O destino do advogado mexicano Victor Manuel Alvarez Puga ainda é desconhecido. Procurado no México por crime organizado, branqueamento de capitais e evasão fiscal, Alvarez Puga estava até dias atrás sob custódia da agência anti-imigração norte-americana ICE, que o detinha desde setembro por violações durante a sua estadia naquele país. O governo de Claudia Sheinbaum usou a sua detenção de imigração para pressionar pela sua extradição. No entanto, agora não há mais vestígios do advogado. Seu nome desapareceu do registro público de detidos do ICE e nem as autoridades mexicanas nem os advogados de Alvarez Puga, consultados pelo EL PAÍS, explicaram o que aconteceu com ele.
Alvarez Puga e sua esposa, a conhecida motorista Ines Gomez Mont, são acusados pelos promotores mexicanos de liderar uma rede criminosa para lavagem e evasão de dinheiro por meio de empresas de cobrança e papel que fingem prestar serviços e emitem recibos falsos. O casal, segundo os promotores, esteve envolvido em um enorme roubo de quase 3 bilhões de pesos do Ministério do Interior em 2016, quando a agência era chefiada por Miguel Angel Osorio Chong, no mandato de seis anos de Enrique Peña Nieto, ambos do PRI. Segundo a investigação, a cujos detalhes o jornal tem acesso, a estrutura das empresas de fachada imitava um contrato de obtenção de recursos, que depois eram branqueados através de inúmeras transações bancárias. Parte do dinheiro, pelo menos 18 milhões de pesos, acabou nas contas do casal.
Os recursos foram inicialmente destinados a melhorar a segurança das prisões do país. A investigação contra Alvarez Puga começou no governo de Andrés Manuel López Obrador, mas altos funcionários da rede de cúmplices do advogado conseguiram atrasar as ações do promotor. Por fim, em setembro de 2021, um juiz autorizou a prisão do advogado e de sua esposa. A Interpol também emitiu um cartão vermelho para a sua detenção no estrangeiro. Depois de se saber que Alvarez Puga estava nas mãos do ICE, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum sublinhou que aguardava a extradição do advogado. “Estamos muito interessados em garantir que não haja impunidade nisso”, disse o presidente.
No entanto, no início de dezembro, o nome de Alvarez Puga deixou de aparecer no sistema online de localização de detidos do ICE, o que poderia significar que o advogado tinha sido libertado ou transferido para outra autoridade dos EUA ou enviado para o México. Este jornal enviou durante vários dias pedidos a representantes do Ministério Público, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Administração Interna pedindo informações sobre a personagem, mas não obteve resposta ao pedido. O questionário também foi enviado por e-mail aos advogados de Alvarez Puga, John Patrick Pratt e Edward Fortunato Ramos, mas nenhuma resposta foi recebida. Outro pedido foi enviado a um porta-voz da Embaixada dos EUA no México, que também não respondeu.
Alvarez Puga foi detido pelo ICE em 24 de setembro devido a um mandado de prisão de imigração. Desde então, ele lutou contra sua deportação para o México no tribunal. De acordo com documentos judiciais vistos por este jornal, o advogado estava pressionando um pedido de asilo no qual afirma que ele e sua família são vítimas de perseguição no México por causa de suas “posições políticas conservadoras”. Na petição, o advogado afirma que tem “medo de voltar ao México, dadas as suas opiniões políticas e a filiação a determinado grupo social”. Ou seja, segundo a sua versão, o governo mexicano o persegue por motivos políticos, e não pelo seu suposto envolvimento no roubo de milhões de dólares do tesouro.
De acordo com documentos do tribunal de imigração, Alvarez Puga estava nos Estados Unidos desde janeiro de 2021, vários meses antes de um mandado de prisão ter sido emitido no México. Em julho, quando chegava ao fim a sua habitual estadia no país norte-americano, o advogado fez uma viagem às Bahamas. Ele deveria retornar de avião, mas voltou a entrar nos Estados Unidos de barco sem que as autoridades de imigração tivessem seu documento de entrada certificado. Desde então, viveu esporadicamente na Flórida, onde ele e a esposa acumularam uma enorme fortuna no setor imobiliário, conforme documenta o EL PAÍS.
Os advogados de Alvarez Puga conseguiram atrasar o seu processo de deportação, pois exigiram que o seu cliente tivesse uma audiência preliminar para rever o seu caso. Há algumas semanas, os promotores disseram que um juiz de imigração já havia ordenado que o advogado fosse ao México em 17 de outubro, decisão que sua defesa contestou. Enquanto isso, no México, alguns itens foram movimentados. Na semana passada, foi preso Jesús Gabriel Pérez Rodríguez, ex-diretor do departamento de tecnologia da OADPRS, órgão responsável pela administração penitenciária pertencente ao Ministério do Interior. Os promotores alegam que o ex-funcionário esteve diretamente envolvido no roubo atribuído a Alvarez Puga.
Até à data, apenas antigos funcionários e líderes de média ou baixa importância foram levados à justiça. Osorio Chong, que era chefe do Ministério da Administração Interna na época dos desvios, não foi incluído na investigação do Ministério Público. Uma rede de altos funcionários que ajudaram Alvarez Puga a construir o seu império corrupto durante o seu último mandato de seis anos, ou que o contrataram directamente para serviços “ilegais”, também está na lista de investigações pendentes das autoridades. Este jornal publicou diversas auditorias do Tesouro que mostram como parte do dinheiro desviado do governo foi desperdiçado nas contas de familiares de políticos, empresários e pessoas da indústria do entretenimento.