As escolhas de ações da Kepler Cheuvreux para 2026 baseiam-se num princípio fundamental: identificar empresas que possam apresentar um desempenho robusto ao longo do ciclo, mesmo em condições macroeconómicas menos favoráveis. Esta abordagem é especialmente relevante numa altura em que os investidores começam novamente a distinguir entre crescimento real e expectativas excessivamente optimistas.
A análise é apoiada por dados financeiros, posicionamento estratégico e impacto da indústria, com foco em indústrias com apoio estrutural. Organizações como a Comissão Nacional do Mercado de Valores Mobiliários sublinham a importância da avaliação do risco e da sustentabilidade dos retornos num contexto de maior volatilidade, sendo esta premissa consistente com esta escolha.
Indústria, Energia e Defesa: Noções Básicas de Análise
As seis empresas desmembradas pela Kepler Cheuvreux, informa a Investing, vêm de setores muito diferentes, mas têm um denominador comum: têm vantagens competitivas difíceis de replicar e visibilidade empresarial para além do curto prazo.
Acerinox e normalização do ciclo industrial
A Acerinox é uma das principais empresas industriais para 2026. Após vários anos marcados pela pressão sobre os preços e pela fraca procura, o grupo confia na sua posição como um dos maiores produtores mundiais de aço inoxidável e ligas especiais.
A integração da VDM Metals e da Haynes International fortalece a sua posição em produtos de maior valor agregado. Kepler Cheuvreux estima que a empresa poderá atingir um EBITDA recorrente de cerca de 800 milhões de euros ao longo do ciclo, com os Estados Unidos a tornarem-se a principal fonte de lucro devido à sua estrutura de custos e proteção comercial.
EDP Renováveis e uma viragem para um crescimento mais disciplinado
A EDP Renováveis vive uma nova fase depois de ajustar a sua estratégia de expansão. Após um período de fortes investimentos, a empresa optou por um modelo mais equilibrado baseado na rotação de ativos e no controle de alavancagem.
Com quase metade do valor dos seus negócios vinculados a ativos nos Estados Unidos, o grupo beneficia de um mercado energético maduro com um ambiente regulatório estável. Kepler Cheuvreux acredita que a criação de valor através da venda seletiva de ativos voltará a ganhar peso a partir de 2026.
Defesa, saúde e infraestruturas: crescimento estrutural
Além da indústria e da energia, o relatório centra-se em sectores com apoio institucional e procura resiliente, independentemente do ciclo económico.
Indra e o maior ciclo de proteção da Espanha
A Indra se consolida como peça central no processo de modernização da defesa espanhola. A empresa participa em quase todos os grandes programas nacionais e lidera mais de metade deles, tendo envolvimento direto em contratos no valor de milhares de milhões de euros.
Em 2030, os projetos Kepler Cheuvreux geraram um crescimento sustentado de receitas de aproximadamente 10 mil milhões de euros, impulsionados pela defesa, pelo tráfego aéreo e pelo desenvolvimento de soluções de inteligência artificial dentro da divisão IndraMind.
Rovi e o valor oculto do negócio CDMO
O grupo farmacêutico Rovi passou por um período decepcionante no mercado de ações, mas o banco de investimento vê potencial na sua divisão de produção por contrato. A empresa combina uma estrutura de custos eficiente com a capacidade de expansão sem grandes investimentos.
Acordos de longo prazo, incluindo o assinado com a Roche, permitem-nos prever um crescimento significativo das receitas e um elevado retorno sobre o capital investido até ao final da década.
As concessões e o consumo de defesa completam a lista.
Sakir e a consolidação do modelo de concessão
A Sacyr reduziu os riscos legados e fortaleceu o seu balanço através da rotação de ativos. O foco actual está nas concessões internacionais, particularmente nos mercados anglo-saxões, onde a infra-estrutura de transportes tem fluxos de caixa previsíveis.
Kepler Cheuvreux destaca o alto nível de sucesso do grupo em licitações e a capacidade de cristalizar valor através da venda parcial de ativos maduros.
Vidrala e o retorno do fluxo de caixa
Vidrala completa a seleção como valor defensivo associado ao consumo básico. Após a aquisição da Vidroporto no Brasil, o grupo reforçou a sua presença internacional e restaurou os lucros em quase 30%.
A visibilidade da geração de caixa e a posição líquida de caixa prevista para 2026 fazem da Vidrala um dos players mais estáveis do universo ibérico.
No seu conjunto, Kepler Cheuvreux identifica um padrão claro nestas seis empresas: negócios com escala, disciplina financeira e catalisadores específicos que poderão traduzir-se mais claramente em preços a partir de 2026, quando o mercado voltará a dar prioridade ao desempenho em detrimento das expectativas.