A Unidade Central de Operações (UCO) da Guarda Civil acredita que o alegado parceiro do empresário Victor de Aldama numa conspiração de fraude de hidrocarbonetos destinou “um milhão de euros para comprar o testamento” do ex-ministro José Luis Abalos para solicitar em seu nome uma licença que acabou por não receber.
Num novo relatório enviado ao Tribunal Nacional, ao qual a EFE teve acesso, os investigadores explicam como Claudio Rivas, o alegado “principal líder” da conspiração, pediu a Aldama que interviesse para “ganhar influência” de Abalos, que se encontra agora em prisão preventiva ordenada pelo Supremo Tribunal.
Procurou, continua a UCO, que Aldama mediasse com Abalos, então ministro dos Transportes e secretário do PSOE, para que pudesse “exercer a sua influência” utilizando os seus cargos “em vários órgãos ministeriais conhecedores ou ligados” ao tratamento do caso de licença como operador da empresa Villafuel, onde se desenrola a trama.
“Tudo isto em troca de uma recompensa económica pré-acordada”, afirma a UCO, que considera que o “pagamento” ao ex-ministro foi a entrega e utilização, “ao abrigo de um contrato formal de arrendamento”, de um chalé na urbanização La Alcaidesa (Cádiz), que a empresa de Claudio Rivas adquiriu por 585 mil euros.
A conspiração penetrou na liderança do Gabinete de Transporte, Indústria e Transição Ambiental
A Guarda Civil identificou os empresários Victor de Aldama e Claudio Rivas como os supostos líderes do complô de hidrocarbonetos ligado a Villafuel, que está sendo investigado pelo Tribunal Nacional, indicando que conseguiram se infiltrar não só na liderança do Ministério dos Transportes de José Luis Abalos, mas também no Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, Transição Ecológica e Problemas Demográficos.
O relatório da UCO descreve “uma organização criminosa especializada na prática de crimes contra o erário público no sector estratégico dos hidrocarbonetos, que operava através de uma estrutura societária liderada pelo operador Villafuel e outras pessoas ligadas ao sector”.
Os investigadores esclarecem que “paralelamente, a referida organização criminosa contava com outra estrutura de empresas comerciais, cujo objetivo era aprimorar as operações de lavagem de recursos provenientes das atividades ilícitas descritas”. La Benemerita não tem dúvidas de que a “liderança máxima desta organização criminosa” eram Aldama e Rivas, proprietário da Villafuel. “Eles decidiram, controlaram e coordenaram ambas as estruturas”, diz ele.
E assegura que há “muitos indícios que apontam para a possível penetração de uma organização criminosa nos níveis de gestão do Ministério dos Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana, do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo e do Ministério da Transição Ecológica e Questões Demográficas”.
A infiltração seria realizada através de Aldama, “pessoa com acesso ao meio ambiente” de Abalos, com o objetivo de “influenciar a decisão administrativa de que a Villafuel seria autorizada a operar no mercado grossista de hidrocarbonetos apesar do incumprimento dos requisitos da lei”. “Tudo isto em troca de compensações económicas”, sublinha.
UCO afirma que conspiração de hidrocarbonetos trouxe um chalé para Abalos
A Guarda Civil alega que uma conspiração de fraude em hidrocarbonetos supostamente levada a cabo, entre outros, pelo empresário Victor de Aldama pagou ao ex-ministro José Luis Abalos pela villa La Alcaidesa, em Cádiz, para que Villafuel pudesse obter uma licença de exploração.
“O fornicador é um filho da puta. Roubou a casa e apertou o botão”, disse mesmo a empresária Leonor Gonzalez ao seu companheiro Nathan Gonzalez, segundo o último relatório fornecido pelo Instituto das Armas ao juiz do Tribunal Nacional Santiago Pedraza. Segundo os agentes, “os interlocutores explicaram a emissão do alvará pela compra prévia da casa prevista pelo ministro”.
A UCO sublinha que a aquisição desta villa ocorreu “na sequência de um processo de procura e seleção em que participou ativamente o então conselheiro de Abalos, Koldo García”. De Aldama também desempenhou um papel de liderança, ao atuar como “intermediário entre o ministro e a organização criminosa”, iniciando “os procedimentos necessários para a aquisição” da casa.
“Quanto ao referido consentimento do ministro e quais as considerações que deveriam ser acordadas através de Victor de Aldama com Claudio Rivas, a conversa que teve lugar com Koldo García no dia 27 de dezembro de 2020, um dia antes da primeira reunião da organização criminosa no MINCOTUR (Ministério da Indústria e Turismo), deixou isso claro”, apontam os agentes.
A Guarda Civil sublinha que Koldo lhe enviou “quatro links do portal imobiliário Idealista para imóveis à venda, entre os quais aquele que poucos meses depois a organização criminosa entregou e colocou à disposição de Abalos em La Alcaides”.