A aplicação da lei pode recuar em futuras investigações sobre suposta manipulação de recompensas de emissores de cartão de crédito, depois que um memorando do governo federal sobre tais investigações foi criticado esta semana pela American Bankers Association.
A associação, que representa o setor bancário, enviou uma carta ao diretor interino do Departamento de Proteção Financeira do Consumidor dos EUA, Russell Vought, chamando as preocupações da agência sobre a manipulação de recompensas de “infundadas”.
“No último ano do mandato do ex-diretor Rohit Chopra, o CFPB intensificou seu escrutínio sobre as recompensas do cartão de crédito, incluindo a publicação da Circular de Recompensas e do Relatório de Recompensas”, escreveu o grupo, referindo-se ao líder anterior que trabalhou sob a administração Biden antes de ser substituído por Vought em fevereiro.
“Essas postagens levantaram preocupações infundadas sobre o mercado de cartões de crédito de recompensa, inclusive ao afirmar que as reclamações dos consumidores indicam ‘padrões preocupantes’ nas práticas de mercado.”
A carta da American Banking Association tentou refutar as afirmações do Bureau sobre programas de recompensas de cartão de crédito e explicar os benefícios dos programas de recompensas aos titulares e emissores de cartões.
O revés
O Consumer Financial Protection Bureau, que protege os consumidores de irregularidades por parte das instituições financeiras, enviou o memorando em dezembro de 2024, afirmando que os consumidores reclamavam que os emissores de cartões de crédito estavam manipulando a classificação e a emissão de pontos de recompensa.
De modo geral, os consumidores com cartões de crédito recompensa podem ganhar pontos ou milhas para cada dólar gasto. O número de pontos que ganham depende de onde utilizam o cartão. Os restaurantes, por exemplo, podem ganhar mais pontos de clientes do que postos de gasolina ou supermercados.
Os emissores de cartões geralmente permitem que os titulares do cartão troquem seus pontos de recompensa ou milhas por dinheiro, mercadorias ou viagens. E, em alguns casos, os titulares do cartão podem transferir milhas ou pontos para um programa de recompensas de viagens como World of Hyatt ou Southwest Rapid Rewards.
Com o tempo, os programas de recompensas alteram o número de milhas ou pontos necessários para, por exemplo, reservar um quarto de hotel. Num ano, o hotel pode exigir 12.000 pontos para uma estadia de uma noite, mas a exigência aumenta no ano seguinte para 15.000. Blogs populares de pontos e milhas costumam publicar artigos anuais detalhando pontos e alterações de milhagem.
Embora comum entre especialistas em recompensas e geralmente não considerada uma tática de isca e troca, a agência governamental afirmou que as alterações nos valores de resgate eram possivelmente ilegais.
“Quando os operadores de recompensas influenciam as expectativas dos consumidores sobre o valor das recompensas nos seus produtos ou esforços de marketing… mas depois tomam decisões para deflacionar o valor global das recompensas acumuladas, podem ter-se envolvido em acções que se assemelham a um esquema tradicional de 'isca e troca'”, escreveu a agência. “Essas atividades podem constituir atos ou práticas injustas ou enganosas de acordo com a (Lei de Proteção ao Consumidor Justa).”
A Repartição continuou a criticar os termos e condições do programa de recompensas, alegando que a sua linguagem pode ser “vaga” e colocar a maior parte do poder nas mãos do emissor.
“Esses tipos de padrões obscuros e letras miúdas muitas vezes constituem representações, omissões ou práticas enganosas em relação a preocupações materiais e, portanto, violam a proibição de práticas enganosas”, escreveu a Repartição. “Além disso, negar ou impedir recompensas com base em termos ocultos ou vagos pode causar danos monetários substanciais na forma de perda de valor das recompensas e pode ser injusto”.
Associação bancária minimiza manipulação
Na sua carta sobre os memorandos das agências governamentais, a American Banking Association rejeitou a ideia de que os programas de recompensas são um labirinto de termos obscuros e linguagem confusa.
“Ao contrário das afirmações do CFPB, os programas de recompensas de cartão de crédito são amplamente acessíveis, valiosos e claramente compreendidos pelos consumidores de todos os níveis de rendimento”, escreveu o grupo.
Ele prosseguiu, observando que os registros de reclamações do próprio departamento do consumidor refletem isso, já que apenas 0,09% das reclamações em seu banco de dados eram sobre recompensas de cartão de crédito.
Além disso, a associação bancária observou que os emissores de cartões de crédito atendem a quase todas as reclamações apresentadas.
“De acordo com os dados do CFPB, 99,2% das reclamações receberam uma resposta atempada e mais de um terço dessas reclamações foram resolvidas através de alguma forma de assistência monetária ou não monetária”, afirma a carta.
O grupo bancário também defendeu a importância dos cartões de crédito recompensas, listando diversos benefícios como o titular do cartão ganhando dinheiro de volta, pontos que podem converter em mercadorias e ofertas exclusivas. Ele também observou que as recompensas ajudam os emissores de cartões a fidelizar os clientes.
“Consumidores de todos os níveis de rendimento beneficiam de recompensas e, à medida que o mercado de cartões de crédito continua a inovar para impulsionar a satisfação do consumidor, os programas de recompensas de cartões de crédito também continuarão a proporcionar um valor significativo aos consumidores, incluindo conveniência, flexibilidade e poupança”, escreveu a ABA.