dezembro 8, 2025
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Há poucos dias foi publicado o documento “Panorama Social da América Latina e do Caribe 2025”, publicado anualmente pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Uma das seções do documento examina a escala da pobreza na região, tanto por renda como multidimensional. Neste artigo vamos nos concentrar na medição da pobreza por renda. Deve-se notar que a medição da CEPAL difere dos indicadores nacionais porque utiliza uma cesta básica de bens e serviços padronizada para a região como um todo.

O relatório apresenta resultados de pobreza tanto para a situação recente (2023–2024) como para o horizonte de médio prazo (2014–2024). Em ambos os prazos, os resultados para a região podem ser considerados favoráveis. Ambos destacam as conquistas e contribuições do México para a região em termos de redução da pobreza.

Quanto aos dados mais recentes, o relatório informa que “25,5% da população da América Latina vivia em pobreza monetária em 2024, um declínio de 2,2 pontos percentuais em relação a 2023 e mais de sete pontos percentuais em relação a 2020, o ano de pico da pandemia da COVID-19”. Note-se que estes números implicam que, na região como um todo, uma em cada três pessoas vivia na pobreza em 2020 (cerca de 33%) e uma em cada quatro pessoas vivia na pobreza em 2024 (uma taxa de 25%). Progressos significativos num período relativamente curto.

Em termos de resultados por país em 2024, o relatório destaca o desempenho favorável do México e do Brasil: “O declínio no número de pessoas que vivem na pobreza a nível regional em 2024 foi atribuído principalmente ao México e, em menor grau, ao Brasil, que foram responsáveis ​​por 60% e 30% do declínio, respetivamente. No caso da pobreza extrema, estes países foram responsáveis ​​por 49% e 31% da redução, respetivamente”. O México emergiu assim como o país que mais contribuiu individualmente para a redução da pobreza em toda a América Latina: três em cada cinco pessoas que saíram da pobreza na América Latina em 2024 eram mexicanas, assim como uma em cada duas pessoas que saíram da pobreza extrema na região.

Por outro lado, na análise de médio prazo, o relatório observa o seguinte: “Entre 2014 e 2024, a maioria dos países latino-americanos registou uma tendência decrescente na pobreza e na pobreza extrema, sendo o efeito mais pronunciado na pobreza total do que na pobreza extrema”. O relatório acrescenta mais tarde: “O México destaca-se como o país que alcançou as reduções mais significativas na pobreza (uma média de 2,3 pontos percentuais por ano) e na pobreza extrema (0,8 pontos percentuais)”.

Note-se que isto significa que, em apenas uma década, o México reduziu as suas taxas de pobreza e pobreza extrema em 23 e 8 pontos percentuais, respetivamente. Em particular, o México reduziu para metade a sua taxa de pobreza, de 45,1% em 2014 para apenas 22,5% em 2024. Por outro lado, a taxa de pobreza extrema do país caiu para mais de metade, de 12,9% em 2014 para apenas 5% em 2024. Dois cortes muito significativos em apenas uma década.

O relatório da CEPAL também analisa a evolução das diferentes fontes de renda familiar. Isto é feito para tentar compreender a razão do declínio observado na pobreza na região. O resultado é claro (ênfase minha): “A nossa investigação permite-nos concluir que, em todos os países, o rendimento do trabalho assalariado foi a fonte que mais influenciou as mudanças nos níveis de pobreza, tanto decrescentes como crescentes. Nos países onde se registou um declínio na pobreza monetária, esta tendência desempenhou um papel predominante, especialmente naqueles onde houve um declínio mais pronunciado nos níveis de pobreza”.

Esta conclusão é importante porque contradiz a crença popular entre certos segmentos da população de que são os programas ou transferências sociais que explicam a redução da pobreza na região. Isso está errado. Em todos os casos, a variável mais importante e eficaz para a redução da pobreza foi a variável rendimento do trabalho. Daí a importância de continuar a reforçar este tipo de rendimento através de políticas de salário mínimo, formalização, protecção e aplicação de benefícios laborais, e através de medidas que promovam a criação de mais e melhores empregos. Em última análise, está a tornar-se cada vez mais claro que a melhor política para reduzir a pobreza na região é aumentar o rendimento do trabalho.