dezembro 13, 2025
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Há mais de 20 anos, a Best Buddies Colombia começou a trabalhar para demonstrar que a inclusão na força de trabalho de pessoas com deficiência intelectual não só é possível, mas tem um impacto transformador na sociedade. Para as pessoas com deficiência intelectual, a quem chamam de “Amigos de Alma”, isto significava poder sentir-se produtivo, fazer parte da sociedade e poder contribuir para a economia do seu lar. Para as suas famílias, isto pode representar um rendimento adicional e uma oportunidade para a mãe ou o pai deixarem de ser os cuidadores. Esta foi uma oportunidade para as empresas aproveitarem esse talento.

“A Colômbia perde entre 5,3% e 6,9% do seu produto interno bruto por não empregar pessoas com deficiência”, afirma Alejandra Arenas, advogada que liderou a organização durante 11 anos e que encontrou na fundação uma forma de transformar a dor da perda de três filhos deficientes num propósito de vida.

Esta aposta foi inovadora mesmo face aos objetivos de fundação da empresa-mãe da Best Buddies nos Estados Unidos. “Todo programa no mundo (a fundação está presente em mais de 50 países) começa com um programa de amizade, que se baseia no voluntariado para ajudar a desenvolver habilidades sociais por meio da interação”, explica Arenas. Na Colômbia, Bernardo Vargas e Olga Lucia Lacouture, casal que trouxe a iniciativa ao país em 2003, têm um objetivo mais ambicioso: prepará-los para assumirem as próprias responsabilidades. Para Soul Friends, esta mudança teve um enorme impacto. “Eles nos disseram: ‘Estou curado’. Embora não seja uma doença da qual precisem ser curados, eles dizem isso porque se sentem iguais aos outros, se sentem valorizados”, diz Arenas.

Um modelo de sucesso combina aprendizagem, monitoramento e alianças. Na sua escola de competências, a Soul Friends fortalece os aspectos mais importantes da vida profissional: comunicação, gestão do tempo, resolução de problemas, trabalho em equipe. Lá eles estão se preparando para alcançar a independência. Segue-se um trabalho inclusivo através de formadores que trabalham diretamente com as empresas. “Um treinador é como a cadeira de rodas dos Soul Friends em seu trabalho”, explica Arenas. Sua função é adaptar tarefas, desenvolver rotinas diárias claras e orientar as equipes para que a comunicação seja estável. Não há nada de simbólico aqui: cada cargo atende às reais necessidades das empresas e agrega valor às suas atividades.

O fundo trabalha atualmente em aliança com mais de 100 empresas, incluindo Homecenter, Juan Valdez, El Corral e outras oito empresas do Grupo Nutresa, D1, Ramo e Oxxo, às quais estão atualmente oficialmente filiadas cerca de 800 Amigos del Alma. Ao longo de 20 anos, foram criados 2.200 empregos em diferentes regiões do país, de San Andrés a Nariño.

Alcançar esse marco não foi fácil. “No início tivemos que começar abordando o estigma e, às vezes, até explicando que uma deficiência não é uma doença”, lembra Arenas. A primeira empresa a apostar no programa foi a Alkosto. “Vimos uma oportunidade simples, mas poderosa, de criar emprego real para pessoas para quem a deficiência mental tinha fechado as portas”, afirma Maria Isabel Morcillo, diretora de recrutamento e desenvolvimento da empresa. Para Soul Friends na maioria dos estratos socioeconómicos 1, 2 e 3, isto representou uma expectativa inesperada de reforma ou de contribuição para compras familiares. Para Alcosto iniciou-se uma transformação positiva da cultura da organização. “Agora temos equipes mais solidárias, um ambiente mais respeitoso e um maior sentimento de pertencimento”, acrescenta Morcillo.

Devido às mudanças que este processo acarretou no sistema jurídico trabalhista, outro ponto chave foi o apoio da equipe jurídica da Posse Herrera Ruiz, que há mais de duas décadas está comprometida em trabalhar com o fundo e suas subsidiárias para garantir segurança e clareza nos processos. Desenvolveram modelos de contratos viáveis, forneceram orientação sobre ajustes razoáveis, resolveram questões jurídicas e navegaram em situações complexas. “Nosso papel é criar confiança para que as empresas dêem esse passo e a mantenham”, afirma Mariana Posse, sócia fundadora do escritório.

Em 2025, o escritório apoiou a fundação no seu trabalho de defesa de uma das mudanças introduzidas pela nova reforma laboral: tornar obrigatória a contratação de pessoas com deficiência pelas empresas, um passo fundamental no desafio que a Best Buddies estava a desenvolver.

Para Arenas, os problemas continuam. “Nosso sonho é abrir oportunidades para Soul Friends que não conseguem se movimentar de forma independente, aqueles que não possuem linguagem e aqueles que estão mais gravemente no espectro do autismo. Estamos trabalhando neste projeto”, explica. Ela acredita que uma força de trabalho inclusiva não é um custo, mas uma vantagem competitiva para as empresas e a sociedade.

A escala de influência da Best Buddies Colombia se reflete em experiências como a de Genard Güell Reales, que ingressou na fundação há 10 anos e trabalhou durante 7 anos como assistente de cantina na rede de restaurantes El Corral, em Barranquilla. “Antes de conhecer a fundação, me senti triste e desamparado”, lembra ele. E lista tudo o que um emprego estável lhe trouxe: “Sentir tranquilidade, sustentar minha família, ter meu próprio projeto de vida. Eu era muito tímido. Agora converso com todo mundo. Já sou muito independente”, diz o homem, que já está no décimo semestre na Faculdade de Direito da Universidade Rafael Nunez e paga seus estudos.

Referência