A Comissão Europeia lembrou mais uma vez a Espanha que “a Huawei (e a ZTE) representam riscos significativamente mais elevados do que outros fornecedores 5G” e que, como instituição europeia, “está empenhada em evitar a exposição das suas comunicações corporativas às redes móveis utilizadas pela Huawei e pela ZTE”. A empresa chinesa sempre negou estas acusações e insistiu que as comunicações na sua infraestrutura são seguras.
O Ministério do Interior concedeu à Huawei o “Gabinete para o Armazenamento de Escutas Telefónicas Judiciais” por 12,3 milhões de euros. A decisão causou uma tempestade política na sequência de advertências da Comissão Europeia. Na altura, o Ministério do Interior defendeu-se dizendo que “a encomenda dos sistemas de armazenamento da Huawei não envolve qualquer risco de segurança e cumpre os níveis exigidos no Esquema de Segurança Nacional”.
No que diz respeito a este contrato em particular, a Comissão Europeia observa que “tem o potencial de criar dependência de um fornecedor de alto risco num setor crítico e sensível, aumentando assim o risco de interferência estrangeira”.
A Comissão considera também que “as decisões tomadas pelos Estados-membros da UE para restringir ou excluir a Huawei e a ZTE são justificadas”. Além disso, “apelou a todos os Estados-membros para que apliquem este conjunto de ferramentas e tomem medidas para reduzir os riscos associados a estes fornecedores”.
A posição da Comissão voltou a ser conhecida na sequência de uma pergunta parlamentar da vice-presidente do Grupo Popular Europeu e secretária-geral do PPE, Dolors Montserrat, que alertou sobre o contrato adjudicado pelo Ministério do Interior à Huawei para fornecer infraestruturas de armazenamento para o sistema SITEL, que gere escutas telefónicas forenses e cooperação policial internacional. Montserrat observou que o contrato põe em risco “a segurança jurídica e a integridade da cooperação internacional em matéria de inteligência, uma vez que depende de um fornecedor classificado como de alto risco pela UE”.
Na sua resposta, a Vice-Presidente Europeia para a Soberania Tecnológica, Segurança e Democracia, Henna Virkkunen, acrescentou que “A Comissão considerará de forma mais geral a segurança e a resiliência das cadeias de abastecimento de tecnologias de informação e comunicação (TIC) e das suas infraestruturas na próxima revisão do Regulamento Segurança Cibernética, a fim de evitar a dependência crítica de fornecedores de alto risco e reduzir o risco nas nossas cadeias de abastecimento de TIC”.
Para justificar os contratos governamentais com a empresa chinesa, o ministro da Economia, Carlos Bodi, observou que a China “é um parceiro estratégico. Devemos abrir o mercado chinês. E também precisamos de falar sobre segurança económica em termos de atrair investimento nos sectores onde dele necessitamos”.
Na semana passada, uma delegação espanhola, que incluía os reis de Espanha, o ministro do Corpo e o chefe dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albarez, deslocou-se à China para celebrar vários acordos económicos, culturais e científicos, bem como reforçar as relações bilaterais entre os dois países.
Em setembro, o governo espanhol anunciou que foi cancelado um concurso adjudicado à Telefónica, mas com equipamentos Huawei, para a construção da rede pública de fibra RedIRIS. A administração explicou que o novo concurso será aberto sem exceções e a empresa chinesa poderá apresentar-se, segundo a secretária de Estado da Digitalização, Maria González Veracruz. Por fim, a empresa chinesa ficará de fora apenas da parte da competição que corresponde ao Ministério da Defesa.
Não foi apenas a administração central que anunciou concursos para a tecnológica chinesa. Em Outubro, a Generalitat da Catalunha acaba de adjudicar à empresa Sirt, equipada com Huawei, um contrato de 127 milhões de euros para ligar todos os seus serviços e equipamentos públicos a uma rede de fibra óptica.