Ele é o chef de Dakar. Nandu Jubani (Monistrol de Calders, 1971) ostenta estrela Michelin e é referência na cozinha. Aproveite as suas férias para participar no rali mais difícil do mundo. No ano passado, sua carreira foi quase … estreou-se de forma perfeita na categoria automóvel com o Optimus de tração integral da equipa francesa MD Rallye Sport. Este ano regressa às dunas da Arábia Saudita para competir no seu segundo Dakar de carro (o terceiro no total depois da estreia no motociclismo em 2018).
— Você vem do mundo das motocicletas…
— Meu sonho era me tornar um piloto de motocross. Eu não poderia ser assim. Então corri enduro depois de mais alguns anos de treinamento. Dediquei-me ao mundo da culinária, coisa que não queria fazer, mas meu pai era muito prático e me dizia: “Querida, vai para a cozinha”. E então tive a sorte de, já adulto, ter conseguido assumir aquele “hobby” que não conseguia praticar na minha juventude.
“Antes ser cozinheiro era um castigo, mas agora está na moda…
“Essa é uma das profissões que mais mudou. Este ano estou comemorando o 30º aniversário do meu restaurante, e antes era uma pena porque os pais queriam que seus filhos fossem médicos, advogados, engenheiros… tudo menos chef. E ao longo dos anos isso mudou. Durante quinze anos as pessoas consideraram este um bom trabalho.
— Não te incomoda ser conhecido como o cozinheiro do “Dakar”?
– Não, pelo contrário, isso me excita. Eles me conhecem mais como chef do que como piloto, que é o que deveria ser. Eu faço isso para viver, então no dia em que me conhecerem mais como piloto, estarei fazendo algo errado na cozinha.
— Existe um paralelo entre conduzir um Dakar e trabalhar na cozinha?
— Com todo o trabalho que fizemos esta semana na restauração, conseguimos passar um Dakar e meio. Existe uma semelhança de que você não pode abandonar ou desistir de nada. É preciso escolher um bom time, é preciso preparar tudo e não pode faltar nada. Você não pode deixar os mortos no caminho, porque se você deixar os mortos no caminho, é ruim.
— É interessante que você tenha alcançado o sucesso fazendo croquetes durante um ano e evitando fazê-los em Dakar…
– Exatamente (risos), ele disse isso de forma fenomenal. Já fiz o último rali e temos de tentar não fazê-lo no deserto.
Jubani está na cozinha cozinhando para a imprensa que cobre Dakar.
— Trocaria o seu sucesso na cozinha pela vitória no Dakar?
“Não preciso mudar porque acho que posso montá-lo.” Entendo que vencer o Dakar é impossível, tenho que ser realista, mas ir ao Dakar para desfrutar é uma bomba. Só isso já é um sonho que se tornou realidade depois de assistir na TV durante toda a minha vida.
– Escala, em uma placa há uma estrela Michelin, na outra – Touareg…
— Já tenho uma estrela Michelin, e um Touareg, grande, é impossível, então esse equilíbrio não existe. Acho que podemos vencer o Touareg na nossa categoria, por que não? No ano passado já estávamos em segundo lugar. Aí na classificação geral é muito difícil, porque no papel são 52 carros melhores que o nosso. Mas não desistimos e nos esforçamos para estar em uma boa posição.
“O pior é a pouca camaradagem que permanece em Dakar”
Nandu Jubani
Chef e piloto
— Você carrega muita comida no carro?
– Não no carro. Eu carrego comigo algumas barras energéticas muito boas chamadas Matchmore, barras e géis. Além disso, nossa máquina é muito eficiente e não apresenta problemas. Nunca ficamos com fome ou irritados. Por isso não levamos nada conosco; se tivéssemos medo de passar a noite na rua, provavelmente teríamos levado gasolina de acampamento e uma lata de tripa…
– “Ando calmamente com Nandu. Se ficarmos no meio do deserto e não tivermos nada, se virmos um camelo, com certeza ele vai cozinhar bem, para não ficarmos com fome…”, intervém seu copiloto Mark Sola.
— Em 2018, você correu de moto. Este Dakar será mais autêntico?
– É mais difícil. Você está sozinho, você navega sozinho, se tiver um problema, você mesmo resolve… O que mais me surpreendeu foram tantas horas de solidão. Eu não estava acostumada a ficar tantas horas sozinha comigo mesma e encontrei outra Nanda, diferente daquela que eu conhecia.
“O que mais me surpreendeu foram tantas horas de solidão.”
Equipe KH7 composta por Laia Sanz, Edgar Canet, Jordi Juventani, Isidre Esteve, Pau Navarro e Nandu Jubani.
— Gostou do que encontrou?
-Não importa quantos anos você tem, há partes de você que você não conhece. Gostei do que encontrei, coisas boas e ruins. A sensação é diferente em uma motocicleta e em um carro. Super-homens correm carros, mas são heróis em motocicletas.
—Solidão de Dakar. E a solidariedade?
“A verdade é que realmente me surpreendeu.” Está perdido. Costumava haver mais camaradagem e todos se ajudavam. Agora ninguém para, a corrida de resistência virou uma corrida de velocidade. O pior é a pouca camaradagem que permanece em Dakar.
— Quando foi a última vez que você sentou no sofá e assistiu TV?
– Claro que sento no sofá, sou caseiro, mas meu relógio marca 90 minutos. Tenho um ritmo em que alguns dias não fico sentado, mas outros em que passo o dia no sofá e na frente da TV como todo mundo.
— Por quanto tempo você pretende participar de Dakar?
— Não me considero como os outros pilotos que participam nesta corrida há 29 anos. Já o fiz e este ano seria uma estupidez não aproveitar o facto de termos patrocinadores, uma equipa e um grande navegador. Mas não acho que farei a mesma coisa com este carro por três, quatro ou cinco anos. Ou no próximo ano iremos com um carro melhor, com T1+, ou procuraremos outros desafios, por exemplo a corrida do Dakar num camião. Acho que essa é uma das coisas que eu gostaria de fazer. E costumo fazer o que gosto, se puder, daqui a alguns anos vocês me verão com um caminhão.