novembro 14, 2025
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Ricardo Salinas Pliego deve liquidar suas dívidas com o Tesouro e pagar quase 50 bilhões de pesos aos cofres do governo enquanto espera que o SAT finalize o valor exato. Nesta quinta-feira, o Supremo aprovou por unanimidade as isenções fiscais que o empresário contestou contra o SAT na Justiça, que havia decidido contra ele em todas as instâncias anteriores. O caminho terminou no Tribunal Superior que, como era de se prever, proferiu uma decisão contrária aos interesses do milionário, que inicialmente corria o risco de pagar 35.873 milhões de pesos, distribuídos em sete ações. Este valor aumenta com as taxas adicionais por atrasos de pagamento, que em alguns casos chegam aos 17 anos. Inicialmente, a ação maior somava quase US$ 18,5 bilhões e foi a primeira a ser decidida pelo Plenário, que também aprovou multa ao empresário por tentar afastar as ministras Yasmine Esquivel e Lenia Batres de um dos recursos relacionados em que esta última se absteve de participar. Depois deste dia, que marcará o fim de uma jornada plurianual, restarão apenas dois casos por resolver no Tribunal pelo valor inicial de pouco mais de 700 milhões.

Os projetos votados pelos ministros nesta quinta – e que foram discutidos em voz alta devido à “importância dos temas na opinião pública”, segundo o presidente Hugo Aguilar – são semelhantes entre si e não abordam a essência das questões levantadas pelo dono da Elektra, empresa protagonista dos processos. O Tribunal Superior rejeitou os apelos de revisão da empresa – ou aceitou as reivindicações do Tesouro contra ela – devido a uma série de argumentos sobre a natureza ou extensão dos problemas.

Em alguns casos argumentaram que não suscitavam questões de constitucionalidade (área de análise do Supremo Tribunal Federal), e noutros que, embora houvesse problemas nesta área, não eram de interesse único nem nesta matéria nem em questões de direitos humanos e, portanto, não poderiam servir de base para uma nova decisão de um tribunal que já tinha numerosos precedentes sobre questões fiscais semelhantes que poderiam servir como material de referência.

Em suma, a ação do Tribunal Superior confirmou o procedimento dos tribunais colegiados, que já haviam decidido contra o milionário. Salinas Pliego, em meio aos ataques ao governo Moreno de Claudia Sheinbaum, disse ontem de El Salvador que não esperava “nada diferente” do sentido em que foi tomada a decisão do juiz. “O tribunal, falso e politizado, já tomou a sua decisão”, afirmou. Contudo, os tribunais inferiores geralmente decidiam os seus casos antes da realização das eleições judiciais e faziam-no no mesmo sentido. Vários tribunais consideraram que as reclamações apresentadas por uma empresa são “nulas” porque resultam na redução da inconstitucionalidade das disposições contestadas a questões circunstanciais, como a situação particular da empresa, alegado abuso de direito ou linguagem imprecisa. Ou seja, não tocam na essência da norma.

A provação que a Elektra enfrenta neste dia, que parece histórica pela escala pública e simbólica que adquiriu, abrange o período dos anos fiscais de 2008 a 2013 e envolve um erro de cálculo das perdas da empresa. Este cálculo, que a Receita Federal considerou excessivo, reduziu os impostos que uma empresa que aproveitasse um benefício fiscal indevido teria de pagar. A SAT exigiu então o pagamento da diferença restante, mas a empresa contestou até o fim. Embora as rotas nacionais tenham se esgotado nesta quinta-feira, o conglomerado empresarial anunciou que iria interpor recurso na Corte Interamericana de Direitos Humanos e não descartou a possibilidade de processar o órgão governamental que acusa de praticar “extorsão fiscal”. “Que fique claro: continuaremos a lutar noutros casos, defendendo os nossos direitos nos tribunais nacionais e internacionais e exigindo que os valores sejam justos e corretos”, foi confirmado esta quinta-feira em comunicado.

Os processos de quinta-feira foram vitais para o poder executivo, que fez do combate aos grandes devedores um dos seus cavalos de batalha. A presidente precisa de arrecadar receitas para poder apoiar os programas sociais que estão no centro do seu projecto sem recorrer à reforma fiscal, o que ela nega. Para contornar isso, fecha os buracos por onde vaza dinheiro que já deveria estar fluindo para os cofres do governo. Dois bilhões de pesos estão presos nos tribunais por disputadas isenções fiscais. O valor que o empresário deve não é o maior, mas é justamente este que concentra a maior carga simbólica para o presidente. A recusa entre Salinas Pliego e Sheinbaum é mútua e apenas alimenta as expectativas sobre a disputa, que, além dos tribunais, é transmitida em tempo real nas redes e nas conferências matinais do presidente. Ganhar o favor do público tornou-se tão importante quanto ganhar o próprio julgamento.

Uma das acusações que o Presidente tem feito reiteradamente é a utilização de técnicas protelatórias para atrasar a implementação de decisões favoráveis ​​ao SAT. Sem entrar em detalhes, os nove principais processos enfrentados inicialmente pelo empresário no STF resultaram em 101 processos menores, a maior parte deles a pedido do grupo empresarial. Porém, não ajudaram a evitar o resultado final. O Supremo, saindo das urnas, acelerou os trabalhos e enviou nesta quinta-feira sete deles, todos por unanimidade com voto simultâneo de vários ministros que esclareceram sua posição. O quinto homem mais rico do México terá de pagar.