Na verdade, é muito difícil compreender – e muito menos justificar – as lentes através das quais a Presidente Claudia Sheinbaum vê o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Organizações da sociedade civil de todo o espectro ideológico, organizações internacionais e jornalistas independentes documentaram ao longo dos anos como o regime chavista, e mais tarde o regime madurista, violaram sistematicamente os direitos do povo venezuelano.
Não há dúvida: as evidências são irrefutáveis. Chávez e depois Maduro acabaram com o sistema de freios e contrapesos, cooptaram o poder judicial, controlaram os meios de comunicação e desmantelaram uma a uma as organizações que garantiam a democracia e a liberdade na Venezuela.
No entanto, o presidente do México não pode condenar um regime que expulsou mais de oito milhões de venezuelanos, muitos dos quais fizeram do México o seu refúgio. O contraste torna-se ainda mais marcante quando se consideram as posições dos líderes progressistas da região. O presidente chileno, Gabriel Boric, afirmou isso de forma inequívoca: “Não há dúvida. Estamos diante de uma ditadura que frauda eleições, reprime aqueles que pensam diferente e é indiferente ao maior exílio do mundo.” O governo de esquerda da Colômbia não reconheceu os resultados fraudulentos de Maduro nas últimas eleições, e o líder histórico da esquerda brasileira, Lula da Silva, exigiu que o regime venezuelano publicasse protocolos supostamente confirmando a sua vitória. Confrontado com este coro regional de condenação – e um coro de esquerda – Sheinbaum escolheu o silêncio, envolto numa política externa acomodatícia.
A saída inesperada da líder da oposição Maria Corina Machado da Venezuela proporcionou ao México uma nova oportunidade para assumir uma posição crítica. Sheinbaum sentiu falta dela novamente. Se o Presidente decidir não se manifestar sobre uma figura perseguida – mesmo de direita –; Se optar por não confiar nas organizações civis e nas instituições internacionais que documentam cuidadosamente as violações sistemáticas dos direitos humanos, poderá pelo menos conhecer alguns dos milhares de venezuelanos que vieram para o México vindos de todas as esferas da vida. Ao ouvir as suas evidências, a probabilidade de mornidão poderia ser negada.
Porque se não confiarmos nas organizações multilaterais ou nas dezenas de organizações não-governamentais globais que investigaram exaustivamente o caso da Venezuela, resta uma questão significativa:
Através de que prisma o presidente vê a realidade venezuelana? Qual é o interesse por trás disso?