dezembro 1, 2025
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A Federação das Associações das Administrações Civis Superiores do Estado (Fedeca) vê “fraude jurídica” no acordo salarial governo-UGT e CSIF, que prevê um aumento de 11% de 2025 para 2028. Foi assim que o definiu na segunda-feira a presidente desta associação de altos funcionários do governo, Ana Ercoreca, dado que o acordo extravasa o órgão legislativo. “A obrigação é calculada para o período de 2025 a 2028, o que constitui uma fraude à lei, pois estamos a falar de algo que ultrapassa o âmbito da legislatura”, acredita ainda o presidente do Sindicato dos Inspetores do Trabalho e da Segurança Social.

“O governo deve comprometer-se a criar a legislatura que temos agora até 2027. Falar sobre o futuro em 2028 quando não sabemos quais serão as perspectivas é, na nossa opinião, uma fraude à lei. Deve ser protegido pelo Congresso”, acrescentou Erkoreka. O último acordo salarial dos funcionários, assinado em 2022, foi prorrogado até 2024. O pacto também ultrapassou o limite previsto pela legislatura, que, em princípio, expiraria no final de 2023.

Tirando esta discrepância na duração do acordo, a Fedeca avalia o aumento como “positivo”, mas ao mesmo tempo tem oposição fundamental: critica que não tenha em conta a inflação real, mas sim uma previsão da evolução dos preços.

Assume um aumento acumulado de 11% (até 11,4% depois de considerado o impacto nos prémios, segundo cálculos do sindicato). O aumento para 2025 será de 2,5%, com aplicação retroativa a 1º de janeiro. Em janeiro de 2026, os salários aumentarão mais 1,5%, portanto, somando os dois aumentos, no início do próximo ano o aumento salarial será de 4%. Acrescenta-se uma variável de 0,5%, associada ao IPC de 2026 ser igual ou superior a 1,5% nesse ano. Neste caso, este meio ponto deverá ser pago durante o primeiro trimestre de 2027, retroativo a 1 de janeiro de 2026, e será deduzido do aumento de 2027, que será fixado para esse ano em 4,5% (5%, a menos que este meio ponto seja transportado para o ano anterior). Os 2% restantes serão arrecadados em 2028.

Ercoreca acredita que o aumento “não será nada” se o índice real de preços ao consumidor não for levado em conta. Ou seja, a sua associação acredita que possíveis aumentos associados à evolução dos preços não serão capazes de compensar o aumento inesperado do IPC. “Os aumentos anuais que estão a ocorrer não têm em conta o IPC real”, criticou Erkoreka. Assim, a Fedeca propõe uma reavaliação semelhante à reavaliação das pensões, que tem em conta a inflação acumulada de cada ano, em vez de uma previsão como a prevista no acordo entre os governantes e o governo.

“Se não acompanhar o crescimento do IPC, então não será um crescimento real. Isto significará uma perda de poder de compra. Devemos ter em conta a volatilidade dos preços da energia e os elevados preços da habitação que afectam os jovens”, comentou Ercoreca, antes de destacar as dificuldades dos funcionários públicos que se mudam para cidades como Madrid ou Barcelona (com preços de habitação acima da média) no início da carreira. “Apreciamos que haja uma trajetória ascendente, mas queremos que esteja vinculada ao IPC real”, concluiu Erkoreka.

O presidente da Fedeca referiu ainda que “o tempo de espera pelas ofertas de emprego do governo está a diminuir”, e este atraso, se persistir, acredita Ercoreca, leva à “ineficiência” da administração pública.