossistema.
Os representantes da indústria afirmam que os governos não garantiram o investimento necessário na infraestrutura de carregamento ou na melhoria das redes e que os incentivos de mercado têm sido inconsistentes. A chave não é abandonar a electrificação, mas sim adoptar uma abordagem “mais inteligente e pragmática” que se adapte à realidade da diversidade europeia, às necessidades de mobilidade e à competitividade global, disse De Vries.
A associação dos principais fabricantes europeus ACEA apresentou cinco recomendações principais para o Pacote Automóvel da Comissão Europeia, que é esperado para 10 de dezembro e representa uma oportunidade crucial para corrigir o rumo.
Os cinco principais pedidos da indústria sugerem principalmente a necessidade de implementar uma abordagem diferenciada por segmento, com a ACEA a defender a necessidade de uma abordagem de “três faixas” adaptada a automóveis, carrinhas e veículos pesados, à medida que a transição para a eletrificação e a neutralidade líquida de emissões ocorre a ritmos diferentes.
Isto inclui o ajuste das metas de redução de CO2 para os furgões, que são essenciais para as PME, bem como uma revisão acelerada da regulamentação dos veículos pesados (HDV).
Em segundo lugar, a ACEA aposta numa estrutura flexível e tecnologicamente aberta, uma vez que a regulação atual se centra na oferta de veículos novos sem estimular a procura real. O sector exige flexibilidade para evitar milhões de dólares em multas e não excluir tecnologias que podem funcionar com energias renováveis, como os híbridos plug-in (PHEV), os veículos eléctricos de autonomia alargada, os combustíveis sintéticos e o hidrogénio de células de combustível.
Propõe também compensar as emissões residuais, recompensando os fabricantes pela redução das emissões de CO2 na cadeia de abastecimento, por exemplo, através da utilização de aço ou alumínio verdes.
Terceiro, pedem mais procura porque acreditam que as decisões de compra são motivadas pelo preço, custos de energia e conforto. Assim, Sigrid de Vries explica que “a UE e os Estados-membros deveriam dar prioridade aos incentivos fiscais em vez dos mandatos obrigatórios”.
Recomenda-se que as frotas corporativas atuem como impulsionadores da demanda e que as agências governamentais dêem o exemplo em suas licitações. A resolução das lacunas nas infraestruturas de carregamento e reabastecimento que criam uma Europa a três velocidades continua a ser um obstáculo prioritário.
Em quarto lugar, é necessária uma abordagem cautelosa ao “made in Europe”. A indústria automóvel, que cria 2,5 milhões de empregos diretos e representa mais de 7,5% do PIB da UE, já está a investir fortemente na Europa, mas os fabricantes dizem que a cadeia de abastecimento é global e altamente complexa.
O CEO da ACEA afirma que “quaisquer requisitos de conteúdo local devem ser introduzidos gradualmente, com tempo suficiente para implementação e cumprimento das regras comerciais, apoiados por incentivos razoáveis e melhorando os fundamentos da competitividade, como energia acessível e uma mão-de-obra qualificada”.
Por último, é necessária uma simplificação regulamentar. A ACEA apoia a simplificação geral, mas alerta para centenas de peças legislativas planeadas para os próximos cinco anos. Apelam a uma implementação mais faseada da legislação, como o solicitado atraso na introdução de algumas partes do Euro 7, e apoiam um impulso para relançar a produção de veículos pequenos e acessíveis na Europa, onde a flexibilização da regulamentação teria o maior impacto.
O diretor da ACEA conclui que o setor automóvel é uma pedra angular da economia europeia, mas a sua liderança exige mais do que apenas ambição política. O pacote automóvel da Comissão é, portanto, um importante momento de verdade para a UE garantir um futuro competitivo para a indústria.