novembro 15, 2025
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O Vaticano declarou oficialmente que as alegadas aparições de Jesus em Dozul, uma pequena cidade na região norte da Normandia francesa, “não são de origem sobrenatural”, o que significa que para a Igreja carecem de uma base divina e não podem ser consideradas manifestações genuínas de Deus.

O Dicastério para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé que se ocupa da ortodoxia da fé católica, publicou um parecer endossado por um funcionário do Papa Leão.

Esta decisão da Santa Sé põe fim a décadas de polémica em torno da alegada vidente Madeleine Aumont, que na década de 1970 afirmou que Jesus lhe apareceu 49 vezes numa colina perto de Dozoules e pediu a construção de uma enorme cruz neste local que garantiria a remissão dos pecados e a salvação a quem se aproximasse dele.

Aumont, falecida em 2016, era mãe e paroquiana da paróquia local daquela cidade, pertencente à diocese de Bayeux-Lisieux, e entre 1972 e 1978 afirmou que Jesus lhe pediu que ali erigisse a chamada Cruz Gloriosa de Dozule, que deveria ser totalmente iluminada, ter 738 metros de altura e ombros de 123 metros e ser visível a uma distância muito grande, “como sinal do universal redenção.” Esta cruz nunca foi instalada.

Como notam os meios de comunicação do Vaticano, em 1985, o então bispo diocesano Jean-Marie-Clément Badré já havia descartado a possibilidade de reconhecer as supostas aparições como genuínas. “As ações e a agitação, a arrecadação de fundos por parte de pessoas que agem sob sua própria responsabilidade, sem mandato, sem qualquer respeito pela autoridade do bispo, a propaganda fanática a favor da “mensagem”, a condenação sem apelo daqueles que não aderem a ela, fazem-me acreditar em sã consciência que, além de toda esta excitação, não consigo discernir sinais que me permitam declarar as “visões” de que falo como genuínas”, observou então. Mas até agora o caso permanecia aberto, sem confirmação ou desmentido oficial.

O atual Bispo Jacques Habert, que estudou este caso do ponto de vista teológico e doutrinal, propôs um Dicastério para a Doutrina da Fé para declaração do não-sobrenaturalisto é, uma afirmação de que os supostos fenômenos não são de origem sobrenatural, de modo a encerrar o assunto de uma vez por todas.

O tom apocalíptico das supostas mensagens de Dozule e o bizarro pedido de uma cruz gigante foram os dois pontos que mais suscitaram suspeitas entre a Santa Sé, que costuma exercer extrema cautela em assuntos relacionados com aparições. A Igreja Católica historicamente aceitou muito poucas aparições (como as de Lourdes ou Fátima) entre milhares de supostas revelações como autênticas.

“Para reconhecer a Cruz não são necessários 738 metros de aço ou cimento”, disse o Dicastério do Vaticano. E sublinhou: “A Igreja incentiva as expressões de fé que conduzem à conversão e à caridade, mas adverte contra qualquer forma de “sacralização dos símbolos” que leve a considerar um objeto material como garantia absoluta de salvação”.

A Santa Sé também acredita que as mensagens supostamente deixadas por Jesus em Dozula, que afirmavam que “todos aqueles que vierem se arrepender aos pés da Cruz Gloriosa serão salvos”, que “a Cruz Gloriosa perdoará todos os pecados” e que todos aqueles que “chegam lá com fé para se arrepender serão salvos nesta vida e para a eternidade” são “incompatíveis com o ensinamento católico sobre a salvação, a graça e os sacramentos”.