dezembro 11, 2025
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O Congresso mexicano aprovou um muro tarifário que o governo da presidente Claudia Sheinbaum imporá a partir do primeiro minuto de 2026 a vários países asiáticos. O Senado encerrou o processo legislativo sobre a iniciativa do presidente, já há seis meses, de reformar a Lei Geral do Imposto de Importação e Exportação e ajustar 1.400 linhas tarifárias para impor quotas que variam de 5% a 50% sobre mercadorias provenientes da China, Coreia do Sul, Índia, Vietname ou Tailândia, bem como de outros países que não têm acordos comerciais com o México. A mudança de direcção pretende preparar o caminho para uma renegociação do USMCA, um acordo comercial que cobre anualmente mais de 800 mil milhões de dólares em comércio entre os Estados Unidos e o México. Seria também uma fonte de receitas, ainda não quantificável, para o tesouro do Estado mexicano, que procura aumentar os seus recursos face a uma economia em desaceleração. As quotas tarifárias modificadas ascendem a 52 mil milhões de dólares em importações, o equivalente a 8,3% do total das importações em 2024, afirma o projecto.

Em meio à transformação, o Ministério da Economia de Marcelo Ebrard ganhou força. A Câmara dos Deputados somou-se às inúmeras alterações feitas ao projeto original de Sheinbaum com uma alteração de última hora antes de enviar o projeto ao seu homólogo. O ajuste deixa nas mãos da Secretaria a autoridade para implementar mecanismos e instrumentos jurídicos específicos para a importação de bens de países com os quais não existem acordos de livre comércio, a fim de garantir o fornecimento de recursos em condições competitivas.

Sem voto do Partido Trabalhista (PT), Morena e PVEM aprovaram aumentos tarifários para 17 setores estratégicos. Os afetados pelo impacto tarifário incluem autopeças, automóveis de passageiros, vestuário, plásticos, siderurgia, eletrodomésticos, brinquedos, têxteis, móveis, calçados, papel e papelão, motocicletas, alumínio, reboques e cosméticos. O bloco de oposição assumiu uma posição contraditória. O PAN e o PRI abstiveram-se, enquanto o Movimento Cívico se opôs. O PT trouxe para o debate a sua afinidade ideológica com a China para justificar a sua abstenção. Os membros do PT dizem que a medida pode ser contraproducente para o México na sua tentativa de se aproximar dos BRICS, um agrupamento de economias emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A trajetória legislativa do projeto foi rápida. Três dias foram suficientes para considerá-lo nas câmaras do Congresso. Isto causou o primeiro confronto entre o partido no poder e a oposição na câmara alta. “Estão mais uma vez a abusar da maioria comprada para evitar procedimentos”, disse o senador do PAN Marco Cortes, apresentando, sem sucesso, uma moção para suspender o debate. A deputada do PAN pintou também um cenário em que Sheinbaum tenta passar ao Legislativo uma decisão que é da sua competência como presidente sem exigir reforma: lavar as mãos, disse. “Se o presidente quiser nos entregar a responsabilidade, pelo menos nos dê tempo para revisá-la nos comitês. Trata-se de tarifas, do setor manufatureiro, de empregos, mas também de que os preços vão subir”, disse Cortes.

Morena defende veementemente a proposta do presidente, que sofreu alterações de 60% em relação à iniciativa original. Durante o debate, o partido no poder centrou-se nos méritos de várias alterações. “As trocas comerciais com estes países têm sido profundamente desiguais há mais de três décadas. O melhor exemplo é a China: o nosso défice comercial atingiu 120 mil milhões de dólares, seis vezes o registado em 2006. Isto é uma loucura, a China foi longe demais com o México”, disse Morenuast Ricardo Sheffield.

Da oposição, a linha discursiva tomou o mesmo rumo. Os legisladores do PAN, PRI e EMEC concordaram em várias questões, incluindo o facto de a reforma afectar os processos de produção do país e atingir os bolsos dos cidadãos. “O México não está pronto para prescindir desses recursos (por exemplo, a indústria automobilística). Isso ameaça indústrias que dependem 100% de insumos importados, como a indústria de brinquedos. Isso atingirá os bolsos dos mexicanos”, disse a senadora emecista Alejandra Barrales. O legislador recordou ainda o discurso do governo mexicano relativamente à introdução de taxas por parte da administração Donald Trump. “Levantou-se a voz para convencer o país vizinho (os Estados Unidos) de que não deveria aplicar tarifas aos produtos mexicanos porque, em última análise, é o consumidor do seu país quem paga, e aqui é o mesmo”, concluiu.

O PRI colocou a necessidade do governo de atrair investimentos no centro do debate e esta medida irá desencorajar essa medida. “Chega de assustar o investimento”, disse Cristina Ruiz, membro do PRI, citando o ex-vice-governador do Banco do México, Gerardo Esquivel. Os membros do PRI argumentam que um muro tarifário na Ásia não alteraria as perspectivas económicas do México nem impulsionaria a estratégia de investimento privado que Sheinbaum está a preparar.

As mudanças sujeitaram os produtos importados a um imposto que antes variava de 5% a 25%, mas agora pagará de 20% a 35% a mais. Para alguns produtos a participação chegará a 50%, incluindo produtos de maquiagem labial; fios de cabelo em geral, roupas de seda, produtos siderúrgicos, automóveis e transportes terrestres e algumas de suas peças e acessórios, entre outros. Outro grupo inclui bens anteriormente isentos de impostos que agora estarão sujeitos a impostos: produtos feitos de polímeros, plásticos, acetatos, celulose, papel, cartão, fios e tecidos, sapatos de madeira ou cortiça, e alguns tipos de brinquedos e maquetes. As mudanças entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2026.

Referência