Ele é movido pela competição. Não importa o cenário, Brian Carreno, nativo da Califórnia, sempre busca a excelência. Ele é disciplinado, tem objetivos claros, beira a psicorrigidez, admite. “Desde pequeno gosto de me julgar pelos meus resultados, eles me mostram do que sou capaz.” Aos 25 anos, ele é o patinador artístico colombiano de maior sucesso da história. Ele participou de todos os campeonatos mundiais desde 2014, e só deixou dois sem medalha. Ele tem seis medalhas de ouro, duas de prata e quatro de bronze. Ao mesmo tempo, cursa o quarto semestre na Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Javeriana de Cali, onde se destacou como um dos melhores alunos.
Apaixonado por esportes, Carreno chegou à patinação artística por acaso ao ser convidado para assistir a um treino. Ele praticou natação e ginástica olímpica, mas “se apaixonou”. Ele estava vinculado ao seu instinto competitivo, mas também à sua outra grande paixão: dançar. Aos cinco anos ingressou na academia de salsa de Cali e passou a fazer parte da famosa companhia Delirio. “Isso me levou à patinação artística: ver as pessoas nadando e fazendo o que eu fazia, mas sobre rodas.”
Poucos dias depois ele estava com os patins “nus”, que seu primeiro treinador lhe emprestou. Eu tinha oito anos. Aos 13 anos, participou de seu primeiro Campeonato Mundial Júnior, competindo contra adversários cinco anos mais velhos. “Eles passaram por mim porque viram qualidade em mim”, lembra ele. Ele terminou em sexto e começou uma carreira vitoriosa. O mais recente: duplo ouro e bronze no Campeonato Mundial deste ano na China, onde ficou em primeiro lugar em dança e figura e em terceiro em quarteto.
Carreño vê o desporto não apenas como uma paixão, mas também como uma ferramenta de mudança social. Ele nasceu no bairro de San Judas, na comuna 10, no sudeste de Cali, que surgiu como um assentamento informal e autoconstruído, tornando-se uma área com uma forte estrutura social, mas também marcada pela violência e pela pobreza. “O esporte sempre foi uma oportunidade de realizar meus sonhos”, afirma.
Sua família lhe disse que excelentes resultados poderiam abrir portas para a universidade, e ele fez exatamente isso. “Sinto que sou um exemplo de como o esporte serve para construir uma comunidade. Meus companheiros e eu mostramos que não importa em que lugar socioeconômico você nasceu para encontrar o que deseja”, enfatiza. Por isso também gosta de representar a Colômbia, sua cidade e arredores nas etapas mais importantes da patinação artística. “Projete esse poder nas outras pessoas e diga: 'Continue lutando'”, diz ele.
Ela costuma receber comentários negativos nas redes sociais por causa de sua orientação sexual e identidade de gênero: “Honestamente, isso não me preocupa, eu sei exatamente quem sou”. No entanto, ele admite que poucos homens praticam a patinação artística, em grande parte por preconceito. “As pessoas acreditam que se uma criança pratica um esporte artístico ela está condicionada a alguma coisa e que se alguém não pensa heteronormativamente está no lugar errado.” No caso dele, sempre contou com o apoio da família e das pessoas ao seu redor. “Sou gay e nunca tive problemas com patinação artística, na universidade ou em casa”, diz ele.
Critica a falta de apoio institucional. Ele afirma que o estado prioriza os esportes olímpicos, por isso “não há apoio” para outras modalidades nas quais a Colômbia é uma potência mundial. Ele censura que eles nem tenham local próprio para treinar: “Temos que ir ao velódromo e de lá eles constantemente nos levam. Estamos sempre nervosos”, acrescenta. A falta de recursos é tamanha que Carreño, o patinador artístico colombiano que mais medalhas conquistou na história, se pergunta ano após ano se vale a pena continuar. “Muitos nem sequer conseguem nascer e estamos a ficar sem gerações”, alerta.
Seu regime é rigoroso. Ele treina todos os dias, combinando esporte com estudo, “da melhor maneira que pode”. Quando criança, teve que abandonar a dança para se dedicar inteiramente à patinação, mas nunca perdeu o gosto pela prática. Por isso não perde uma única oportunidade, e são poucas e só no final da temporada, de ir a uma festa com os amigos. “Sou daquelas pessoas que quando saio não fica parada, adoro dançar tudo.”