dezembro 20, 2025
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Norma Andrade levou quase 25 anos para conseguir justiça nos tribunais. Sua filha Lilia Alejandra García Andrade, então com 17 anos, foi torturada sexualmente e morta em Ciudad Juárez em fevereiro de 2001, e desde esta sexta-feira o México é internacionalmente responsável por não ter evitado ou investigado adequadamente. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IAC) decidiu pela segunda vez contra um Estado em um caso de feminicídio, seguindo o precedente do chamado caso campo de algodãoda mesma cidade que foi condenado em 2009. Desta vez, o tribunal internacional também condenou o país por não ter protegido a mãe da vítima, que sofreu dois ataques enquanto procurava justiça para a filha, e por não ter investigado e processado os responsáveis. Por fim, ele responsabiliza o México por não ter protegido os dois filhos de Lilia Alejandra, Jade e Caleb, de dois anos e seis meses respectivamente, quando ocorreu o crime brutal.

“Foi um processo muito longo, mas finalmente chegamos aqui e conseguimos”, disse Norma Andrade, visivelmente emocionada, em entrevista coletiva após a sentença, onde agradeceu aos juízes por “sua compaixão e solidariedade” com o caso. O veredicto desta sexta-feira representa uma vitória histórica para a família da jovem, encerrando um ciclo que já dura meio século sem qualquer resultado nos tribunais nacionais. Em 14 de fevereiro de 2001, Lilia Alejandra deixou a fábrica maquiladora onde trabalhava e não voltou para casa. Sua mãe denunciou seu desaparecimento, mas as autoridades disseram a ela para esperar 72 horas para fazer uma denúncia. Uma semana depois, uma jovem foi encontrada morta entre duas ruas principais da cidade, com o corpo apresentando claros sinais de tortura. Um laudo pericial constatou que a menina, que na época tinha apenas 17 anos, havia morrido poucas horas antes, após ser sequestrada e agredida durante uma semana.

Segundo a equipa jurídica da família, há apenas uma pessoa sob custódia, sem provas claras contra ela e sem condenação no caso desde que foi detido em 2018. O suspeito cumpre pena de prisão por outros casos de violência de género, alguns relacionados com o caso Lilia Alejandra e outros não.

A natureza serial dos agressores foi uma das questões mais prementes para os advogados da família Garcia Andrade. O caso de Lilia Alejandra está ligado a pelo menos três outras agressões que ocorreram ao mesmo tempo, todas cometidas entre 1995 e 2005. “Este é o primeiro caso em Juárez que foi cientificamente comprovado como feminicídio em série. Durante 10 anos, este mesmo agressor, junto com outros agressores, desapareceu e matou mulheres na cidade. Conseguimos comprovar um padrão sistemático”, explica David Peña, da equipe jurídica a este jornal, um dia antes do crime. decisão do tribunal. IDH. O advogado também destaca a importância deste arquivo, que permite avaliar “como as políticas públicas funcionaram ou não no México” após o veredicto. campo de algodãoo primeiro do género, e num país onde cerca de 10 mulheres são mortas todos os dias.

A impunidade pelo feminicídio de Lilia Alejandra ecoa a mesma impunidade com que os agressores agiram contra sua mãe, que se tornou ativista e fundou uma organização após o assassinato. Nossas filhas voltaram para casa. Além de superar o assassinato da filha, Norma Andrade sobreviveu a dois atentados: um em Ciudad Juarez e outro na Cidade do México, onde teve que se exilar com os netos devido à perseguição que sofreu em sua cidade natal. No primeiro episódio, ele levou cinco tiros à queima-roupa enquanto caminhava até seu carro. No segundo incidente, ela foi esfaqueada no pescoço em sua nova casa na capital.

Não houve detenções ou condenações por nenhum dos dois ataques, e por esta razão o Estado mexicano também foi condenado e a Corte Interamericana ordenou que a investigação continuasse em Ciudad Juárez e que o caso fosse reaberto na Cidade do México. Além disso, o tribunal internacional está a forçar o México a incluir “explicitamente” categorias específicas de mães, requerentes, investigadores e mães de vítimas de feminicídio na Lei sobre a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos e dos Jornalistas. A sentença, que a Corte Interamericana considera por si só uma medida de reparação, inclui o dever do Estado de realizar um ato público de reconhecimento das responsabilidades que lhe são imputadas, que incluem a falha na proteção de dois órfãos, ainda crianças, quando perderam a mãe.

Norma Andrade vive cercada de guarda-costas 24 horas por dia porque foi agredida duas vezes. O Estado deve manter a proteção atribuída enquanto existir o risco e apresentar um relatório de progresso no prazo de um ano, de acordo com a resolução aprovada esta sexta-feira, que inclui a atualização dos Protocolos de Alba para busca de meninas, adolescentes e mulheres desaparecidas, bem como tomar as medidas legais necessárias para garantir a proteção dos filhos menores das vítimas de feminicídio. A Corte Interamericana não encerrará o caso até que o México cumpra integralmente o veredicto. “Ele estabeleceu um padrão muito alto para o estado mexicano”, aplaudiu a equipe jurídica. É o segundo ataque da CoIDH em todo o país numa semana, após a sentença de terça-feira pela morte em 2007 de uma mulher indígena de 73 anos que foi vítima de agressão sexual militar.

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