novembro 19, 2025
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Todas as cimeiras sobre o clima precisam de uma história, e a realizada na cidade amazónica de Belém, no Brasil, não tinha uma história clara há algumas semanas, a não ser o facto de a COP30 estar a ser realizada num momento verdadeiramente desafiador para a luta internacional contra as alterações climáticas devido à ascensão do populismo negativo liderado por Donald Trump. Mas o anfitrião da COP30, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, abriu o evento com um melão suculento: Belém deve avançar com um roteiro para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis. E o apoio a esta iniciativa está a crescer na última semana da conferência patrocinada pela ONU.

Na terça-feira, cerca de vinte ministros decidiram mostrar publicamente o seu apoio em conferência de imprensa. Estiveram presentes representantes da Alemanha, Grã-Bretanha, Colômbia, Quénia… Também a Ministra da Transição Ecológica de Espanha, Sarah Aagesen. “Acho que conseguiremos isso”, explicou à imprensa após a conferência. “Agora é o momento de ultrapassar este ponto de viragem e alcançar algo concreto”, acrescentou o espanhol, falando da necessidade de avançar com este roteiro para deixar para trás os combustíveis fósseis.

Por enquanto, o projecto distribuído pelo Presidente do SC inclui a menção de um roteiro ou mapa do caminho a seguir. Também é mencionada a necessidade de acabar com a ajuda governamental aos combustíveis fósseis, outro ponto influenciado por Aagesen.

“O roteiro é importante”, explicou a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Irene Vélez Torre. Este país sabe bem disso, pois é produtor de petróleo e carvão e comprometeu-se a acabar com esta produção. É necessário um roteiro não só para combater as alterações climáticas (os combustíveis fósseis são a principal causa do aquecimento), mas também para garantir que os países produtores e cujas economias dependem destas exportações possam alcançar uma transição justa.

Por enquanto, a luta está centrada na obtenção de um mandato desta cimeira para desenvolver um roteiro para conferências subsequentes. Mas a simples menção aos combustíveis fósseis fez soar o alarme nas negociações sobre as alterações climáticas durante mais de três décadas. Porque desde que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, na qual se baseiam esta COP e o Acordo de Paris, foi assinada em 1992, tem havido conversas e leis aprovadas para impedir as emissões de gases com efeito de estufa. Mas as suas causas subjacentes, os combustíveis e a necessidade de se afastar deles, não foram explicitamente mencionadas até a cimeira de 2023 no Dubai. Lá, os países, para surpresa de muitos, concordaram em aceitar uma declaração que propunha deixá-los para trás.

No evento do ano passado em Baku, não foi possível restaurar esta menção. Na verdade, há apenas um ano, na abertura da COP29 em Baku, o anfitrião, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, chamou o combustível de “presente de Deus”.

Agora no Brasil, Lula lançou um desafio que mais de 20 países aceitaram publicamente como parte de uma iniciativa promovida pelas Ilhas Marshall. Espera-se que vários outros países adiram nas próximas horas. Alguns analistas estimam o apoio em mais de seis dezenas de pessoas.

Mas a chave não está naqueles que a subscrevem, mas sim naqueles que a rejeitam. Em nomeações anteriores, os países produtores de petróleo liderados pela Arábia Saudita bloquearam as menções ao petróleo, ao gás e ao carvão, argumentando que só deveriam falar sobre emissões. Por enquanto eles permanecem em silêncio. Mas Aagesen insistiu na terça-feira que o plano agora na COP30 é desenvolver o que já foi acordado na cimeira do Dubai: como deixar para trás os combustíveis fósseis, que estão a impulsionar a crise climática.