dezembro 30, 2025
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Um cirurgião plástico acusado de estuprar uma paciente enquanto fazia uma lipoaspiração nas nádegas em Múrcia negou perante um juiz no dia 12 de dezembro que cometeu a agressão, alegando que usava muita roupa durante o procedimento que o teria tornado impossível. Segundo seu depoimento, ao qual o EL PAÍS teve acesso, o balanço pélvico, que causou alarme entre as enfermeiras que o atenderam, é sempre realizado durante todas as operações para aliviar a pressão nas pernas, já que ele tem problemas circulatórios. E, como afirmou, durante seus mais de 15 anos de carreira ninguém teve dúvidas sobre esses movimentos, não foram recebidas denúncias preliminares contra ele.

Porém, esses movimentos e seu comportamento durante a operação chamaram a atenção da enfermeira do centro cirúrgico e auxiliar de enfermagem, que o acompanhou até o centro cirúrgico do hospital privado IMED Virgen de la Fuensanta de Múrcia no dia da operação. Pareciam tão inusitados que a auxiliar chegou a gravar dois vídeos, que após a intervenção mostraram ao chefe de enfermagem do hospital e à enfermeira chefe do centro cirúrgico, que também consideraram anormal o comportamento do cirurgião e levaram o fato ao conhecimento da direção do centro. Depois de ouvir as declarações destes quatro especialistas e do cirurgião, o chefe do Tribunal de Instrução nº 4 de Molina de Segura decidiu colocar o médico em prisão preventiva sem fiança, que continua nesta situação desde 12 de dezembro do ano passado.

O cirurgião, natural do México, que viveu em Espanha durante 22 anos, onde estudou medicina, exerceu o seu direito de não testemunhar quando a polícia o deteve, mas respondeu às perguntas do seu advogado quando foi indiciado. Ele disse que o médico descreveu detalhadamente as peças de roupa que ele usava no dia da operação que o teriam impedido de cometer estupro: pijama cirúrgico com roupa íntima por baixo e meias de compressão que ele usa por causa de problemas de circulação nas pernas e que cobrem sua barriga sem usar braguilha. Ele também usava uma bata descartável até os joelhos por cima do pijama cirúrgico e um “pano cirúrgico”, uma espécie de avental, para evitar manchas e respingos no peito.

Os movimentos pélvicos que primeiro chamaram a atenção dos enfermeiros e dos seus superiores ao ver o vídeo, garantiu que “faz isto com todas as lipoaspirações” e, dependendo do local onde é colocado, pode por vezes ficar em “posições estranhas” ou até levantar as panturrilhas “para não sobrecarregar as pernas” devido a problemas de circulação.

O que chamou especialmente a atenção das quatro enfermeiras que prestaram depoimento foi que, ao final da lipoaspiração, o médico permaneceu entre as pernas da paciente, que estava em posição ginecológica, por mais meia hora, supostamente “ajustando” a operação, embora os instrumentos utilizados nessas intervenções já estivessem desconectados e fora de serviço. Segundo o médico, essa também é uma prática comum em suas cirurgias para garantir melhor recuperação ao paciente.

Posição da maca

As enfermeiras ressaltaram ainda que o próprio cirurgião alterou a posição da maca na sala cirúrgica para que ficasse de frente para a porta. O médico disse que fez essa mudança para que ninguém que entrasse na sala pudesse ver diretamente os órgãos genitais do paciente.

O cirurgião admitiu, conforme avisado pelo amigo do paciente, que tinha prevista uma viagem aos Estados Unidos num futuro próximo, mas negou que tivesse qualquer intenção de fugir, embora o juiz tenha tido em conta o risco de fuga ao ordenar a sua colocação numa prisão temporária.

O médico permitiu a coleta de amostras de DNA após a prisão, mas se recusou a fornecer à polícia os códigos de acesso ao seu celular, que estava grampeado.

Além de confirmarem as preocupações de dois enfermeiros no bloco operatório, dois enfermeiros que tiveram acesso aos vídeos gravados afirmaram em declarações que a direção do centro não lhes deu quaisquer instruções sobre como proceder até que o paciente recebesse alta, um dia após a alegada crise. Por esta razão, embora inicialmente tenham instruído a não limpar a sala de operações, esta acabou por ter que ser desinfectada e colocada em funcionamento, embora estes especialistas tenham retido os detritos resultantes dos quais a polícia pôde recolher amostras biológicas. Também não realizaram exame ginecológico da paciente, embora tenham comentado isso pessoalmente, pois aguardavam as instruções que a direção lhes daria. Em seu depoimento, a enfermeira-chefe lembrou que o cirurgião, apesar de não estar de plantão, veio atender o paciente na noite da operação e assinou a alta no dia seguinte, o que, segundo ela, foi incomum.

O advogado da vítima, Raul Pardo Geijo, disse que as declarações do cirurgião “não esclarecem” o que poderá ter acontecido no bloco operatório porque contradizem as avaliações dos enfermeiros, e considerou necessário “um profissional qualificado e independente para sustentar uma tese” que vai além da “mera opinião pessoal e talvez interessada do arguido”.

Referência