dezembro 10, 2025
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Muito antes de se tornar vereador, coordenador geral de política cultural da Câmara Municipal de Córdoba e diretor do Conservatório, Juan Miguel Moreno Calderón Ele era um pianista famoso e nunca parou de tocar música. Um exemplo é o festival Rafael Orozco.que promoveu e dirigiu durante duas décadas, ou uma dissertação dedicada ao intérprete cordovês.

Agora acaba de publicar, sob o selo Berenice, a obra “Pianistas que deixaram marca”, onde analisa a obra dos grandes instrumentistas deste instrumento ao longo do século XX, coincidindo com o período da grande gravaçãoCom.

-O que torna um pianista excepcional?

– A oportunidade de chegar ao público e que a experiência de ouvir este intérprete para o público seja duradoura.

-Qual dos personagens do livro você mais admira?

– Talvez porque desde criança eu estava muito acostumado a ouvir os discos dele, porque eram na casa do meu pai, no Rubinstein. Aí descobri Horowitz, que me fascinou, me fascina. E talvez pela sua completude, pela autenticidade das suas interpretações, Claudio Arrau. Acho que estes são os três pianistas históricos com quem mais me identifico. Mas há outros, como Curto. Recentemente, muitos pianistas da escola russo-soviética, especialmente Richter, Dillers e Ashkenazy.

-Tudo é técnico durante a tradução?

– Não, não, não. A tecnologia é um meio de subsistência. Quando você tem equipamento completoé quando você consegue expressar a música da maneira que achar melhor. Como disse Newhouse, a segurança é a base da liberdade. Se você tiver segurança técnica, poderá escolher livremente como realizar a interpretação. Se você estiver limitado, a interpretação dependerá de você restriçõesmas isso não pode ser.

-Existe alguma inspiração?

-Cada momento é único porque a música acontece num determinado momento. Devemos pensar que, ao contrário de outras artes, que podemos contemplar a qualquer momento e que são permanentes, a música é momento. Por esta razão, em muitos casos também não podemos tornar as gravações sagradas porque permitem múltiplas tomadas. Na vida real, quando vamos a um concerto, é um momento único e irrepetível. É por isso Glenn Goulda certa altura disse que não ia fazer concertos porque procurava a perfeição e pensou que a oportunidade que sempre existe num determinado momento não lhe poderia ser dada. Estas são duas visões diferentes. Há, pelo contrário, outros pianistas que não gostavam de estúdios de gravação porque se sentiam muito mais confortáveis ​​​​diante de um público, e porque o público transferia para eles essa energia e força para criar música. A inspiração é muito importante, mas o controle é igualmente importante.

-O pianista senta-se ao piano em frente à partitura, antes de um concerto ou sonata. A que percentagem corresponde o que o compositor não fez?

– Esta é uma grande questão que sempre pairou sobre o conceito de interpretação. É aqui que termina o trabalho do compositor, que deixa a sua vontade na partitura, que tem muitas restrições. O mediador, o intérprete, deve recriá-lo, dar-lhe vida. Na era romântica, quando tudo girava em torno da figura intérpretehavia muitas liberdades e uma forma de interpretação baseada no gosto e na forma como o tradutor o via. Com o objetivismo dos anos 50, com autores como Pollini e Ashkenazi, existe uma mentalidade em que o texto original está no centro de todas as atividades interpretativas. Quando se trata de partituras originais, o intérprete deve estar o mais informado possível, o que chamamos de historicamente bem informado. Informações fornecidas manuscritos originais e primeiras edições para ter as informações mais precisas possíveis sobre o que você acha que o compositor quis dizer. São como dois pólos pelos quais passou o sentido da interpretação geral.

-Onde está a margem? Porque uma nota é uma nota, e uma colcheia deve ser uma colcheia, não uma semínima ou semicolcheia.

-Não importa o quanto você dê instruções sobre andamento, dinâmica, lógica, fraseado, articulação, a partitura ainda pode ser esclarecida ou complementada, mas elas permanecem gráficos que não têm vida própria. Você deve dar-lhes vida. E isso mostra a grandeza do intérprete quando lhe dá vida, e que respeita o compositor, é convincente e, além disso, é capaz de transmitir ao público essa genialidade do compositor. Há quem consiga mais e há quem consiga menos. Este debate permanecerá para sempre. É por isso que falamos de pianistas mais ortodoxos, e também de pianistas personalistas, individualistas e muito pouco ortodoxos. Geralmente existem cânones interpretativos muito bem estabelecidos, e quando há alguém que de alguma forma os desafia ou oferece alternativas, geralmente causa uma grande impressão. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1955, quando apareceu a gravação de Glenn Gould das Variações Goldberg de Bach. Foi como uma batida, algo que abalou o mundo da música. Ele tinha uma visão de Bach completamente diferente da dos pianistas anteriores, como Edwin Fischerpor exemplo, quem foi o primeiro a gravar “Well-Tempered Clave”.

“Não importa o que o regime da URSS nos parecesse, eles tinham tudo absolutamente certo na educação musical e especialmente no piano.”

-Como você apresentou o livro?

-São perfisretratos musicais destes 42 pianistas. Obviamente, estas não são biografias típicas porque 400 páginas não teriam espaço suficiente, mas sim sobre a representação musical do artista, quais são os seus pontos fortes, onde mais brilhou, porque tem um lugar na história, porque deixou a sua marca. Isto é conseguido através do entrelaçamento de opiniões e informações e, sobretudo, com um suporte muito amplo nos meios fonográficos. É por isso que decidi trabalhar com o século XX, porque no século XIX há pianistas fantásticos sobre os quais sabemos muito, mas sobre os quais não temos documentos fiáveis, porque não existiam. Valor fonografiamas como fonte é o mais importante para nós, isso é indiscutível.

– Há alguma surpresa?

– Tem um significado cronológico, começando com Rachmanínovque todos conhecem como compositor, mas muitos não sabem que foi um pianista muito famoso de sua época, e daí 42 dos muitos pianistas que desempenham um papel importante nesta história. Eles representam todas as grandes gerações de pianos que existiram no século XX. E em torno daqueles retratos musicais Entrelaçam-se as opiniões e informações destes pianistas, são dadas recomendações de gravações que podem ser particularmente dignas de nota, e são introduzidos temas relacionados com o conceito da escola, com a evolução da interpretação, com a forma como foi concebida a interpretação de Bach ao piano, tendo em conta o facto de Bach compor para instrumentos de tecla anteriores. Falam da relação entre a mulher e o piano, que hoje é um tema muito normalizado, mas que noutros tempos não era tão normal, e por isso há tantos mais pianistas homens. Também fala sobre como eles influenciaram certos regimes políticos, especialmente o nazismo e o União Soviética. Depois haverá perguntas mais específicas. Por exemplo, o conceito de Chopin, que existe desde Rubinstein, até aquele que existia nos pianistas anteriores. São discutidos pontos particularmente interessantes, como quando Ashkenazi consegue deixar a União Soviética sem desertar, e como a União Soviética, já sob Khrushchev, estava aberta a permitir que os seus melhores pianistas viajassem para o Ocidente, algo que não acontecia na época de Estaline.

– A política influenciou isso?

“Aparece no sentido de como condiciona a vida dos artistas, dado, por exemplo, que a escola russo-soviética era formidável. Qualquer que fosse o regime comunista URSSé claro que eles conseguiram ensinar música e principalmente tocar piano, porque os pianistas russos venceram todas as competições internacionais nas décadas de 50 e 60. Também se fala sobre competiçõesQuão importantes eles são? Há interrupções na carreira, em alguns casos por doença, noutros por morte, e noutros porque as próprias características da carreira de tradutor estão muito sujeitas a altos e baixos, depende do gestor, da promoção e de muitas circunstâncias.

– A que público você se dirige?

-Procuro apelar a um público alargado, naturalmente, aos amantes da música clássica e do piano, mas não do ponto de vista académico, mas sim a um nível muito informativo. É sobre transferência interesse para o leitoristo é, um leitor que se interessa por música, que vai a concertos, que vai a um festival de piano, que vai a uma orquestra. Hoje temos acesso a quase tudo. É preciso ter em conta que os jovens pianistas têm uma cultura pianística muito recente, um fenómeno da atualidade, mas o sentido da história perde-se com o novo método tecnológico de produção. Passamos o dia e perdemos a perspectiva do tempo. Pode ser útil para professores e alunos do conservatório, amantes da música, bem como para quem entende mais e para quem entende menos. Este livro é muito aberto para compartilhar o meu com outras pessoas. paixão para piano e para pianistas.